CPI DA COVID

Segundo a ser ouvido na CPI, Teich deve falar sobre pressão por cloroquina

O depoimento de Nelson Teich está marcado para começar às 14h, após o do também ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM)

Jorge Vasconcellos
postado em 04/05/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O ex-ministro da Saúde Nelson Teich, que ficou menos de 30 dias na pasta e deixou o governo em maio de 2020, pode revelar à CPI da Pandemia, em depoimento marcado para hoje, as causas do episódio que ele considerou, à época, “o dia mais triste” de sua vida. Senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito querem saber se a saída do oncologista foi motivada por pressões do presidente Jair Bolsonaro por mudanças no protocolo do ministério para permitir o uso da hidroxicloroquina no tratamento precoce da covid-19 — o medicamento não tem eficácia científica comprovada contra a doença.

O depoimento de Nelson Teich está marcado para começar às 14h, após o do também ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). Teich deixou o ministério quando o Brasil acumulava 14.817 mortes provocadas pela covid-19 — hoje, esse número já ultrapassa 400 mil. À época, o médico não concordou com as pressões do presidente por alterações no protocolo da hidroxicloroquina e pela flexibilização do distanciamento social. Cinco dias depois da demissão de Teich, o general Eduardo Pazuello, seu sucessor no comando da pasta, determinou a alteração do protocolo do medicamento, recomendando o uso a partir dos primeiros sintomas da covid-19.

Sem autonomia

Durante o depoimento de Nelson Teich à CPI, os senadores vão querer saber se o Brasil poderia ter tomado outro rumo no enfrentamento à pandemia e freado o número de mortes. “A fala do ministro Teich é importante para a identificação plena do processo decisório das ações de combate à pandemia. Quem tinha a palavra final e até onde ia a autonomia técnica do ministério?”, disse ao Correio Alessandro Vieira.

Por sua vez, Randolfe Rodrigues acusa Bolsonaro de não permitir que o Ministério da Saúde tenha autonomia para traçar, com base na ciência, as diretrizes de combate à crise sanitária. “O senhor Luiz Henrique Mandetta foi exonerado do cargo de ministro da Saúde justamente por defender as medidas de combate à doença recomendadas pela ciência. O presidente defendia mudanças nos protocolos de uso da hidroxicloroquina no tratamento do novo coronavírus, mas o Nelson Teich era contra. Infelizmente, sabemos o rumo que a gestão da pandemia tomou no país”, afirma Randolfe, nos requerimentos de convocação dos ministros.

Uma das frentes de investigação da CPI é tentar confirmar indícios de que o governo priorizou a recomendação de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 em detrimento das ações necessárias para garantir o acesso da população à vacinação contra a doença. O governo será cobrado, por exemplo, pelo fato de o Exército ter gastado, ao menos, R$ 1,5 milhão na produção da hidroxicloroquina, por determinação do presidente.

O senador Humberto Costa (PT-PE), titular da CPI, considera prioritária uma apuração para saber se o governo federal atuou deliberadamente para permitir a disseminação do novo coronavírus, com o objetivo de promover a chamada imunidade de rebanho. “Precisamos investigar se o governo adotou essa opção, em detrimento da adoção de medidas restritivas e da compra de vacinas. Isso, se confirmado, será um crime”, afirmou o parlamentar à reportagem.

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