Depois de cumprir um mandato como deputado estadual pelo pelo PP no Rio Grande do Sul, Marcel Van Hattem filiou-se ao Novo em 2018 e, naquele mesmo ano, elegeu-se deputado federal. Com 35 anos, o parlamentar foi o nome escolhido pelo partido para concorrer à Presidência da Câmara — a legenda conta com oito integrantes na Casa. Na corrida pelo cargo, porém, os principais concorrentes são Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP).
Ao Correio, Hattem, autodenominado liberal-conservador, afirmou que, se eleito, vai mudar a imagem da Câmara, pautará reformas e avançará com temas como prisão após condenação em segunda instância e adoção do voto impresso no sistema eleitoral. Confira os principais trechos da entrevista:
O senhor tem colocado sua candidatura como opção para deputados descontentes com os demais postulantes ao cargo, mas sabemos que a Câmara funciona por acordos partidários, e a sua legenda não tem muitos representantes. Como pretende atender a todos os parlamentares das diversas ideologias?
Quero mostrar para o país e para os meus colegas deputados que é possível ter uma agenda mais propositiva do que essa dos últimos tempos. É verdade que algumas coisas avançaram. Tivemos a aprovação da reforma da Previdência, o marco do saneamento, mas houve retrocessos nas pautas de combate à corrupção e outras que não foram nem debatidas. Hoje, o poder é muito concentrado nas mãos do presidente, e a gente precisa dar mais chances para os demais colegas. O Novo é um partido pequeno. De fato, temos apenas oito deputados federais, mas já apresentamos resultados palpáveis. Esse diálogo que tivemos, nesses dois anos dentro da Casa Legislativa, é o que queremos manter.
Deputados já se manifestaram dizendo que não estão satisfeitos com os dois principais candidatos na disputa. O senhor acredita que pode se beneficiar dessa polarização?
Estou sendo muito bem recebido pelos colegas, vários dizendo que gostam da postura do Novo na Câmara e entendem que, de fato, a gente pode ter um diálogo melhor por meio da nossa candidatura. Os outros dois candidatos estão numa polarização muito grande, o que acaba dividindo a Casa de uma forma negativa.
Então, o senhor pode se beneficiar das traições partidárias?
Sem dúvida. Muitos deputados estão declarando voto de forma individual, mas não querendo se expor. Os acordos têm sido feitos entre as lideranças partidárias, mas os parlamentares não estão sendo ouvidos. É possível deputados de partidos que já declararam voto aderirem à minha candidatura. Eu não diria que essa será a eleição da traição, é uma eleição da convicção. O voto é individual, e o parlamentar escolhe quem ele quer. Será um voto de consciência.
Muitos deputados desta legislatura elegeram-se com o discurso de que iam defender a prisão em segunda instância. O senhor já disse ser favorável à proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata do assunto. Se eleito, vai pautar a matéria?
A minha candidatura é a única que tem compromisso total com a PEC da prisão em segunda instância. Sem dúvida, vamos pautá-la. O deputado Alex Manente (autor da proposta) fez um excelente trabalho ao apresentá-la. Tenho convicção de que, pautando, a PEC passa e com maioria. Essa é uma demanda popular, da qual o Congresso não pode mais se eximir.
Nos últimos dias, a questão do impeachment do presidente Jair Bolsonaro voltou a ser levantada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Esse tema poderia ser discutido na sua eventual gestão?
O impeachment é uma ferramenta que deve ser utilizada apenas em casos extremos. No Brasil, usamos duas vezes: no caso do (Fernando) Collor e da Dilma Rousseff. Na situação atual, precisamos avaliar os pedidos já protocolados. Se, de um lado, Rodrigo Maia está dizendo que precisa ser rediscutido o assunto, ele mesmo afirmou, em diversas entrevistas, que, entre os pedidos já protocolados não enxergou crime de responsabilidade. E isso é o mais importante. Se nós vamos tratar de impeachment, é preciso que haja clareza sobre qual crime de responsabilidade se está debatendo para que haja admissibilidade. Tendo crime de responsabilidade claramente definido, é meu dever, como presidente da Câmara, abrir um processo de impeachment. Isso, independentemente de quem seja o presidente da República.
Tramita no Congresso uma PEC que trata sobre a inclusão do voto impresso às urnas eletrônicas. O tema é defendido pelo presidente Bolsonaro e seus apoiadores. O senhor acha plausível discutir algo nessa linha na Câmara?
Isso é um tema que cabe ao Congresso, e o Supremo (Supremo Tribunal Federal) erra quando legisla. Infelizmente, nesse assunto, já vimos que o Supremo desfez uma decisão do Legislativo. Eu entendo que toda eleição precisa ter o máximo de confiança da população. O nosso processo eleitoral tem sido um exemplo para o mundo. Eu sou deputado federal eleito por esse sistema de urnas eletrônicas, mas eu defendo que, quanto mais idoneidade no processo, melhor. Se o voto impresso ajudar nisso, ótimo. Se continuarmos com a celeridade da apuração da urna eletrônica e tivermos uma forma de ter uma recontagem dos votos em caso de discordância ou desconfiança, é importante que essa possibilidade exista. Eu sou favorável, e entendo que essa é uma decisão que cabe ao Congresso. Caso uma matéria nesse sentido seja pautada, fica nas mãos do Parlamento decidir qual é a melhor decisão.
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