O presidente da República discursou a apoiadores para celebrar o aniversário. Jair Bolsonaro completou 66 anos ontem e as comemorações contaram com aglomeração e protestos contra medidas de contenção da pandemia de covid-19. O próprio presidente se comportou de forma dúbia em relação ao combate ao novo coronavírus. Por um lado, quando partiu um bolo em frente ao Palácio da Alvorada para eleitores, usou máscara praticamente todo tempo e evitou apertar a mão dos presentes como normalmente faz. Por outro, usou o discurso para fazer ameaças veladas e, novamente, atacar as medidas de governadores de combate à crise sanitária.
“O que o povo mais pede para mim, em todo lugar que eu vou, é 'Eu quero trabalhar'”, disse, sob aplausos. A comemoração em frente ao Alvorada durou pouco mais de 23 minutos e foi toda filmada. O presidente estava acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que faz aniversário hoje. Apoiadores já esperavam na grade, muitos sem máscara, quando Bolsonaro chegou e percorreu todo o trajeto em que os presentes se aglomeravam acenando. Em seguida, parou em frente a um bolo azul e amarelo, que provou com o dedo, lavou as mãos no espelho d’água e fez um discurso.
O presidente só retirou a máscara para falar. Começou dizendo que não abrirá mão da “liberdade”. “Alguns tiranetes ou tiranos tolhem a liberdade de muitos de vocês. Pode ter certeza, o nosso exército é o verde-oliva e é vocês também”, disse. Na sequência, elevou o tom. “Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade. Estão esticando a corda. Faço qualquer coisa pelo meu povo”, declarou para, em seguida, amenizar garantindo que “esse qualquer coisa é o que está na nossa Constituição”.
“Enquanto vivo for, enquanto for presidente, que só Deus me tira daqui, eu estarei com vocês. Não abriremos mão desse poder que vocês nos deram por ocasião de 2018”, continuou o presidente. Bolsonaro também garantiu que o governo está combatendo o coronavírus. Sob pressão política, vê a popularidade cair (o número de brasileiros que rejeitam o presidente foi de 40% a 44% entre janeiro e março de 2021), em grande parte pelo número de contaminações e mortes diárias. Bolsonaro tem histórico conhecido de sabotar o combate à pandemia, recusando, até, a compra de vacinas.
“Muito fizemos até o momento no combate ao vírus. Não só compra de vacinas, desde o ano passado, bem como o maior projeto social do mundo, que foi o auxílio emergencial. O povo precisou, nós atendemos. O trabalho dignifica o homem e a mulher. Ninguém quer viver de favores do Estado. Quem vive de favor do Estado abre mão de sua liberdade”, discursou. O presidente editou, esta semana, uma MP para uma segunda rodada do auxílio emergencial, que será, em média, de R$ 250.
Manifestação
Mais cedo, apoiadores do presidente realizaram uma carreata na Esplanada. Os manifestantes declararam apoio ao governo federal e gritaram contra a decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB), que prorrogou, na última sexta-feira, o lockdown e o toque de recolher no DF. A fila de carros ocupou o Eixo Monumental em direção ao Congresso. Bandeiras do Brasil foram hasteadas nas janelas da maioria dos veículos. Havia também pessoas que carregavam bandeiras.
Um carro de som acompanhou os manifestantes. Alguns também acompanham o protesto a pé, usando camisetas do Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs) — grupo que utiliza armas de fogo para alguma das três atividades. A Polícia Militar acompanhou a movimentação. Mais uma vez, vários dos apoiadores do presidente estavam sem máscara.
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AuxÃlio e Orçamento são as prioridades
O Orçamento de 2021 e a Medida Provisória nº 1.039/2021, que institui o novo auxílio emergencial, serão as principais votações no Congresso nos próximos dias. A previsão é de que seja um período em que parlamentares aumentarão a pressão contra o governo federal por mais efetividade no combate ao novo coronavírus. Na quarta, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-RJ), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se reunirão com o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, para debater a criação de um comitê de enfrentamento ao covid-19.
Na Câmara, o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), destaca como importantes o projeto do superendividamento de consumidores, com outro que proíbe instituições financeiras de venderem empréstimos por telefone. Outro projeto que tem acordo na pauta é o marco legal das startups, que foi aprovado com alterações pelo Senado em fevereiro. O Projeto de Lei Complementar nº 146/2019 favorece a criação de empresas de tecnologia e estimula o investimento no ramo. Para Barros, porém, a principal tarefa será o Orçamento, que será apreciado em 24 de março.
O projeto será votado na Comissão Mista de Orçamento sem acordo no mérito. Ainda não há previsão para que a matéria vá a plenário. “Além do Orçamento, temos nossas matérias de acordo de pauta. Vamos votar, na Câmara, startups e superendividamento e, no Senado, algumas MPs”, disse.
Questionado sobre a expectativa de uma semana de clima ruim e pressão contra Bolsonaro, devido ao aumento no número de mortes, o líder do governo disse que se reunirá, nesta segunda, com os também líderes do governo no Senado, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), e no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), para conversar sobre a posse do novo ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga. “O clima na Câmara está tranquilo. O governo precisa tomar providências”, disse.
Vice-líder do PT, Natália Bonavides (RN) lembrou, porém, que os parlamentares devem fazer as votações de seus estados, justamente por conta do agravamento da pandemia. Com isso, há a possibilidade de a votação do Orçamento ser adiada, devido à dificuldade de articulação que o modelo de sessão provoca. Ela também criticou as matérias acertadas para votação no período. “É um absurdo que a pauta siga como se nada acontecesse no país. Tudo devia estar parado. Devíamos debater apenas medidas da pandemia, que está em seu pior momento enquanto o Congresso segue votando independência do Banco Central e congelamento de salários de servidores”, disparou.
No Senado
O líder do DEM no Senado, senador Marcos Rogério (RO), destacou que a MP que estabelece o novo auxílio emergencial é a grande expectativa. A nova rodada de socorro será de R$ 250, contra R$ 600 de 2020, com um público de 45,6 milhões de pessoas. No período anterior, os repasses atingiram 68,2 milhões. Além da MP, senadores devem votar um projeto de socorro ao setor cultural. Para ele, há muita expectativa, também, no encontro entre Bolsonaro, Pacheco, Lira e Fux. Rogério é autor de um projeto de lei que deverá ser colocado em pauta na próxima semana regulamentando a criação do comitê de enfrentamento à covid-19. (LC)