CONGRESSO

Presidente da Câmara muda Comitê de Imprensa de local e se afasta de jornalistas

Setoristas da imprensa, agora, vão para o subsolo. Lira argumenta que objetivo é "aproximar o presidente dos deputados"

Luiz Calcagno
postado em 08/02/2021 20:59 / atualizado em 08/02/2021 21:01
 (crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
(crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) vai trocar o comitê de imprensa da Câmara de local. Atualmente, os jornalistas que trabalham no prédio têm um espaço com acesso ao plenário. Dessa forma, a cobertura dos diversos veículos se mantém próxima do trabalho dos deputados. Com a medida, tomada uma semana após ser eleito, Lira não precisará cruzar o prédio para ir à tribuna, e evitará a imprensa.

Hoje, para ir da presidência da Câmara ao plenário para a sessão, o presidente precisa cruzar o Salão Verde. No caminho, geralmente, o presidente em exercício precisa falar com jornalistas. Apadrinhado por Bolsonaro nas eleições, Lira mandará os jornalistas para o subsolo, para longe do trabalho dos deputados.

O Executivo, que investiu forte para que o novo presidente vencesse o adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), fez movimento parecido. A equipe econômica já tentou mudar os jornalistas de lugar no prédio do Ministério da Fazenda. Os profissionais de imprensa, porém, conseguiram se mobilizar para impedir a mudança. O projeto de alteração de local do comitê de imprensa da Câmara já existia, mas o presidente anterior, Rodrigo Maia (DEM-RJ), segurou a alteração, que está por conta da ex-primeira secretária, Soraya Santos (PL-RJ), aliada de Lira.

Esse é o segundo ato que contradiz o discurso de campanha do novo presidente. Lira foi eleito falando em maior participação dos parlamentares e de transparência. No primeiro ato, porém, quebrou um acordo de líderes que formava o bloco de Baleia, o segundo colocado nas eleições e, com isso, temporariamente, tomou para si os principais lugares da mesa, que deveriam ser distribuídos proporcionalmente.

Porém, para dar seguimento à agenda, acabou cedendo. Se não rearranjasse a distribuição, acabaria se indispondo com 10 partidos e cerca de 200 parlamentares. Agora, Lira se esquiva da imprensa.

A líder do PSol na Casa, Taliria Petroni (RJ), se posicionou sobre o ato. “Lira vai acabar com o comitê de imprensa, local onde ficam os jornalistas que fazem cobertura da Câmara e que que dá acesso ao plenário da Casa. Aparentemente, o novo presidente não quer que ele e outros deputados sejam interpelados pelos profissionais. Isso é transparência?”, postou a parlamentar em seu perfil no Twitter.

Tombamento

O comitê ocupa o espaço estratégico designado por Oscar Niemeyer, ao desenhar o prédio do Congresso. Militante do tombamento de Brasília, o jornalista e ex-secretário de Cultura Silvestre Gorgulho pondera que alterações que não firam o prédio podem ser feitas, mas que é importante que essas mudanças ocorram para melhor, e não para pior.

“O prédio é tombado. Tem coisas que você não pode mudar. O plenário, por exemplo, não pode mudar. É a essência. O lago, para ser construído, teve que ter autorização do próprio Niemeyer. Agora, gabinete, comitê de imprensa, depende da gestão. Em termos de oportunidade, logística, a Mesa é que decide. Ainda assim, o Comitê de Imprensa é em lugar estratégico para as coberturas, tanto do Senado quanto da Câmara. Administrativamente, a geografia tem que dar a oportunidade da cobertura e do trabalho”, ponderou.

Ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o arquiteto José Leme Galvão Junior estranha a mudança. “É muito controverso. O fato de ter um tombamento é menos importante que a organização espacial original e o propósito dela deveria ser respeitado. E se está aí desde a origem do projeto, indica o acerto. De qualquer maneira, Nos espaços colados na fachada, nunca houve nenhuma modificação”, avaliou o especialista.

“É estranho que um presidente da Câmara possa assumir um papel de gestor do espaço impunemente. Isso é o que me causa mais incômodo, o fato de ele usar esse cargo para uma decisão de gestão de espaço. O prédio não pode estar sujeito a um gestor de ocasião. Não estou dizendo que é ilegal, mas parece um uso um tanto abusivo. Ele é presidente da Câmara, mas não é gestor dos espaços. Isso tem que ser estudado. Dá a impressão que o interesse maior é afastar a imprensa”, criticou.

Por meio de nota, Lira afirmou que a mudança de espaço não interferirá no trabalho da imprensa. “A alteração de espaços dentro da Câmara dos Deputados em nada vai interferir na circulação da imprensa, que continuará tendo acesso livre a todas as dependências, como o cafezinho, o plenário, os corredores, os salões e a própria presidência. O objetivo da alteração é aproximar o presidente dos deputados, como eu falei em toda a minha campanha”, justificou.

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