SAÚDE

Uso de cloroquina e negação de lockdown são coisa do passado, defende Hajjar

Médica foi cotada para assumir o Ministério da Saúde, mas recusou o cargo. Ela justificou que seu trabalho é pautado pela ciência e que lockdown não é posição individual, mas medida necessária em casos específicos

Israel Medeiros
postado em 15/03/2021 15:37 / atualizado em 15/03/2021 15:37
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Logo após recusar a chefia do Ministério da Saúde em reunião com Jair Bolsonaro (sem partido), a cardiologista Ludhmila Hajjar afirmou, em entrevista à CNN, que tratar infectados por covid-19 de forma precoce é importante, mas que os medicamentos indicados pelo governo, como cloroquina, ivermectina e azitromicina não têm eficácia comprovada. Entre outras críticas indiretas ao posicionamento do governo federal, ela disse que seu trabalho é pautado pela ciência.

"Todo o mundo sabe que o paciente tem que ser atendido precocemente. Isso é fato. Entretanto, algumas medicações pregadas, como a cloroquina, ivermectina, azitromicina, o zinco e a vitamina C já demonstraram não ser eficazes no tratamento da doença. Minha posição sempre foi e sempre será essa", disse.

Ela revelou que já chegou a prescrever cloroquina no início da pandemia, quando ainda não havia estudos sobre a eficácia no uso para tratamento de covid-19. Agora, explicou, o cenário é outro. "No início da pandemia, procurávamos uma salvação. Nós estávamos no desespero. Muitos de nós já prescreveram cloroquina e eu também. Até que fomos lidando, felizmente, com os resultados que a ciência nos traz. Inúmeros estudos vieram para mostrar de forma definitiva a não eficácia desses medicamentos. Isso é algo que eu pontuei para mim e é algo do passado", afirmou.

Hoje, pontuou, o que é necessário para combater a pandemia é pautar as ações em evidências científicas e melhorar o atendimento hospitalar para aquelas pessoas que são diagnosticadas precocemente com a covid-19. Além disso, Hajjar defendeu um programa de vacinação em massa aliado a uma boa campanha de conscientização, importante para que a população não subestime a doença.

"Assuntos como cloroquina ou se acredito ou não em lockdown para mim hoje são extremamente secundários no combate à pandemia. Eles não deveriam estar sendo discutidos", disparou. Ela afirmou também que a adoção de um lockdown nacional não é viável, do seu ponto de vista. Mas é preciso promover uma centralização das estratégias no Ministério da Saúde para auxiliar governos estaduais e municipais no momento de crise.

"Às vezes é necessário, sim, o lockdown. Vai ter dia que o município vai acordar sem leito de UTI, com as pessoas morrendo na porta, morrendo dentro das ambulâncias. Não há outro jeito a não ser fechar e conter a transmissão. Entretanto, isso não tem que ser uma política nacional, de maneira universal. Tem que ser pautada em decisões técnicas. Mas ao mesmo tempo que a gente vai decretar lockdown em alguns municípios e estados, medidas eficazes para que seja rápido, temporário, têm que ser tomadas", comentou.

Na avaliação da médica, hoje o país precisa de uma ativação emergencial de leitos. "Para que a gente resolva isso, precisa ter um consórcio, uma união de entidades privadas e públicas da rede federal, estadual e municipal para ativar rapidamente leitos. E não é só leito. É equipamento, infraestrutura, recurso humano. E isso pode sim minimizar o tempo de lockdown, minimizar o impacto social e econômico. Isso é ciência. Não é uma posição individual, não tem jeito de a gente ir contra", completou.

Contexto

O nome de Ludhmila ganhou força ontem, quando informações de bastidor apontavam que o general Eduardo Pazuello, atual chefe da Saúde, teria pedido demissão. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi rápido ao falar no nome de Hajjar para substituí-lo. Em seu perfil, ele elogiou a médica e afirmou que, para o cargo, é preciso ter capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas.

O Ministério da Saúde, no entanto, nega que Pazuello esteja deixando o cargo. "Eu não estou doente, continuo como ministro da Saúde até que o presidente da República peça o cargo. A minha missão é salvar vidas”, disse ele por meio de sua assessoria. Uma coletiva com o ministro está marcada para as 16h desta segunda-feira. Ele deverá fazer um balanço da pandemia.

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