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PSDB freia a estratégia de Doria

Executiva estabelece que Bruno Araújo comanda o partido até 2022. Decisão cria barreira para governador de SP, que traçava o caminho para concorrer à sucessão de Bolsonaro

» Jorge Vasconcellos
postado em 12/02/2021 22:14
 (crédito: Nelson Almeida/AFP)
(crédito: Nelson Almeida/AFP)

A Executiva Nacional do PSDB definiu que o ex-deputado e ex-ministro Bruno Araújo permanece na presidência da legenda até maio de 2022, conforme acordo sacramentado na reunião da instância máxima do partido, realizada ontem. A decisão é uma resposta às articulações do governador de São Paulo, João Doria, para assumir o comando da sigla, em maio próximo, e pavimentar o caminho para ser indicado à corrida pelo Palácio do Planalto, no ano que vem.

“Bruno Araújo permanecerá no comando do PSDB até maio de 2022. A decisão unânime da Executiva Nacional do partido referendou ofício assinado pelos presidentes de diretórios estaduais e pelas bancadas na Câmara e no Senado”, diz a nota da Executiva. “Também serão prorrogados os mandatos nos segmentos partidários — PSDB-Mulher, Juventude, Tucanafro e Diversidade Tucana –– e no Instituto Teotônio Vilela (ITV), o centro de estudos políticos do PSDB”, acrescenta o texto. Também ficou garantida a autonomia para que os diretórios estaduais e municipais possam decidir sobre a prorrogação dos mandatos dos dirigentes locais.

Após a decisão da Executiva Nacional, que foi referendada em uma reunião virtual, o governador de São Paulo, ao falar com a imprensa sobre as divisões da legenda, pregou “paz, respeito ao contraditório e entendimento”.

A fissura no PSDB começou a se acentuar na última segunda-feira, durante um jantar de Doria com membros da cúpula da legenda, no Palácio dos Bandeirantes. Na ocasião, aliados do governador apresentaram um plano para que ele assumisse a presidência da sigla, em maio. A ideia era que pudesse unir a legenda contra o presidente Jair Bolsonaro e se lançar candidato ao Palácio do Planalto, em 2022.

Em uma das partes mais tensas do encontro, Doria defendeu o afastamento do deputado federal Aécio Neves (MG) do partido, pois o responsabiliza pela articulação que levou parte da bancada do PSDB na Câmara a votar em Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Casa, quebrando o acordo pelo qual o partido havia anunciado adesão à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP). Apoiado por Bolsonaro e por setores tucanos, Lira venceu a eleição.

Precipitação
Dentro do partido, a ofensiva de Doria foi considerada desleal e precipitada. Na quarta-feira (10/02), 23 dos 33 deputados federais do partido, incluindo Aécio, divulgaram nota em apoio à prorrogação dos mandatos de Bruno Araújo no comando da legenda e dos demais integrantes da Executiva Nacional. A emergência da pandemia da covid-19 foi o principal argumento dos parlamentares para defenderem a não realização da eleição para a presidência do partido. Na última quinta-feira, foi a vez de os sete senadores do PSDB respaldarem as prorrogações, também por meio de um comunicado.

Também na quinta-feira, 21 parlamentares tucanos foram a Porto Alegre para pedir a Eduardo Leite que lançasse sua pré-candidatura à Presidência da República, em um contraponto a Doria. O governador do Rio Grande do Sul não só aceitou o desafio como anunciou que percorrerá o país como postulante à indicação do partido.

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Articulação contra Lula

A defesa de Luiz Inácio Lula da Silva enviou, ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF), mais mensagens que teriam sido trocadas entre procuradores da Operação Lava-Jato que apontariam para uma parcialidade nas ações contra o ex-presidente, sob coordenação do ex-juiz Sergio Moro. Em uma delas, uma procuradora teria dito: “Precisamos definir melhor o escopo para nós dos acordos que estão em negociação. Depois de ontem, precisamos atingir Lula na cabeça (prioridade número 1)”. O texto é atribuído a “Carol PGR” e a troca de mensagens teria ocorrido em 5 de março de 2016.

Os diálogos foram apreendidos pela Polícia Federal na Operação Spoofing, de 2019, que prendeu hackers suspeitos de invadir celulares de autoridades. A procuradora responsável pela conversa, segundo petição assinada pelos advogados do ex-presidente, seria Anna Carolina Resende, que atuou no grupo de trabalho da Lava-Jato, na Procuradoria Geral da República.

Conforme outras mensagens, um dos procuradores supostamente afirmou que “não deixamos um amigo apanhar sozinho”, referindo-se a Moro. “Carol PGR”, então, teria respondido: “Tá certo. Coitado de Moro. Não tá sendo fácil”. A outra pessoa, sem identificação, diz em seguida: “Vamos torcer para esta semana as coisas se acalmarem e conseguirmos mais elementos contra o infeliz do Lula”.

No despacho, os advogados afirmam que os diálogos “reforçam ainda mais que o então juiz Sergio Moro era quem efetivamente comandava os atos de persecução contra Lula”. Sobre isso, apontam uma conversa na qual os procuradores teriam dito que “Moro estava irredutível em relação ao momento da apresentação da denúncia” contra Lula no caso do sítio de Atibaia.

Em nota, a PGR disse que as manifestações do órgão “ocorrem apenas nos autos”. Já a procuradora Anna Carolina Resende disse que não reconhece a autenticidade dos diálogos, que são “inautênticos, de fonte criminosa”.

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