CONGRESSO

Alcolumbre deve sair fortalecido, Maia pode amargar derrota com eleição de adversário

Presidentes da Câmara e do Senado terminam mandatos com diferentes perspectivas para o futuro

Denise Rothenburg
postado em 01/02/2021 06:00 / atualizado em 01/02/2021 06:33
 (crédito: ED ALVES)
(crédito: ED ALVES)

Há dois anos, quando Davi Alcolumbre concorreu à Presidência do Senado, um almoço que reuniu políticos tinha a maioria das apostas voltadas a Renan Calheiros (MDB-AL). Apenas um integrante do DEM saiu-se com esta: “Não subestimem o gordinho. Ele é um ás na articulação política e vai para cima de Renan com tudo”. Alcolumbre venceu, mas o que não se esperava, agora, é que conseguisse ter um candidato do DEM para sucedê-lo na condição de favorito. A posição de Alcolumbre, que jogou para ser candidato à reeleição, mas foi barrado pelo Supremo, é hoje muito mais confortável do que a de Rodrigo Maia, que em 2019 era o senhor da situação. Agora, depois de quatro anos e meio no comando da Câmara, Maia tem um caminho árduo para tentar fazer do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) seu sucessor e rebater o discurso do presidente Jair Bolsonaro de que, enquanto presidente da Câmara, foi responsável pelo país não aprovar as reformas.

Ambos jogam hoje pela sobrevivência dentro do DEM e em busca de alguma tábua de salvação rumo a 2022. E, em termos de partido, Alcolumbre se sai muito melhor nesse momento. Em dois anos, o senador cresceu, do ponto de vista político, e chega ao final do mandato de presidente do Senado com um leque aberto, apesar da derrota do irmão para prefeito de Macapá e das traições que o próprio Alcolumbre cometeu agora, em especial, contra a senadora Simone Tebet, que o apoiou em 2019. Em seu partido, porém, Alcolumbre ficou muito bem.

O “gordinho” foi crucial para quebrar a unidade do MDB. E, nesse sentido, fez o que um político raramente faz: acenou aos emedebistas com a possibilidade de fazer força para que o senador Márcio Bittar (MDB-AC) vire ministro do governo Bolsonaro, de quem Alcolumbre se manteve próximo durante todo o período na Presidência do Senado. Com o MDB rachado, ficou mais fácil aglutinar um número grande de partidos em torno de Rodrigo Pacheco, senador por Minas Gerais, que está há apenas dois anos na Casa. Agora, daqui por diante, vai jogar para ser candidato a governador em 2022.

Do outro lado do Parlamento, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não desfruta dessa situação. Tinha um leque de candidatos à sua sucessão, com preferência por Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Jogou durante quase todo o ano de 2020 sem fechar apoio a nenhum deles, Baleia Rossi (MDB-SP), Elmar Nascimento (DEM-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP). Com tantos postulantes, caso o STF dissesse que ele poderia ser candidato, Rodrigo teria tanto a condição de abrir mão, indicando um deles, ou surgir como aquele único nome capaz de unir a turma. Como a decisão do STF não o favoreceu, perdeu o timing e teve que optar por Rossi, aquele que tinha a certeza de reunir mais partidos e votos.

A soma dos votos em política, porém, nunca é exata. Marcos Pereira pulou do barco de Maia tão logo Baleia foi escolhido. Elmar Nascimento idem, inconformado com a escolha do emedebista.

“Eu internado com covid e Rodrigo trabalhando outra candidatura”, reclamou certa vez, em conversa com o Correio.

Movidos pelo ódio ao presidente da Câmara e a busca de um lugar ao sol ao lado do governo rumo a 2022, deputados do DEM há tempos articulavram a saída do partido do bloco de Bal para se alinhar de vez ao governo Bolsonaro e desmoralizarMaia. O presidente da legenda, ACM Neto, porém, não quer a saída do “gordinho” do partido. O presidente da Câmararepresentou medidas rumo ao ajuste fiscal, tais como o teto de gastos e a reforma da Previdência. Tentou levar adiante a reforma tributária, mas o governo apostou em outras propostas de emenda constitucional, como a PEC Emergencial, apresentada pelos líderes do governo no Senado, para evitar que tramitassem primeiro na Câmara.

Por ser do Rio de Janeiro, Maia foi cada vez mais visto como um adversário pelo presidente Jair Bolsonaro, em especial, depois que passou a barrar a pauta de costumes defendida pelo governo. O distanciamento entre eles se consolidou em abril, quando Bolsonaro não gostou do fato de o Congresso aprovar R$ 80 bilhões de socorro aos estados, e, em entrevista à CNN, acusou Maia de “assumir o papel do Executivo”.

O mesmo Bolsonaro que, em abril, acusava Maia de comprometer as contas públicas com a aprovação da ajuda aos estados, agora começa a acusar o presidente da Câmara pela não aprovação das reformas. O governo tenta, assim, transformar Maia em inimigo público número um e jogar no colo dele as mazelas do país.

O presidente da Câmara ainda não definiu seu projeto de vida pós-presidência da casa. Não sabe sequer se será candidato em 2022, uma vez que tem vários convites do mercado. Um projeto, porém, Rodrigo não abandonou: tentar construir uma alternativa viável, de centro, para enfrentar Bolsonaro no ano que vem. É por aí que ele vai trabalhar. O jogo de 2022 começa depois da eleição à sua sucessão.

Disputa de votos
Os dois principais candidatos à Presidência da Câmara passaram o domingo tentando garantir os votos dos colegas. A votação para a escolha do presidente da Casa para os próximos dois anos está marcada para hoje e deve começar às 19h. Apontado como favorito, o deputado Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo Palácio do Planalto, participou à tarde de um churrasco organizado pelo PL em uma casa do Lago Sul. Já Baleia Rossi (MDB-SP), passou o dia em telefonemas a parlamentares e, à noite, compareceu a um jantar com a bancada feminina na Câmara.

 

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