CB.PODER

Professor Israel vê pouca chance de impeachment: "Legislativo está cauteloso"

Professor Israel classifica gestão de Bolsonaro como "governo do absurdo", devido à condução da crise sanitária e pelos equívocos na política externa que afetam o combate à pandemia. Mas considera improvável que o processo ande na Câmara

Edis Henrique Peres*
postado em 26/01/2021 06:00
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

O deputado federal Professor Israel (PV-DF) defendeu, ontem, que há motivos jurídicos concretos para a abertura do processo de impeachment de Jair Bolsonaro e que isso será suficiente para causar um crescimento do movimento pelo impedimento junto à sociedade. Em entrevista à jornalista Denise Rothenburg no programa CB.Poder — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília ––, ele disse que caso o deputado Arthur Lira (PP-AL) vença Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela Presidência da Câmara, seriam remotas as chances de ele acatar e fazer andar algum dos pedidos de impeachment de Bolsonaro.

“Acredito que simplesmente arquivaria esses pedidos de impeachment. Lira é um deputado que tem muitas relações no Congresso Nacional e negocia a sua eleição apoiado pela máquina da Presidência da República e dos ministérios. Ele tem negociado cargos, está comprometido com o governo. E quem se compromete com esse governo, se compromete com o erro”, definiu Israel.

“Instalou-se, no Brasil, o governo do absurdo. Bolsonaro, além de todos os seus erros na condução da pandemia, é o único chefe de Estado a dizer que as eleições nos Estados Unidos foram fraudadas e os impactos disso já são sentidos”, analisou Israel, salientando o isolamento do país e as dificuldades de negociação com a China para a chegada de vacinas e insumos para a produção de imunizantes.

Segundo o parlamentar, a insatisfação crescente –– manifestada pelos panelaços que vêm acontecendo e as carreatas a favor do impeachment –– vai se fazer presente na disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, no dia 1º de fevereiro. “Nós não queremos que essa eleição seja contaminada por um tema que precisa ser analisado com muito cuidado, mas é claro que precisamos dizer ao Palácio do Planalto que o Congresso está vigilante. O Legislativo ainda está cauteloso quanto a uma posição sobre o impeachment”, salientou.

Israel admite que a retirada de um presidente do poder pelo impedimento é um processo doloroso, sobretudo porque seria o terceiro do Brasil, e que haveria reflexos sobre a estabilidade das instituições do país. Mas a quantidade de erros que Bolsonaro e seus ministros vêm cometendo, sobretudo quando se vive uma pandemia, justificaria uma solução radical.

“A sucessão de erros tem levado à conclusão de que, talvez, o pior dos problemas seja a manutenção de um governo temerário, que insiste nos erros e se recusa ao aprendizado. Estamos no terceiro ano do mandato de Bolsonaro e ele ainda age de maneira infantil. As declarações do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mostram que o governo se cercou de bajuladores que não possuem coragem de apresentar soluções técnicas ao presidente, porque temem uma reação tirânica dele”, explicou.

* Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

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Bolsonaro desdenha manifestações

Apesar dos 61 processos de pedidos de impeachment contra ele, na Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro ironizou as carreatas que, no último final de semana, pediram sua saída da Presidência da República. Apesar de terem sido realizadas em várias cidades, aos apoiadores ele citou apenas a ocorrida em Campo Grande. Segundo ele, havia uns “10 carros” protestando a favor de sua saída do cargo.

“Vi uma carreata monstro contra mim, de uns 10 carros”, desprezou, em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.

Em Brasília, com gritos de “Fora Bolsonaro” e buzinaço, centenas de carros saíram às ruas. A mobilização ocorreu no Eixo Monumental e na Esplanada dos Ministérios. No Rio de Janeiro, também houve carreata pedindo o afastamento do presidente, assim como em Porto Velho (RO), Cuiabá (MT) e Minas Gerais (MG). No domingo, Bolsonaro passeou de moto e não respondeu sobre a queda de popularidade do governo, segundo a pesquisa do Datafolha, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. A sondagem, divulgada no último dia 22, mostrou aumento na reprovação do governo, que passou de 32% para 40%. A aprovação também caiu, indo para 37% para 31% em dezembro.

A redução de apoio a Bolsonaro se manifesta, inclusive, na Câmara dos Deputados. Levantamento do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), produzido pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mostra que ele contou com uma base de votos menor do que a de antecessores nos dois primeiros anos de mandato. Mesmo com o apoio de partidos do Centrão e o alinhamento maior de deputados desse bloco ao Palácio do Planalto, a adesão supera apenas a observada durante o governo de Dilma Rousseff pouco antes do impeachment, em 2016.

Os dados mostram que, na primeira metade do mandato, Bolsonaro teve, em média, apoio de 72,5% na Câmara. O índice considera o alinhamento dos deputados com a liderança do governo em todas as votações, excluindo aquelas nas quais houve consenso, como o decreto de calamidade pública para enfrentar a pandemia de covid-19.

Apesar de ter maioria na Câmara para aprovar projetos, o presidente enfrenta dificuldades. Isso porque o porcentual de 72,5% indica que o apoio parlamentar ao governo é inferior à base que sustentava seus antecessores desde a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2006 e 2007 a 2010).

A média de apoio ao governo em votações nominais na Câmara no primeiro mandato de Lula, por exemplo, foi de 77,1% até junho de 2004. Já o ex-presidente Michel Temer, que assumiu o governo após o afastamento de Dilma, obteve respaldo de 73,7% dos deputados. Nos meses que antecederam o impeachment de Dilma, no entanto, a adesão ao governo petista era de 58,2%.

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