LAVA-JATO

Procurador sugeriu prisão de réus para forçar troca de advogados, diz defesa de Lula

Então presidente da ANPR, José Robalinho nega as acusações e diz que, embora se lembre de alguns diálogos por aplicativo de mensagens, não se recorda de ter feito este tipo de sugestão

Renato Souza
postado em 29/03/2021 15:32 / atualizado em 29/03/2021 15:44
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 15/3/18
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(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 15/3/18 )

Em diálogos via aplicativo de mensagem apresentados ao Supremo Tribunal Federal (STF), a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que o procurador José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, sugeriu, em 2015, a prisão de réus em que os advogados não aceitavam firmar acordos de delação premiada. A ação seria uma estratégia para forçar os acusados a delatarem os demais.

Nas conversas, Robalinho teria sugerido a prisão do executivo Emílio Odebrecht. "Se tiver um jeito de prender o velho Emílio ou algum familiar próximo de Marcelo Odebrecht ele demite a advogada de combate na hora. Prioridade zero. A cada estocada dela um novo passo na investigação", teria dito.

O diálogo teria ocorrido em um grupo com outros membros da Lava-Jato, entre eles os que atuaram no caso do ex-presidente Lula, em Curitiba. Ao Correio, Robalinho disse não se lembrar das conversas apontadas, e disse que não pode garantir sua autenticidade, mas destacou que relembra de outros trechos que já vieram a público.

"Não me recordo dos diálogos... Mas não sei você se recorda, mas era relativamente comum que os réus trocassem de advogados para firmar os acordos. Eu imagino, se é que esse diálogo aconteceu, eu não me recordo... Ao contrário de outros colegas, eu sempre disse para vocês (jornalistas) que eu não posso afirmar, pois esses diálogos foram apagados, e eu não tenho como checar e podem ser tirado de contexto. mas quando eu me lembro da conversa, e isso já aconteceu várias vezes, eu digo", afirmou Robalinho.

De acordo com o procurador, era comum na Lava-Jato a troca de defensores, quando os réus tentavam obter vantagens para delatar. "Lendo o diálogo, o contexto é esse. Era comum você ter réus que trocavam quando chegava na etapa de delação. Usavam advogados que agrediam a investigação, e trocavam. E isso era muito comum e não fui eu quem fiz, foram os próprios réus", completou o procurador.

Ele destacou que, embora tivesse contato com os colegas, por ser presidente da entidade, nunca atuou nas ações da Lava-Jato. "Eu não atuei em nenhum processo da Lava-Jato. Em todos os processos criminais que eu atuei, sempre tive excelente relação e respeito com os advogados", completou.

São Lula

Robalinho teria dito no grupo, na ocasião, que "Lula é franco favorito", e que "será quase impossível derrotar o PT e praticamente impensável derrotar o 'são Lula'", em referências às próximas eleições. Os advogados Cristiano Zanin, Valeska Martins, Maria de Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo afirmam que as conversas mostram que o cliente foi condenado para ser retirado da corrida eleitoral, e que não teve um julgamento imparcial.

Sobre as afirmações de cunho político, Robalinho afirma que não tem mais os arquivos das mensagens, mas que é provável que tenham ocorrido. "Eu não tenho como provar que essa conversa aconteceu, nem como provar. Mas é verossímil, por que eu era agente político da classe. Comentários políticos meus, levando em conta que eu atuava no Congresso, em nome da classe, são comuns", completou.

Por uma decisão do ministro Edson Fachin, as ações penais contra Lula que corriam em Curitiba foram suspensas, e remetidas para a Justiça Federal de Brasília. A Segunda Turma da Corte também considerou que Moro foi parcial, e agiu em interesse próprio, prejudicando a defesa do petista, e anulou os atos processuais. No entanto, as decisões devem ser reavaliadas no plenário do Supremo, que pode referendar ou anular os entendimentos anteriores.

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