O Ministério da Saúde formalizou a dispensa de licitação para a compra de mais duas vacinas contra a covid-19, a indiana Covaxin e a russa Sputnik V. Segundo os dois extratos publicados no Diário Oficial da União na sexta-feira, serão gastos R$ 2,3 bilhões na compra dos dois imunizantes e de insumos necessários à vacinação nacional contra a doença. A dispensa de licitação para esse tipo de aquisição foi autorizada pela Medida Provisória nº 1.026/2021.
Um dos extratos publicados autoriza a contratação, no valor de R$ 693,6 milhões, da Sputnik V, junto ao Fundo de Investimento Direto da Rússia, que tem parceria com o laboratório brasileiro União Química Farmacêutica Nacional. O fundo russo é encarregado das negociações internacionais do imunizante.
Já o segundo extrato autoriza a aquisição da Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, que é representado, no Brasil, pela empresa Precisa. O valor do contrato é de R$ 1,614 bilhão. Nenhum dos dois extratos, porém, informa o número de doses que serão compradas pelo governo.
A dispensa de licitação para a compra das vacinas ocorre no momento em que o Ministério da Saúde está sob forte pressão, em razão do atraso na vacinação da população contra a covid-19. Pelo menos cinco capitais foram obrigadas a interromper a imunização contra a doença por falta de doses: Rio de Janeiro, Campo Grande, Cuiabá, Porto Alegre e Salvador.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, até o momento, o uso de apenas duas vacinas contra o novo coronavírus, a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a Oxford/AstraZeneca.
Os fabricantes da Sputnik V e da Covaxin ainda não pediram à Anvisa autorização para uso emergencial dos imunizantes no Brasil. Dessa forma, mesmo depois de adquiridos, eles dependerão de autorização do órgão regulador para serem aplicados na população.
O Ministério da Saúde havia anunciado, no início de fevereiro, uma negociação com os representantes do instituto russo Gamaleya, fabricante da Sputnik V, e do laboratório indiano Bharat Biotech, produtor da Covaxin, para a compra de 30 milhões de doses das vacinas.
Na quarta-feira da semana passada, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, assegurou, durante reunião com governadores, que 230 milhões de doses de vacinas serão entregues até 31 de julho, incluindo as negociadas com os fabricantes da Sputnik V e da Covaxin.
Na última sexta-feira, o ministério divulgou uma modificação no Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a covid-19. A partir de agora, cada nova dose será aplicada totalmente em uma pessoa, sem haver a reserva de metade para a segunda aplicação. A pasta federal afirmou que o ritmo de chegada de novas doses de vacinas ao país vai aumentar, não sendo mais necessário fazer esse tipo de reserva. Com a mudança, segundo os planos do órgão, o resultado pretendido é que a vacinação da população passe a ser mais ágil.
O ministério anunciou que 4,7 milhões de doses de vacinas serão distribuídas aos estados a partir desta semana. Todas, segundo a pasta, são destinadas à aplicação da primeira dose. Segundo afirmou Eduardo Pazuello na sexta-feira, durante reunião com representantes da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), a distribuição desses imunizantes será concluída até o início de março. A nova remessa de vacinas aos estados é formada por 2,7 milhões de doses da CoronaVac e por 2 milhões da Oxford/AstraZeneca.
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Mais 1.212 casos fatais
O número total de mortes provocadas pela covid-19 no Brasil chegou a 245.977, incluindo 1.212 novos casos fatais que foram registrados entre a sexta-feira e ontem, segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. A pasta informou também que, no mesmo período, foram notificados mais 57.472 casos da doença, o que eleva o total de diagnósticos para 10.139.148.
O boletim acrescenta que 9.067.939 pacientes se recuperaram da enfermidade, enquanto outros 825.232 estão sendo acompanhados.
Enquanto o Brasil enfrenta um aumento dos números relacionados à covid-19, o cirurgião Marty Makary, professor da Universidade Johns Hopkins, disse, em artigo, que a pandemia do novo coronavírus pode acabar em abril. Segundo ele, que cita como exemplo a cidade de Manaus, a imunidade natural é o fator principal para o encerramento da propagação do novo coronavírus.
“Minha previsão de que a covid-19 praticamente desaparecerá em abril baseia-se em dados de laboratório, dados matemáticos, literatura publicada e conversas com especialistas. Mas também baseia-se na observação direta de como os testes têm sido difíceis de obter, especialmente para os pobres”, escreveu o especialista, em artigo publicado no Wall Street Journal.
De acordo com Makary, os casos caíram 77% nas últimas seis semanas, índice muito maior do que o previsto por especialistas.
“O comportamento não melhorou repentinamente durante as férias. Os americanos viajaram mais no Natal do que desde março. As vacinas também não explicam a queda acentuada em janeiro”, afirmou o professor da Universidade Johns Hopkins.
No artigo, ele fala sobre o medo que médicos e analistas têm de abordar a imunidade coletiva, ou de rebanho, que se dá quando um número suficiente de pessoas se torna imune a determinado vírus, interrompendo a propagação. O especialista cita uma redução significativa da transmissão da covid-19 em Manaus, que enfrenta um colapso do sistema de saúde, escassez de oxigênio e a circulação de uma nova cepa do novo coronavírus.
“A imunidade de rebanho foi bem documentada na cidade brasileira de Manaus, onde pesquisadores do Lancet relataram que a prevalência de infecção anterior por covid-19 era de 76%, resultando em uma redução significativa da infecção”, escreveu Marty Makary. (JV)