“Desejo e espero que todos os brasileiros em breve estejam vacinados contra a covid-19”. A frase, dita em 15 fevereiro após receber a segunda dose da CoronaVac, é da cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar. Cotada para ser a nova ministra da Saúde, a médica é conhecida por ser técnica, defensora da ciência e crítica de tratamentos à base de medicamentos sem eficácia comprovada. Com esse perfil, a indicação para substituir Eduardo Pazuello, em um primeiro momento, é vista com estranheza. Por mais de um ano de enfrentamento à pandemia, o presidente da República fez oposição ao uso de máscaras, atuou como garoto propaganda da cloroquina e desdenhou da letalidade da doença.
A mudança, no entanto, faz parte da nova estratégia adotada por Jair Bolsonaro e promete ser inédita diante das sucessivas trocas de lideranças da pasta central no enfrentamento à crise sanitária. Caso a demissão do ministro Eduardo Pazuello se confirme e Hajjar seja a sucessora, será a quarta mudança na pasta da Saúde em meio à pandemia. E a primeira mulher a assumir a liderança do ministério. O diferencial vai além: ao contrário do atual chefe da pasta, a cardiologista atua na área. O antecessor, Nelson Teich, apesar de ser médico, não assumiu o cargo com apoio político.
Amiga pessoal do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), Hajjar também tem boa articulação com diferentes figuras do Legislativo. Do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), a médica recebeu apoio declarado à nomeação. “Coloquei os atributos necessários para o bom desempenho à frente da pandemia: capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas”, publicou nas redes sociais, para descrever a médica.
Hajjar também é respeitada no setor em que atua. É braço direito de Roberto Kalil, diretor geral do Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês e da divisão de Cardiologia Clínica do Instituto do Coração (InCor). “A doutora Ludhmila trabalha comigo há 14 anos. É uma excelente técnica, profissional e médica determinada. Está 24 horas pensando nos pacientes e em pesquisa. Ela vive para isso”, defende Kalil.
Gestor em saúde e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Adriano Massuda defende que a mudança na Saúde é “urgente”. “O general Pazuello conseguiu ser o responsável por uma resposta desastrosa do país à pandemia, mas também foi responsável pela desestruturação de áreas estratégicas do Ministério da Saúde”, argumenta. Massuda aposta que o principal desafio será montar uma equipe capaz de reestruturar a pasta para que volte a ter autoridade sanitária.
Por não ter experiência no sistema de saúde público, o gestor ressalta que o êxito de uma nova gestão está na formulação de uma equipe que tenha condições de compreender a saúde pública e o sistema de saúde para assessorá-la. “Ter alguém da área de saúde, como a doutora Ludhmila, é algo positivo, mas uma pessoa sozinha não dá conta de gerenciar o MS. Ela terá que montar sua equipe e reestruturar a pasta para que o ministério volte a ter autoridade sanitária. Se não tiver uma boa equipe, a iniciativa será frustrada como foi a de Nelson Teich, que também era um bom nome, mas não teve condição de trabalhar”, argumenta.
Na reunião que teve com o presidente Bolsonaro, a médica deixou claro suas exigências para assumir o Ministério da Saúde: terá que entrar com autoridade, nomear sua equipe e ter aval para executar mudanças. A informação foi confirmada por fontes do Correio.
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