Relações Exteriores

Alvo da CPI da Covid, Ernesto Araújo atuou para garantir cloroquina no Brasil

Por outro lado, o ex-ministro das Relações Exteriores não se empenhou para garantir vacinas contra a covid-19

Correio Braziliense
postado em 10/05/2021 10:15
 (crédito: AFP / EVARISTO SA)
(crédito: AFP / EVARISTO SA)

Telegramas mostram que o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo agiu para garantir o fornecimento de cloroquina ao Brasil. O medicamento não tem eficácia contra a covid-19. Os documentos, obtidos pela Folha de S. Paulo, mostram que, por outro lado, o empenho para conseguir vacinas foi baixo. O ex-chanceler, que pediu demissão em março, será um dos ouvidos da CPI da Covid, no Senado, na próxima semana

Segundo a reportagem, Araújo pediu, em março de 2020, aos diplomatas brasileiros que tentassem “sensibilizar o governo indiano para a urgência da liberação da exportação dos bens encomendados pelas empresas antes referidas [EMS, Eurofarma, Biolab e Apsen] e outras que se encontrem em igual condição, cujo desabastecimento no Brasil teria impactos muito negativos no sistema nacional de saúde”. Na época, o governo da Índia havia restringido a exportação de cloroquina. 

Um dia antes do pedido,  a Prevent Senior e o hospital Albert Einstein tinham anunciado estudos para saber se a cloroquina poderia ser eficaz contra a covid-19. A pesquisa do Albert Einstein, publicada em julho, concluiu que o medicamento não tem nenhum benefício para os infectados pela doença e que o uso dela pode causar alterações no fígado e no coração. Já a da Prevent Senior apontou redução no número de internações, porém, a pesquisa foi colocada em dúvida pela comunidade científica por não seguir padrões aceitáveis. 

Em 4 de abril, um dos telegramas mostram que o presidente Jair Bolsonaro chegou a conversar com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em que o presidente teria dito que o Brasil teve resultados animadores com o uso da cloroquina, mesmo não existindo nenhum estudo que comprovasse isso. 

Em março não foi a única interferência do então ministro, durante todo o mês de abril ele tentou a obtenção do remédio para o Ministério da Saúde e os pedidos continuaram em junho, quando a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira já haviam desaconselhado o uso da cloroquina em pacientes da covid-19. Estudos têm demonstrado que o uso da cloroquina pode ter aumentado a quantidade de infecções pela covid-19 pela falsa sensação de segurança. 

Vacinas 

Segundo a reportagem, por outro lado, houve um baixo empenho por parte do ministro para conseguir imunizantes contra a covid-19 da China. Até novembro de 2020, não houve, por parte do Ministério, instruções para os diplomatas negociarem o fornecimento de vacinas ou insumos ao Brasil. A China é a maior produtora de vacinas do mundo. 

Somente neste ano, a embaixada da China foi acionada para conseguir suplementos para a produção do imunizante da AstraZeneca. 

CPI da Covid 

Ernesto Araújo será um dos próximos ouvidos na CPI da Covid, no Senado, como testemunha. Ele irá falar sobre as tratativas  O colegiado aprovou internacionais durante a pandemia. Os senadores querem saber como foi a atuação do Brasil para conseguir vacinas e se questões ideológicas influenciaram neste processo. O ex-ministro será ouvido em 18 de maio, um dia da participação do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

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