POLÍTICA

"Ele (Lira) preferiu ser submisso ao Planalto", diz Baleia Rossi

Deputado diz que principal rival ao comando da Casa era um aliado, mas tudo mudou quando ele ''resolveu ingressar no governo''. Se eleito, parlamentar compromete-se a analisar pedidos de impeachment e CPI

Jorge Vasconcellos
postado em 30/01/2021 06:00
 (crédito: Luis Macedo/Agência Câmara - 5/7/16)
(crédito: Luis Macedo/Agência Câmara - 5/7/16)

O vencedor da eleição para a Presidência da Câmara, na segunda-feira, vai enfrentar, já nos primeiros dias no comando da Casa, uma forte pressão para que tome providências em relação à resposta do governo à pandemia da covid-19.

Seis partidos de oposição, por exemplo, acabam de protocolar um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, a quem acusam de 15 ações ou omissões durante a crise sanitária, sobretudo na trágica situação em Manaus — é o 64º pedido do tipo já apresentado contra o chefe do Executivo. No mesmo documento, os partidos também deram início à coleta das 171 assinaturas necessárias para a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) destinada a investigar as ações do governo na pandemia.

O deputado Baleia Rossi (MDB-SP), candidato à eleição que tem como principal fiador o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou, em entrevista ao Correio, que não fugirá de suas responsabilidades constitucionais, caso seja eleito. Ele assegurou que, além de analisar pedidos de impeachment, instalará a CPI “se houver o número de assinaturas, o fato determinado e demais requisitos legais”.

Apoiado por uma frente de partidos de centro e de esquerda, Rossi também dirigiu críticas ao seu principal adversário na disputa, Arthur Lira (PP-AL), um ex-aliado que tem o apoio por Bolsonaro. “Nós nos dávamos muito bem. O problema surgiu quando eu resolvi permanecer independente, e ele preferiu ser submisso ao Planalto”, disse o emedebista. A seguir, os principais trechos da entrevista:


O Brasil está enfrentando uma profunda crise política e sanitária. Se o senhor for eleito, como deverá ser a atuação da Câmara nesse contexto?

Em primeiro lugar, com muita responsabilidade. A pandemia ainda não acabou, e precisamos arrumar saídas para o enfrentamento dos problemas sociais e econômicos. A Câmara tem o dever de ajudar o país, defendendo a vacina sem politizações.

Caso ocupe a Presidência da Câmara, quais pautas terão prioridade?

Combate à pandemia e seus efeitos econômicos. Vou defender uma ação colaborativa para ajudar o Ministério da Economia a encontrar recursos para dar um reforço nos programas de renda, sem comprometer as contas públicas. Vamos focar, também, na reforma tributária, para gerar emprego e renda.

Em entrevista ao Correio, o deputado Arthur Lira disse que, na Câmara, foi abandonada a proporcionalidade, conforme o tamanho de cada partido, na ocupação de espaços, como a relatoria de PECs (propostas de emenda à Constituição), medidas provisórias, projeto de lei. O senhor concorda?

Nos últimos dois anos, na maior parte do tempo, ele integrou — em muitos momentos, até liderou — o maior bloco de partidos, que incluía o dele, o MDB e o DEM. Quando ele resolveu ingressar no governo, tudo mudou. Passou a criticar quem preferiu continuar independente. A proporcionalidade é regimental, é um direito dado pelo voto popular. Claro que será respeitada.

Na mesma entrevista, seu adversário disse que o senhor representa uma Câmara centralizadora, que decide sobre pautas e outros assuntos sem que os deputados sejam ouvidos. Qual é sua opinião sobre isso? Como será na sua presidência, caso vença a eleição?

Isso não faz sentido nenhum. Vamos aos fatos. Desde 2016, a bancada do MDB, uma das maiores da Câmara, me elegeu líder cinco vezes, de forma unânime. Isso ocorreu porque sempre conduzi a bancada de forma amplamente democrática. Essa característica me credenciou para me tornar presidente do MDB, cuja convenção me escolheu com 96% dos votos. Repito: nos últimos dois anos, o meu adversário integrou o mesmo bloco que eu. Dividíamos tarefas juntos. Nós nos dávamos muito bem. O problema surgiu quando eu resolvi permanecer independente, e ele preferiu ser submisso ao Planalto.

O senhor perdeu apoios importantes, nos últimos dias, como o do PSL, que passou a apoiar Arthur Lira. O que tem feito para atrair mais respaldo e evitar novas perdas nesta reta final?

Tenho o apoio do presidente do PSL, Luciano Bivar. Já faz um tempo que o partido sempre se dividiu em três alas: uma governista, uma independente e um pequeno grupo de cinco deputados que flutua entre a primeira e a segunda. Os independentes sempre estiveram comigo e sempre estarão. Até a eleição, tudo se equaliza.

Como o senhor avalia a atuação do governo na pandemia? E na grave crise sanitária em Manaus?

No ano passado, ajudamos o governo votando os auxílios para estados e municípios e, também, o auxílio emergencial. Isso fez com que o governo ganhasse popularidade. No caso da vacina, houve erro do Ministério da Saúde. Em Manaus, também faltou iniciativa e rapidez.

A oposição está colhendo assinaturas para a criação de uma CPI destinada a investigar responsabilidades do governo na crise em Manaus. Se for alcançado o número de assinaturas necessário, qual será sua decisão, caso vença o pleito?

Tenho de cumprir o regimento e a Constituição. É função constitucional do Legislativo fiscalizar o Executivo. Se houver o número de assinaturas, o fato determinado e demais requisitos legais, cabe a instalação da CPI.


Pretende analisar pedidos de impeachment contra o presidente Bolsonaro? Há um compromisso, nesse sentido, entre o senhor e o PT.

O PT não pediu nem impôs nada. Os partidos de oposição apresentaram uma carta-compromisso, definindo uma plataforma a ser defendida por nossa candidatura. No item 3.6, está previsto “utilizar todos os instrumentos constitucionais destinados a assegurar o respeito à Constituição, às leis e à democracia, como as CPIs, convocação de autoridades e decretos legislativos, inclusive, a análise e resposta institucional sobre crimes, por ação ou omissão, que afetem a vida do povo, imputados a autoridades do Poder Executivo”. Portanto, o nosso compromisso é esse. É função constitucional do presidente da Câmara analisar pedidos de impedimento. Se eu for presidente, não posso abrir mão de uma função prevista na Constituição.

É favorável à volta do auxílio emergencial? Caso seja eleito, que iniciativa a Câmara deve adotar em relação ao tema?

Sou favorável. Cabe ao Ministério da Economia apresentar soluções, e a Câmara, aprovar, sempre respeitando as contas públicas e as previsões orçamentárias.

Qual é a importância da eleição na Câmara para o dia a dia dos brasileiros?

Todos os projetos de interesse do país passam pela Câmara, cuja função é ser independente e harmônica com os demais Poderes. Uma coisa está junta à outra. A Câmara precisa ser altiva, respeitada, para exercer sua função em defesa do povo brasileiro. É na Câmara que todos os setores da sociedade estão respeitados.

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