PANDEMIA

Parlamentares pressionam pela criação da CPI da covid-19, mas Pacheco resiste

Parlamentares insistem com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pela instalação do colegiado para investigar ações do governo na pandemia. Senador, que recebeu apoio do Palácio do Planalto para se eleger ao comando da Casa, mantém o pedido engavetado

Ainda em luto pela morte do senador Major Olimpio (PSL-SP) — o terceiro da atual legislatura que tem a vida interrompida pela covid-19 —, parlamentares intensificam a pressão para que o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instaure uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a conduta do governo na pandemia. Um pedido com as assinaturas necessárias para a instalação do colegiado foi entregue a Pacheco no mês passado, mas o documento segue engavetado.

O óbito de mais um colega foi a gota d’água para os congressistas, que esperam de Pacheco mais sensibilidade com o momento para, enfim, dar prosseguimento à comissão. Porém o parlamentar — que recebeu o apoio do Planalto para se eleger ao comando da Casa — resiste à criação do colegiado. Alega que o foco do Legislativo deve ser apresentar propostas para auxiliar no enfrentamento à crise sanitária.

No momento, o que Pacheco considera viável é a formulação de um gabinete de crise com integrantes dos Três Poderes para que as ações do Executivo de combate à covid-19 sejam supervisionadas. Ele se comprometeu a conversar com o presidente Jair Bolsonaro sobre o assunto e, se possível, fazer uma primeira reunião já na semana que vem.

Mesmo assim, parlamentares aguardam uma resposta mais efusiva de Pacheco contra o governo. Ontem, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) divulgou uma carta defendendo que “a CPI da pandemia surge no horizonte do momento como um instrumento de pressão, para que o governo aja com rapidez, coordenação e vontade”.

“Audiência pública não basta. Comissão de acompanhamento da covid do Senado é importante, mas não suficiente. De pouco adianta apenas acompanhar quem navega à deriva. É preciso, urgente, uma mudança de rumos”, frisou a parlamentar. “Ou o presidente Bolsonaro se dirige à nação e demonstra, diante de todos os brasileiros, plena consciência sobre a gravidade da situação e apresenta, ao lado do ministro da Saúde, um plano nacional de execução urgente para enfrentamento à pandemia, ou permaneceremos, todos, no caos”, acrescentou.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o Congresso não pode ficar omisso diante do momento mais crítico da crise sanitária no Brasil, sobretudo com as mortes de parlamentares. “O Senado tem que, urgentemente, implementar a CPI para investigar a responsabilidade do governo em relação ao agravamento da pandemia. A situação do nosso país piora a cada dia, tendo como responsáveis principais o governo federal e o presidente Bolsonaro”, enfatizou.

O senador Alvaro Dias (Podemos-PR) é a favor da CPI, mas pediu que governos estaduais e municipais também sejam investigados, caso o colegiado seja instaurado. “O presidente da República diz que estados levaram muito dinheiro, e ele não sabe onde esse dinheiro foi parar. Então, temos de apurar. Há resistência a essa CPI, mas vamos continuar insistindo, porque nós temos de dar o exemplo, responsabilizando aqueles que, eventualmente, contribuíram para que a pandemia evoluísse no Brasil da forma negativa como evoluiu”, disse, em entrevista à Cascavel TV.

Lula dispara: "Genocida"

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro pelo comportamento do mandatário em meio à pandemia do novo coronavírus. Em entrevista ao jornal francês Le Monde, o petista afirmou que o chefe do Executivo menospreza as recomendações da ciência para tentar conter a covid-19”. “Comecei na política nos anos 1970 e nunca vi meu povo sofrer como hoje. Pessoas morrendo nos portões dos hospitais, a fome voltou. E, diante disso, temos um presidente que prefere comprar armas de fogo em vez de livros e vacinas. O Brasil é chefiado por um presidente genocida. É realmente muito triste”, lamentou. Lula chamou Bolsonaro de “ignorante”. “(Ele) Acredita que, ao se recusar a admitir a gravidade da pandemia, a economia vai se recuperar novamente. A única cura é vacinar o povo brasileiro”, afirmou o ex-presidente.

Homenagem a Major Olimpio

O corpo do senador Major Olimpio (PSL-SP) foi cremado, ontem, em São Paulo, numa cerimônia restrita à família. Numa homenagem de despedida ao parlamentar, uma carreata percorreu o trecho partindo do Hospital São Camilo até chegar ao Cemitério e Crematório Primavera, em Guarulhos. O caixão foi levado por um carro do Corpo de Bombeiros.

O senador, de 58 anos, foi diagnosticado com covid-19 no início de março e estava desde o dia 5 na UTI. Ele morreu na quinta-feira. “Combateu o bom combate, acabou a carreira, guardou a fé!”, disse o comunicado da família do parlamentar no Twitter.

A conta oficial do senador informou, ainda, que a doação de órgãos era um desejo dele e chegou a ser autorizada pela família. No entanto, “por conta da questão da covid-19, os médicos avaliaram que não seria possível a realização”.

Natural de Presidente Venceslau (SP), Major Olímpio foi eleito senador em 2018. Ele exerceu suas funções na Polícia Militar de São Paulo até 2007, quando iniciou o primeiro mandato como deputado estadual. Reeleito, ocupou uma vaga na Assembleia de São Paulo até 2015, e, em seguida, foi eleito como deputado federal.

Além de policial e político, o parlamentar era bacharel em ciências jurídicas e sociais, jornalista, professor de educação física, técnico em defesa pessoal e instrutor de tiro.

Desde a morte dele, vários senadores e outras autoridades públicas se pronunciaram pelas redes sociais lamentando a perda.

(Com Agência Senado)