Governadores decidiram intensificar os esforços para esvaziar o discurso do presidente Jair Bolsonaro de que eles jogam contra a economia ao adotarem lockdown e outras medidas restritivas contra o avanço da covid-19. Programas de ajuda financeira para socorrer trabalhadores e empresários afetados pela crise têm se multiplicado em vários estados, servindo também para aquecer a economia e a arrecadação em nível local.
Além de críticas à falta de uma coordenação nacional para o enfrentamento da pandemia, a maioria dos governadores considera baixo o valor do novo auxílio emergencial pago pelo governo federal, de R$ 250, em média. No mês passado, 16 gestores estaduais divulgaram uma carta aberta à Câmara e ao Senado, cobrando que o benefício volte a ser de R$ 600, como em 2020.
Em meio aos números trágicos da covid-19 no Brasil, a pandemia no país hoje é marcada também por uma disputa de narrativas entre o presidente da República e os governadores. O saldo, até agora, é ruim para ambos os lados, cujas avaliações, medidas por pesquisas de opinião, têm despencado cada vez mais.
A última unidade da federação a lançar uma iniciativa local de ajuda emergencial foi São Paulo. Na quarta-feira, o governador João Doria (PSDB) lançou o Bolsa do Povo, resultado da ampliação e unificação de vários outros projetos sociais. Anunciado como o “maior da história” de São Paulo, o programa vai repassar R$ 500 por pessoa de baixa renda beneficiada, a um investimento total de R$ 1 bilhão.
Há várias iniciativas semelhantes em outros estados. No fim de março, o governo do Pará iniciou o cadastramento de profissionais de diversas categorias para receberem um auxílio de R$ 500. Serão beneficiados, entre outros trabalhadores, cabeleireiros, barbeiros, esteticistas, guias de turismo, maquiadores, manicures, garçons, instaladores de som em aparelhagens e DJs.
No Maranhão, também em março, o governo criou dois auxílios, um de R$ 600, para a classe artística, e outro de R$ 1 mil, para proprietários de bares e restaurantes. “Os governadores têm agido corretamente, conjugando ações sanitárias com medidas sociais. O que não aceitamos é que Bolsonaro jogue tudo para os estados, enquanto ele se dedica a passeios e a falar besteiras. Já passou da hora de ele ter o mínimo de decoro e se dedicar ao trabalho sério”, disse ao Correio o governador maranhense Flávio Dino (PCdoB).
Lei do retorno
Para o professor Paulo Calmon, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), “o negacionismo abraçado pelo governo Bolsonaro resultou em impacto negativo não apenas em decorrência da ausência de políticas de saúde pública adequadas no combate à pandemia, mas no enorme vácuo deixado em relação a medidas que mitigassem efetivamente o enorme impacto social e econômico dessa crise”.
Segundo ele, além de sensibilizados com o crescimento do desemprego, da fome e da pobreza, os governadores trabalham de olho em possíveis dividendos eleitorais trazidos pelos programas assistenciais. “Essas políticas têm, sim, retorno eleitoral importante, como já demonstrou o chamado 'efeito bolsa família'. Enfim, além da vacina do Doria, agora podemos estar vendo o bolsa família do Doria e de outros governadores, para desespero do presidente Bolsonaro e de seus aliados políticos”, disse o docente.
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