O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), admitiu a governadores, em reunião do Fórum dos Governadores na manhã desta sexta-feira (26/3), que o presidente Jair Bolsonaro se recusou a assumir a liderança federal no combate à pandemia do novo coronavírus, além de atacar as ações de chefes de Executivos locais na tentativa de conter o avanço da doença. O acumulado de mortos pela covid-19 no Brasil é de 303,4 mil brasileiros, e a expectativa é que o número de vidas perdidas a cada 24 horas (2,7 mil, nessa quinta-feira) continue crescendo.
Em sua participação na reunião, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), destacou que o país é feito pelos estados e municípios, e a União existe como resultado dessas esferas. “Essa federação precisa ser reconhecida”, disse. Para o gaúcho, governadores precisam lutar contra o vírus apesar de Jair Bolsonaro, que foi à residência oficial do Senado enquanto Pacheco fazia a reunião por videoconferência. “Temos um duplo problema. A ausência do presidente da República na coordenação, como o presidente do Senado já destacou, e isso dificulta muito o trabalho”, pontuou.
“Somos governadores nos esforçando para articular como nação, mas estamos em um mesmo nível hierárquico. O presidente é um e somos 27. Um presidente deveria coordenar e liderar o processo, e ele não só se omite como lidera na direção contrária, enfrenta, confronta e nos faz perder enorme energia não só pelos ataques que sofremos como pelas mentiras que temos que desmentir”, afirmou Leite.
A fala do governador explicita a sensação que se espalhou no mundo político, como crescimento desenfreado do número de mortes em meio à pandemia, segundo analistas, de que há um vácuo de poder. Em vez de encarar a situação, o mandatário da nação passou um ano atacando o uso de máscaras, provocando aglomerações e criticando, até mesmo, a vacinação.
O chefe do Executivo gaúcho também se queixou dos ataques que sofreu por parte de Bolsonaro nas redes sociais. O presidente disse ter feito um repasse de R$ 40,9 bilhões para o estado em 2020, o que obrigou o Leite a explicar que o dinheiro era proveniente de compromissos diversos, parte deles previsto na Constituição Federal. Após a publicação, o governador fez um livro de prestação de contas que entregou na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, para comprovar a lisura nas contas.
“Essa questão dos recursos disponibilizados é absurda. Merece a repreensão institucional. É uma mentira oficial, chancelada pelo presidente, destacada pela Secretaria de Comunicação (do governo federal), disparada pelo gabinete do ódio e comentaristas subservientes ao governo, que levaram isso à população como se fosse verdade. Como se tivéssemos recebido bilhões de reais que não recebemos”, desabafou.
Eduardo Leite listou o que considera serem os pontos principais para a estratégia nacional de combate ao vírus. “A vacina e a articulação internacional para que o Brasil seja priorizado; os leitos e o financiamento garantido pelo Ministério da Saúde, e articulação pelos medicamentos fundamentais para o kit entubação, que é a crise iminente que temos; auxílio emergencial de valor adequado, com ações de responsabilidade fiscal para não disparar dólar não pressionar inflação e aumentar juros; e já está judicializado, mas, é importante que deixe de haver confronto por parte do presidente, e possamos ter a condição de articular o distanciamento social de forma adequada no país”, elencou.
Antes tarde do que nunca
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM) participou do encontro em nome do governador João Doria (PSDB). Garcia também não poupou críticas ao governo e afirmou, em coletiva de imprensa, que “antes tarde do que nunca”, ao comentar a criação de um comitê federal de combate à pandemia. “Precisou passar um ano da pandemia, mais de 300 mil brasileiros mortos, para termos alguma iniciativa de coordenação nacional. Quero cumprimentar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco por essa iniciativa”, alfinetou.
Garcia destacou que a cada 10 brasileiros, nove são imunizados com a vacina do Instituto Butantan e que aumentar a taxa de vacinados no país é urgente. “A população quer a vacina no braço e comida no prato. Quem tem salvado o Brasil é o Butantan. O primeiro pedido foi que tivéssemos um cronograma verdadeiro e sincero do Ministério da Saúde (para vacinação), e não as falhas que estamos assistindo a todo momento, com prorrogação de entregas da AstraZeneca, prorrogação da Fiocruz.
“Entendemos que o momento é delicado, vamos compreender, mas pedimos um calendário sincero. Segundo ponto, a coordenação da compra de insumos, seja de medicamento, seja de oxigênio, nós tínhamos o aprendizado da primeira onda (de contaminação) no tocante aos respiradores e à lei de oferta e procura. Isso volta a valer. Os remédios subiram de preço. Às vezes sobra em um lugar e falta em outro. É preciso uma coordenação nacional em relação aos remédios. E o terceiro ponto é o credenciamento de leitos de UTI”, disse.
Garcia reclamou que é preciso ir ao judiciário para pedir que o Ministério da Saúde habilite leitos de UTI para pacientes com coronavírus. Ele destacou que ocorrerão novas reuniões e que existe um voto de confiança dos governadores em Pacheco, para que ocorra uma coordenação nacional.
Ajuda internacional
E o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena a temática da covid-19 no Fórum dos Governadores, expôs que, para avançar no processo de vacinação, o comitê precisa articular o tema junto à organismos internacionais. “Estamos pedindo agenda em conjunto com a OMS, Opas, Gavi, para mais vacinas. Ainda, trabalhar com o Reino Unido e estreitar o diálogo com a China, Índia, Rússia”. Segundo Dias, é necessário “sensibilizar o mundo para ajudar o Brasil, neste instante, com mais vacinas”, assim como tem sido feito para outros países, como a África do Sul.
O petista disse, ainda, que o fórum trabalha com uma agenda focada nas vacinas, mas também pensando em reincorporar os R$ 43 milhões do orçamento para a Saúde, que foi diminuído no orçamento deste ano, na comparação com 2020. Segundo o governador, os presentes discutiram uma agenda social e econômica, voltada ao auxílio emergencial. A ideia é aumentar o socorro para R$ 600 “para repor essa perda, entre janeiro e março, imposta aos mais pobres”, e dar suporte aos pequenos empreendedores e trabalhadores informais. “Agora é levar essa pauta ao Ministério da Saúde, mas sempre contando com a participação dos estados e municípios (nas discussões)”, destacou.
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