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Digitalização e apelo por reformas, avalia Fabio Bentes

Na avaliação do analista, o que mais tem atrapalhado o comércio não é apenas a crise em si, que é grave, mas a falta de coordenação entre os governos, em geral, nas medidas de isolamento social

Rosana Hessel
postado em 24/03/2021 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Em 2021, apesar de a indústria e o comércio terem retomado o patamar do início do ano passado, antes da pandemia, há poucos motivos para comemorar, na avaliação de Fabio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “O setor já apresentava uma dificuldade muito grande para engrenar em ritmo mais forte”, explicou.

De acordo com o especialista, o comércio e a indústria voltaram ao patamar pré-crise em janeiro deste ano, apresentando uma recuperação com curva em V no segundo semestre do ano passado, mas para um patamar que ainda era muito fraco e que não recuperou todas as perdas da recessão de 2015 e 2016.

Atualmente, em um momento mais agudo da covid-19, o setor está mais preocupado do que no início da pandemia. A “bateção de cabeças” entre os governos em relação ao isolamento é um dos fatores que mais tem gerado apreensão no setor, segundo Bentes. “Quem vinha conseguindo colocar o nariz na segunda metade do ano passado sabe que agora a situação está mais difícil”, destacou.

Na avaliação do analista, o que mais tem atrapalhado o comércio não é apenas a crise em si, que é grave, mas a falta de coordenação entre os governos, em geral, nas medidas de isolamento social. “O problema não é só o governo federal não estar trabalhando de forma coordenada com estados e municípios. Mas governos estaduais e prefeituras também estão batendo cabeça, como é o caso que temos visto atualmente no Rio e em São Paulo. Isso atrapalha, principalmente, a vida do microempresário, que fica sem saber como fazer o seu planejamento”, alertou.

A pandemia trouxe novos hábitos para o consumo, como a redução do fluxo de pessoas em shopping centers e o aumento do comércio eletrônico. Contudo o especialista observou que, apesar do forte crescimento na digitalização, as compras virtuais ainda representam um percentual baixo no varejo total, em torno de 6%. “Mas as mudanças vieram para ficar, não apenas no caso das compras on-line”, disse. Ele acredita que a tendência, no pós-pandemia, é as pessoas diminuírem a frequência em centros comerciais, antes considerados locais seguros. Agora são evitados por representarem um risco de aglomerações.

Para Bentes, o desafio para o setor varejista no pós-pandemia será retomar as agendas de reformas estruturais e de competitividade. “É preciso tornar o Brasil menos hostil para o investimento”, frisou. “O Brasil deve se debruçar sobre as reformas que reduzem o custo Brasil”, disse ele, citando as reformas administrativa e tributária. Assim, será possível deixar para trás o desolador cenário de lojas fechadas nas cidades brasileiras.

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