Poder

Cavalgada com churrasco

Manifestação na Esplanada reúne apoiadores de Bolsonaro, que renova os ataques a Lula, aos governadores e às medidas restritivas para enfrentar a pandemia. Presidente insistiu na defesa do voto impresso como medida para evitar uma suposta fraude eleitoral

» LUIZ CALCAGNO » MICHEL MEDEIROS*
postado em 15/05/2021 23:13 / atualizado em 15/05/2021 23:13
 (crédito: Fotos: Bárbara Cabral/CB/D.A Press)
(crédito: Fotos: Bárbara Cabral/CB/D.A Press)

A manifestação em apoio ao presidente Jair Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios teve churrasco, oração, aglomeração e ataques ao sistema eleitoral brasileiro. Homenageado do dia, o titular do Planalto atacou o ex-presidente Lula, os governadores e a CPI da Covid no Senado Federal. E condenou, mais uma vez, as medidas de distanciamento para o combate à pandemia. Milhares de apoiadores de Jair Bolsonaro ocupavam desde cedo a região central de Brasília. O chefe do Executivo chegou por volta de 15h30, montado a cavalo e sem máscara, acompanhado pelos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles; do Turismo, Gilson Machado; e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. Nenhum deles usava proteção no rosto.


No trio elétrico, com o presidente, estavam ainda o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas; o da Justiça, Anderson Torres; o da Defesa, Braga Netto; e deputados bolsonaristas. Ao discursar, o chefe do Executivo atacou Lula, sem citar o nome do petista, e admitiu que pode inclusive perder a eleição. “Se tiraram da cadeia o maior canalha da história do Brasil, se para esse canalha foi dado o direito de concorrer, o que me parece é que, se não tivermos o voto auditável, esse canalha, pela fraude, ganha as eleições do ano que vem”, afirmou. Pesquisa recente do Datafolha mostrou larga vantagem do ex-presidente contra Jair Bolsonaro em um eventual segundo turno. De acordo com o levantamento, Lula ganharia 41% dos votos no primeiro turno, enquanto Bolsonaro conquistaria 23%. No segundo, o placar mostra 55% contra 32% a favor do petista.


Em vários momentos, enquanto Bolsonaro falava, os manifestantes gritavam “eu autorizo”, em referência à intenção do chefe do Executivo em baixar um decreto contra as medidas restritivas para conter a covid-19. Ao comentar a pandemia — segundo ele, um evento já superado — o presidente atacou governadores e prefeitos. “Temos muitos desafios. Essa pandemia não foi fácil. Mas nós conseguimos manter o nível de empregos formais. Já os informais, quase 40 milhões, quem destruiu foram os governadores e prefeitos, com sua política sem qualquer comprovação científica do fique em casa, a economia a gente vê depois”, afirmou Bolsonaro.

Ainda sobre as medidas de isolamento social, o presidente afirmou que “o momento está maduro”. “Não desafiamos ninguém. Não queremos o confronto com ninguém. Mas não ousem confrontar ou roubar a liberdade do nosso povo”, avisou. “Vocês têm todo direito de ir e vir, o direito à crença, de trabalhar. Sem qualquer critério, esses direitos foram suprimidos de vocês por algum tempo. Acabou esse tempo. Isso não voltará a acontecer. Esse dispositivo constitucional é missão, dever de todos nós respeitarmos”, continuou. Bolsonaro disse, ainda, que fará um passeio de moto no Rio de Janeiro (RJ) no próximo domingo, e depois visitará o Equador. O presidente ainda conclamou os presentes a continuarem trabalhando, mesmo que ocorram outras ondas de recrudescimento da pandemia.


Em meio às manifestações em favor do governo, houve espaço para um churrasco. O pequeno evento dentro do protesto ocorreu sem a menor preocupação com o distanciamento social. Famílias de diversas regiões do país ficaram aglomeradas ao redor da churrasqueira montada entre dois caminhões, nas imediações do Congresso Nacional. Com máscaras no queixo, gritavam a palavra “mito” e frases em defesa do presidente.


Moradora de Imperatriz (MA), a cantora gospel Aldoraya percorreu cerca de 1.100km para prestar apoio ao chefe do Executivo. “Essa é minha primeira vez em uma manifestação em Brasília, mas lá na minha cidade eu sempre participo. Em 2018, compus duas músicas para Bolsonaro, junto com outros dois artistas da cidade. A gente sempre apoia as nossas famílias, a defesa das nossas crianças e o amor à nossa pátria. Pois a gente só via o nosso Brasil vestido de vermelho”, afirmou. Acompanhado pela família, o comerciante Aires Matos, 49 anos, veio do nordeste do Pará até a capital do país. Entre os bolsonaristas, era comum o apelo para que o comunismo “não volte ao país”, apesar de o regime nunca ter sido instaurado no Brasil. “Onde teve o comunismo nunca funcionou e sempre quem paga é o povo”, disse Aires Matos.

* Especial para o Correio

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