No depoimento mais esperado da semana na CPI da Covid, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, será ouvido hoje pelos senadores. A expectativa é de alta-tensão entre os parlamentares governistas e os independentes e de oposição. Entre os questionamentos a que terá de responder estão a declaração de que atuou na compra de vacinas da Pfizer e a acusação que fez sobre o Ministério da Saúde ser o responsável pelo atraso na compra de imunizantes contra o novo coronavírus.
Em entrevista à Veja, Wajngarten tentou desviar o foco da CPI sobre o presidente Jair Bolsonaro ao acusar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de ter orientado mal o chefe do Planalto no enfrentamento à crise sanitária. Foi o mandatário, no entanto, que, em outubro de 2020, obrigou o militar a cancelar o protocolo de compra da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butatan em parceria com a chinesa Sinovac. Depois de desautorizado, Pazuello afirmou que “um manda e o outro, obedece”.
Um dos integrantes do colegiado, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse estranhar que Wajngarten tenha intermediado as compras da vacina da Pfizer, tendo em vista o fato de o Ministério da Saúde ter técnicos e equipes preparados para isso. Nos bastidores, há quem fale em um lobby entre o secretário e executivos da empresa.
O próprio Wajngarten afirmou, na mesma entrevista, que Pazuello não teria dado atenção ao oferecimento de imunizantes e que, por iniciativa própria, ele teria procurado Bolsonaro, recebendo autorização para adquirir a vacina. “É estranho um secretário de Comunicação assumir essa responsabilidade quando, na verdade, o Ministério da Saúde tem uma cultura de muito tempo de capacidade de fazer negociações internacionais, de comprar insumos”, destacou o petista.
De acordo com o parlamentar, “a nossa expectativa diz respeito a questionarmos a ausência de uma política de comunicação para o enfrentamento da pandemia, desde um primeiro momento”. “Vamos questionar se da Secretaria de Comunicação surgiram ações para atrapalhar o processo do isolamento social. Há informações de que houve financiamento de blogs e sites que divulgavam notícias falsas”, ressaltou. “E, com certeza, vamos ouvi-lo para saber o teor e o sentido das acusações de que o ministro da Saúde foi incompetente, desinteressado. Ele terceiriza a responsabilidade total de Bolsonaro para o ex-ministro Pazuello.”
O principal nome da tropa de choque do governo à frente da CPI, o líder do DEM no Senado, Marcos Rogério (RO), afirmou que a entrevista foi o que levou Wajngarten à CPI. “Ele deu uma declaração a uma revista de circulação nacional e, a partir dessa declaração, foi convocado. Ele vai ter oportunidade de vir à comissão e esclarecer a extensão daquelas declarações”, afirmou. “Não acredito que ele possa acrescentar muito do ponto de vista dos fatos. Ele não era gestor da pasta da Saúde. Era da Comunicação do palácio (do Planalto). Se teve algum contato, vai trazer a leitura dele sobre os fatos. É um testemunho que não dá para fazer muita previsão”, avaliou.
O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, destacou que o publicitário se adequou muito bem à estrutura bolsonarista de governo. Ele acredita que a entrevista será o norte dos questionamentos. “E o que tem a ver a Secretaria de Comunicação com compra de vacinas? Está muito mal explicada. Vai ser um teste. Ele usou uma tática diversionista, para tirar o foco do presidente para Pazuello. Mas foi frágil. Então, vão explorar as contradições do discurso dele para pegar no pulo”, frisou.
Ainda segundo Pereira César, é possível que surjam novas informações sobre investimentos e gastos do governo. “Das oitivas até agora, essa de amanhã (hoje) é a mais delicada no sentido de que pode surgir mais coisa. Até mentiras em defesa do presidente. As relações com o Laboratório Pfizer podem ser exploradas.”
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