Entrevista

Rodrigo Pacheco prega a pacificação caso seja eleito presidente do Senado

Parlamentar diz que a política brasileira carece de respeito às divergências e diferenças, o que ele pretende mudar se for eleito para o comando da Casa. Questionado se aceitaria pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, rejeita falar sobre hipótese

Guilherme Peixoto
Matheus Muratori
postado em 24/01/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press                         )
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )

Senador de primeiro mandato, desde o início de 2019, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de 44 anos, é um dos candidatos à Presidência da Casa legislativa. Apoiado pelo atual comandante do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o parlamentar diz ter aceitado o desafio após ser apontado, por colegas, como nome ideal para suceder o amapaense. Com amplo leque de apoio, que vai do PT ao presidente Jair Bolsonaro, ele crê que pode, por meio do diálogo, impulsionar a construção de políticas de desenvolvimento social e crescimento econômico. “Todos querem geração de emprego, a vacina o mais rapidamente possível e o crescimento da economia com os melhores índices”, afirma, referindo-se à diversidade que marca o cordão em torno do nome dele. Nesta entrevista, o senador comenta as articulações para garantir os 41 dos 81 votos necessários para se eleger e apresenta as metas da gestão, caso seja eleito.


Pacheco é adepto do que chama de “mineiridade”. Conciliador, quer pacificar o Senado e unir a Casa em prol de pautas positivas para o país. Embora reconheça o prejuízo causado por manifestações antidemocráticas contra Legislativo e o Judiciário, confia na defesa do regime republicano. “Não se conseguirá agradar a todos, e há bolhas de irracionalidade que não se consegue convencer na base do diálogo e da demonstração daquilo que é o real”, admite. “A representação popular se dá por Câmara e Senado”, destaca. O senador diz que Bolsonaro tem “erros e acertos”, mas prega a soma de esforços pela superação dos problemas impostos, sobretudo, pela pandemia. Quando questionado sobre a postura ante eventual processo de impeachment do presidente, ele adota cautela. “Como senador, e buscando ser presidente do Senado, não me permito falar por hipótese sobre um assunto como esse.”

 

O que levou o senhor a tentar a Presidência do Senado?
Surgiu diante da impossibilidade da reeleição do presidente Davi Alcolumbre. (Foi) uma percepção dele e de outros senadores que eu teria o perfil para preencher esse cargo, para disputar a Presidência do Senado. Houve apoio, naquele momento, dos senadores de Minas Gerais. Depois que consegui apoio do Democratas, indicação do Alcolumbre, de outros senadores e da bancada mineira, pude viabilizar minha candidatura. Não partiu de mim (o desejo de disputar). O partido, os senadores da sigla, o próprio Alcolumbre e parlamentares de outras legendas, em uma reunião, disseram que o meu perfil era o adequado para assumir esse espaço importante. Uma vez indagado a respeito disso, aceitei o desafio e cá estou como candidato.

Seu leque de apoios vai do PT a Bolsonaro — e o Republicanos, partido de Flávio. Como equilibrar as demandas e compromissos vindos de tantos grupos diferentes?
O exercício da Presidência do Senado não é o de uma ideologia ou de um partido político. É um cargo que exige equilíbrio, moderação, ponderação, cumprimento da Constituição, respeito ao Estado democrático de direito e capacidade de diálogo. Esses partidos, de diversas áreas ideológicas, direita e esquerda, oposição e base do governo, quando se somam a uma candidatura em comum, (formam) uma circunstância que permite — e isso é muito positivo — que haja, depois, alguém que possa ser magistrado dessas relações. Que possa convergir, buscar consensos e respeitar as divergências. E, se não houver consenso em relação a determinadas matérias, será alguém que vai ter isenção e submeter ao plenário, para que vença a maioria no debate sobre cada um dos temas. Em vez de perceber isso com estranheza, vejo com grande responsabilidade. Queremos pacificação a partir dessa pacificação do Senado. O tom tem que ser de pacificação. Está faltando, na política brasileira, a mineiridade, que é a capacidade de entrar em consenso, interpretar e respeitar divergências e diferenças e entender que, de um lado ou do outro, há uma pauta comum, de interesse do Brasil. Todos querem geração de emprego, a vacina o mais rapidamente possível e o crescimento da economia com os melhores índices. Cada um pensa de uma forma, há divergências, mas há um sentimento em comum da política que é gerar o bem-estar do cidadão. O que farei como presidente do Senado, caso chegue lá, é a mediação para que se chegue a um denominador comum, respeitando as diferenças e a independência do Senado.

Vivemos tempos em que correntes extremistas tentam desacreditar Legislativo e Judiciário. O que fazer para mostrar à população que o Senado age de forma independente?
(É preciso) demonstrar à sociedade que temos uma Constituição Federal, uma obediência e busca da preservação do Estado democrático de direito, que tem de ser observado. Temos de defender a República, o princípio dela, inclusive, a moralidade pública e a ética, que se exige muito. É perfeitamente possível fazer o nosso trabalho e que ele seja respeitado pela sociedade. Não se conseguirá agradar a todos, e há bolhas de irracionalidade que não se consegue convencer na base do diálogo e da demonstração daquilo que é o real, mas tenho absoluta convicção de que a sociedade brasileira, no geral, espera de um presidente do Senado alguém equilibrado, aberto ao diálogo, que respeite o presidente da República e o Supremo Tribunal Federal (STF), mas que tenha a firmeza necessária de afirmar as convicções do Parlamento. No final das contas, a representação popular se dá por Câmara e Senado.

Na Câmara, Rodrigo Maia recebeu uma série de pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Se algum desses processos chegar ao Senado, como pretende agir?
Não podemos banalizar o instituto (do impeachment). É sério, grave e abala as estruturas do país. Recentemente, tivemos dois processos de impeachment, e isso é página triste da história do Brasil. Temos de ter muita cautela e responsabilidade ao tratar de impeachment. Como senador, e buscando ser presidente do Senado, não me permito falar por hipótese sobre um assunto como esse. É preciso que haja algo concreto que justifique e, obviamente, caberá à Câmara dos Deputados essa análise. Caso venha a surgir algo concreto em relação a isso, no momento oportuno, o Senado deverá se pronunciar.

Como avalia o governo Bolsonaro?
Avalio com erros e acertos, como todo governo. Como senador e como presidente do Senado, caso o seja, vou buscar ajudar o governo federal a fazer as melhores políticas públicas para o Brasil, ressalvando e resguardando sempre a independência do Senado e nossas convicções, mas temos de ser colaborativos. É um processo de pacificação. É preciso que o passado fique no passado e que, no futuro, possamos valorizar aquilo que mais interessa à sociedade brasileira: uma política pública adequada de crescimento econômico, desenvolvimento social e para a saúde pública no combate à pandemia. Seremos sempre colaborativos, com a ressalva da independência do Senado.

O senhor tem o apoio de nove partidos. Isso, em tese, possibilita 41 votos. Como
evitar possíveis traições?
Não há uma estratégia predefinida, estabelecida e estudada sobre isso. O que temos feito é conversar, muito abertamente, com senadores e senadoras. Já angariamos o apoio de alguns partidos à nossa candidatura. Temos otimismo com a eleição em fevereiro, mas, até lá, o diálogo permanece. O voto pertence a cada senador. Por isso, é preciso buscá-los com bastante transparência e propostas consistentes para o Senado.

Para garantir o apoio do PSD, segunda maior bancada do Senado, o senhor esteve na casa de Alexandre Kalil (prefeito de Belo Horizonte). Interlocutores presentes ao encontro dizem
que o senhor abriu mão de tentar o governo, em 2022, para conquistar o aval dos pessedistas. Como isso ocorreu?
Quando afirmamos a candidatura, não formalmente, mas quando decidimos, tive uma convicção pessoal, íntima, de que assumir a Presidência do Senado, pelos próximos dois anos, com muitos desafios, saindo de uma pandemia, vai exigir uma energia concentrada, um foco absoluto no trabalho do Senado. Compreendi que não é correto sentar na cadeira de presidente do Senado pensando em um projeto político local para o governo de Minas. Por isso, afirmei a todos os senadores, aos partidos, inclusive o PSD, de Anastasia (Antonio Anastasia), Viana (Carlos Viana) e Kalil essa minha percepção, de que a Presidência do Senado e a candidatura ao governo do estado seriam incompatíveis. Foi isso o que aconteceu. Não houve qualquer compromisso à pauta futura. E, buscando a Presidência do Senado, não me permito, neste momento, discutir política eleitoral para 2022. Haverá tempo próprio para discutir isso. Tem uma pandemia para tratar aí.

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