Às vésperas da Cúpula do Clima, que se iniciará na próxima quinta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o Brasil não deve se comportar como um “mendigo” em relação a pedido de recursos para combater desmatamento ilegal.
“A gente não tem de ser mendigo nisso aí. Vamos colocar a coisa muito clara, né? Nós temos as nossas responsabilidades, o Brasil é responsável só por 3% das emissões no mundo. Desses 3%, 40% é o desmatamento, ou seja, 1,2% do que se emite no mundo é responsabilidade do desmatamento nosso aqui. Então, a gente tem de fazer a nossa parte, dentro do Acordo de Paris”, enfatizou. “Não queimamos petróleo e carvão como os demais países queimam, ou seja, temos uma matriz energética que é limpa e renovável. Então, a gente tem um lugar certo na mesa de conversas sobre mudança no clima.”
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro enviou uma carta à Casa Branca firmando compromissos de acabar com o desmatamento ilegal até 2030. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também tem se movimentado, promovendo reuniões com diversas autoridades e deixando claro pedidos por recursos, condicionando a preservação ambiental no país ao recebimento de verbas estrangeiras.
Mas foi o próprio governo que perdeu recursos. Bolsonaro já criticou diversas vezes verbas internacionais para preservação da Amazônia, dizendo que o país não precisava de dinheiro para isso. Em 2019, Alemanha e Noruega pararam com os repasses do Fundo Amazônia e, até hoje, o país não conseguiu reativar as remessas, apesar das negociações.
De acordo com especialistas, o governo tem demonstrado verdadeiro “desespero” no intuito de confirmar acordos na Cúpula do Clima, capitaneada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para conseguir recursos voltados ao meio ambiente.
Professor de direito internacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Luís Renato Vedovato afirmou que, depois da deterioração da imagem do Brasil no exterior, não adianta prometer medidas; é preciso ação, como já foi indicado pelo governo americano. “No fundo, são promessas de um país que demonstrou fazer tudo o contrário até agora”, disse. “Não adianta mandar carta. O governo brasileiro deveria agir antes de qualquer outro passo, por conta da falta de credibilidade”, frisou.
Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Juliano da Silva Cortinhas fez coro: “Agora, queremos reconstruir uma relação a partir de uma promessa de que a nossa postura mudou, como se nós não estivéssemos lidando com a principal potência no âmbito internacional; gente com experiência diplomática. Vai exigir muito esforço da nossa diplomacia”.
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Greta Thunberg critica Bolsonaro
A ativista sueca Greta Thunberg, convidada, ontem, da entrevista coletiva virtual da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi questionada sobre o que acha do comportamento do presidente Jair Bolsonaro. Ela afirmou que o mandatário brasileiro “tem uma grande responsabilidade, tanto em relação ao ambiente e ao clima e, é claro, que podemos ver a resposta que o Brasil tem tido na pandemia da covid-19”. “Falo por mim, mas ele
tem fracassado em assumir a responsabilidade necessária para salvaguardar as condições presentes e futuras de vida para a humanidade”, finalizou.