POLÍTICA

Lira é cada vez mais favorito para vencer disputa pelo comando da Câmara

Na opinião de aliados, Lira deve derrotar seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), já no primeiro turno da eleição

Luiz Calcagno
Wesley Oliveira
postado em 30/01/2021 06:00
 (crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
(crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Líder do Centrão, o deputado Arthur Lira (PP-AL) foi responsável, ainda em 2019, por construir uma base para o governo Bolsonaro na Câmara. Agora, candidato à Presidência da Casa, o parlamentar alagoano chega como favorito para vencer a disputa devido à forte atuação do Palácio do Planalto pelo nome dele.

Na opinião de aliados, Lira deve derrotar seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), já no primeiro turno da eleição, marcada para segunda-feira. Na conta dos parlamentares, o candidato terá número superior a 300 votos, enquanto o emedebista deve somar pouco mais de 200 votos. São necessários, ao menos, 257 para eleger-se presidente da Câmara.

Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter assumido somente nos últimos dias que Arthur Lira é o candidato dele ao comando da Câmara, articuladores do Executivo estão trabalhando desde o começo de janeiro em prol da campanha do deputado. No balcão de negociações, o Palácio do Planalto distribuiu emendas parlamentares e promessa de cargos na Esplanada. Para isso, pretende promover uma reforma ministerial ainda em fevereiro.

Ex-aliado do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o líder do Republicanos, Marcos Pereira (SP), foi um dos primeiros a se juntar ao grupo de Lira depois de sondagens do governo. No Planalto, é dada como certa a criação de um ministério para receber o deputado, que já comandou a pasta do Desenvolvimento Econômico e do Comércio Exterior em gestões anteriores.

Ontem, Bolsonaro admitiu que, caso os dois nomes que o governo simpatiza levem as eleições do Legislativo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (Senado), ministérios podem ser recriados. Entre os quais, o do Esporte, o da Pesca e o da Cultura, que hoje funcionam como secretarias. Além disso, o Executivo liberou R$ 3 bilhões em verbas extras para atender parlamentares. Dos contemplados, grande parte declarou apoio aos candidatos do governo no Congresso.

Na avaliação de Paulo Loiola, estrategista político da Baselab, a forte articulação do Executivo nas campanhas do Legislativo foi fundamental para que o líder do Centrão chegasse como favorito à disputa. “Arthur Lira é um político respeitado entre os congressistas e já carrega consigo um grupo forte. Como o governo tinha margem de negociação individual com cada parlamentar, isso acabou favorecendo a candidatura dele”, explicou.

Segundo Loiola, nem a pulverização de postulantes na corrida eleitoral — nove, até o momento — tira o protagonismo do político alagoano. “O voto na Câmara é por negociação, e isso leva tempo. Obviamente que o governo vem trabalhando nisso há meses. Não creio que as demais candidaturas vão conseguir tirar o favoritismo do Lira nestas vésperas das eleições. A não ser que tenhamos um fato extraordinário até o dia da votação”, ressaltou.

Fatores externos

Outras variáveis também podem beneficiar Lira. Se a eleição seguir apertada, no voto a voto, como é esperado, a posição do PSol — único partido da oposição que decidiu concorrer com candidato próprio, Luiza Erundina (SP) — pode fazer a diferença. Líder do PT, Enio Verri (PR) espera, até os 45 minutos do segundo tempo, que o partido consiga reverter a situação.

A legenda ficou responsável por unir a esquerda em torno de Rossi, e os socialistas, divididos cinco a favor e cinco contrários ao voto tático no emedebista, estão seguindo a diretriz da executiva da sigla. “Existe esperança. Trabalhamos, o ano de 2020 todo, muito unidos. Os cinco partidos sentem muito que o PSol tenha tomado essa decisão. Até segunda-feira, dá tempo (de reverter a decisão). Será muito triste o Lira ganhar com uma diferença pequena, que seriam justamente os votos do PSol, por exemplo”, afirmou o petista.

Integrante do PSol e favorável à união tática com Rossi, Fernanda Melchionna (RS) frisou que votará em Luiza Erundina (SP), candidata da legenda. Ainda assim, ela lamentou a escolha do partido. “Tivemos uma posição na bancada, que, mesmo sem esse cenário de votação apertada, era melhor não dar sorte ao azar. Não é um problema de ser o nosso candidato. É voto tático”, destacou. “A Executiva, por maioria, tomou essa decisão por candidatura própria e indicou o nome da Luiza Erundina. Não existe movimento no PSol nesse sentido de reabertura do debate.”

O presidente nacional do PSol, Juliano Medeiros, confirmou. Para ele, não haverá prejuízo, pois nenhum dos parlamentares votará em Lira. “Não há possibilidade. No primeiro turno, votaremos em Luiza Erundina. E, no caso do segundo turno, votaremos no candidato que estiver disputando contra Lira. Se Lira tiver 257 votos, vencerá com ou sem o apoio do PSol ao Baleia”, avaliou.

Na opinião de Geraldo Tadeu Monteiro, mestre em sociologia política e doutor em direito, a legenda está em crescimento e precisará frear os movimentos de protesto em algum momento. “O PSol vive o mesmo drama que o PT viveu há anos: de ser um partido ideológico, com uma base muito militante. O PSol herdou esse lado do antigo PT”, frisou. “E, a despeito das possíveis consequências nefastas da posição que toma, acha que sai com tranquilidade, do ponto de vista ideológico e político, se fizer candidatura de denúncia”, destacou.

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