Legislativo

Adversários de Arthur Lira usarão má gestão da crise sanitária para vencer na Câmara

Adversários do governo vão tentar usar a má gestão da crise sanitária para vencer o candidato apoiado por Bolsonaro, Arthur Lira, que, por sua vez, tem a máquina pública do seu lado e cargos a oferecer, o que pode favorecer a recondução dos deputados em 2022

Luiz Calcagno
postado em 25/01/2021 06:00 / atualizado em 25/01/2021 06:27
 (crédito: João Batista/Camara dos Deputados)
(crédito: João Batista/Camara dos Deputados)

Retaliações, ataques pessoais e a má gestão da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus são algumas das cartas nas mãos dos principais adversários na batalha pela Presidência da Câmara. Nesta última semana de campanha, Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ), vai engrossar o discurso para destacar a “incompetência” de Jair Bolsonaro no combate à pandemia e relacioná-lo ao líder do Centrão e candidato do Planalto na corrida, Arthur Lira (PP-AL), seu principal adversário.


Lira, por sua vez, já deu o recado. Quem tem cargo no governo e apoia Baleia perderá a vaga. Foi o que aconteceu com o deputado Áureo (SD-MG), que teve três indicados extirpados do Executivo. Exímio articulador, o líder do Centrão tem a máquina do Estado a seu favor e deve levar a disputa aos minutos finais. Até 1º de fevereiro, Maia e Baleia também vão fortalecer o corpo a corpo e buscar apoio de governadores, considerados importantes para a reeleição dos parlamentares em 2022.


Além da dupla, disputam a presidência da Casa os deputados General Peternelli (PSL-SP), Capitão Augusto (PL-SP), Fabio Ramalho (MDB-MG), André Janones (Avante-MG), Marcel Van Hattem (Novo-RS), Alexandre Frota (PSDB-SP) e Luiza Erundina (Psol-SP). À espera de uma surpresa no placar, o grupo da terceira via também segue no mano a mano com deputados. Se os candidatos não tiverem como vencer no primeiro round, podem, ao menos, levar a disputa para o segundo turno. Analistas veem Lira em uma posição de vantagem, mas o risco de novos colapsos nos sistemas públicos de saúde no Pará, em Rondônia, em Roraima e no Rio de Janeiro, a exemplo do ocorrido em Manaus (AM), pode ser um revés.


Doutor em Ciência Política, professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Ricardo Ismael destaca que Lira está em posição relativamente confortável. Bolsonaro seguirá dependendo do Centrão e Baleia não romperá com o adversário ou com o grupo. “Porém, Baleia Rossi é um candidato competitivo”, avalia. “Agora, Maia vai tentar, principalmente nos últimos dias, conversar ainda mais com partidos e lideranças, para consolidar a vitória. Ele joga com o desgaste do governo, até para intimidar os deputados a declarar voto em Arthur Lira. O contexto dos últimos dias é de um Bolsonaro na defensiva e de dificuldade dos deputados saírem em defesa do governo”, analisa.

Bolha


O cientista político lembra que o pleito também mira 2022. De um lado, os cargos no governo que Lira poderá oferecer favorecem a reeleição. Maia, por sua vez, poderá sair como vice-candidato em uma chapa na disputa pela Presidência da República ou se candidatar ao governo do Rio. Para isso, ficaria com um cargo de destaque oferecido pelo seu candidato, Baleia Rossi. Por fim, Ismael acredita que o cenário ainda é cinzento e os deputados se comprometerão com os dois lados antes de decidirem em quem votar.


Nos próximos sete dias, a tendência é de que aumente a exposição pública dos candidatos e de que ataques pelas redes sociais também se intensifiquem, avalia o analista do portal Inteligência Política Melillo Dinis. “O que me preocupa é que 2021 vai ser um ano duríssimo”, alerta. “Vai aumentar a fome. A covid-19, em Manaus, está descontrolada, e cenários semelhantes começam a ocorrer em outras cidades. A economia será retomada em ‘K’, quando o andar de cima cresce e a grande massa da população segue jogada na miséria. Será necessário um Congresso capaz de dar resposta a isso”, afirma. “O que vai ser colocado nos próximos dias é qual o projeto dos candidatos, pois estão vivendo na bolha da eleição do Congresso.”


Outra variável do jogo, na última semana, é a falta de consenso nas bancadas. Por mais que as lideranças partidárias criem uma coalizão de 11 partidos em torno de Baleia, não há consenso entre os parlamentares. “Na decisão do PT de apoiar o Baleia, os favoráveis ganharam por quatro votos. E, depois, tem o voto secreto. Não vai ter punição para quem votar no Lira”, assinala o analista político da Consultoria Dharma, Creomar de Souza. Um exemplo é o PSol, que rachou na votação e as disputas do partido recrudesceram depois que Erundina postou nas redes sociais que os colegas favoráveis a apoiar Baleia estariam interessados em cargos.


“Há a possibilidade de o governo levar a Câmara e o Senado, porque entrou pesado na disputa. Lira está rodando o país, conversando com bancadas para garantir o que desejam. O nível de traição será alto”, destaca. Para ele, é preciso saber se a ofensiva de Baleia, ligando Lira a Bolsonaro e à crise sanitária, vai reverberar. Nesse caso, Lira estaria na posição de um deputado submisso ao presidente.

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