O depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich à CPI da Covid nesta quarta (05/05) foi interrompido por vários minutos por uma confusão sobre a participação da bancada feminina da Comissão Parlamentar de Inquérito, que investiga possíveis omissões do governo federal no combate à pandemia.
Não há nenhuma mulher entre os 11 senadores titulares da comissão, mas na terça o presidente da CPI, Omar Aziz (Cidadania), acertou com os senadores que haveria uma concessão para bancada feminina fazer perguntas às testemunhas convocadas.
Nesta quarta, no entanto, quando a deputada Eliziane Gama (Cidadania-MA) começou a fazer a primeira pergunta sobre cloroquina, ela foi interrompida pelo senador governista Ciro Nogueira (PP-PI).
Nogueira protestou contra o fato de que não há previsão no regimento da Casa para inclusão de perguntas de outros senadores antes de todos os membros da CPI fazerem suas perguntas.
"Não entendo por que tanto medo das vozes femininas", afirmou Gama.
"É por isso que não pode! As pessoas ficam querendo dar uma outra versão, como se nós tivéssemos perseguindo as mulheres", respondeu Nogueira.
A isso se seguiu um bate-boca com gritaria e ânimos alterados entre Nogueira e outros senadores governistas e as senadoras representantes da bancada feminina.
O presidente da CPI pedia calma aos senadores e desculpas ao ministro Nelson Teich, que aguardava para continuar seu depoimento.
O senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que a bancada feminina tinha o objetivo de prejudicar o presidente Jair Bolsonaro.
"O que se busca aqui, parece-me, é engrossar o coro daqueles que querem dar peia no presidente Jair Bolsonaro", afirmou Rogério.
Gama protestou contra a fala, lembrando que a liderança feminina é composta por 12 senadoras de diversos partidos, incluindo senadoras governistas.
Apesar da interrupção, a bancada conseguiu voltar a fazer suas perguntas após pedidos de ordem de Aziz.
As senadoras apenas fizeram perguntas, não tendo outras prerrogativas de membros da CPI — como fazer requerimentos ou votar em decisões do plenário.
Comissão exclusivamente masculina
A participação da bancada feminina foi acordada pelos membros da CPI como uma forma de remediar o fato de que todos os membros da comissão são homens.
Os grupos partidários não indicaram senadoras mulheres para as 11 vagas titulares e 7 suplentes da comissão.
As indicações para a CPI são feitas por conjuntos de partidos, e não por um partido sozinho. Cada bloco tem um número de cadeiras compatível com sua participação proporcional no Senado. O maiores deles é o que inclui MDB, PP e Republicanos, com 24 senadores na casa, e que teve direito de indicar três titulares e dois suplentes.
Dos 11 senadores titulares, 7 são oposicionistas ou independentes — incluindo o senador Omar Aziz (PSD-AM) — e 4 são governistas.
O primeiro é reduzir as chances de a CPI discutir os efeitos da pandemia e da atuação do governo federal diante dela para as mulheres, que foram atingidas de forma específica nas mais diversas esferas.
O segundo é retroalimentar a baixa participação de mulheres em espaços de poder, já que parlamentares mulheres estarão de fora do que deve ser o principal palco político do país nos próximos meses.
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