Roraima

Terra Yanomami: clima segue tenso após conflito de indígenas e garimpeiros ilegais

Segundo Associação Hutukara, líderes indígenas relatam mortes de duas crianças após ataque de garimpeiros ilegais na comunidade Palimiú, em Roraima. Ministério Público determinou que União deslocasse efetivo para zelar pela segurança da população local

Correio Braziliense
postado em 17/05/2021 06:00
 (crédito: Condisi-YY/Divulgação)
(crédito: Condisi-YY/Divulgação)

Líderes indígenas afirmam que duas crianças Yanomami, de 1 e 5 anos, foram encontradas mortas após o conflito armado entre garimpeiros e indígenas na comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami. O relato dos óbitos foi divulgado por Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, principal associação do povo, na tarde de sábado, em Boa Vista, após o comunicado ao Ministério Público Federal. O clima tenso vivido na Terra Indígena Yanomami no estado de Roraima fez com que a Justiça Federal determinasse, na última sexta-feira, que a União mantenha efetivo armado, de forma permanente, para evitar novos conflitos e garantir a segurança de seus integrantes.

A Polícia Federal informou que uma equipe de policiais está no local cumprindo a decisão, junto a integrantes do Exército e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A Funai disse que acompanha, junto às autoridades policiais, a apuração de conflito e que também presta apoio às forças de segurança no local para evitar conflitos, mantendo diálogo permanente com a comunidade. “Cumpre ressaltar que o órgão vem mantendo equipes de forma ininterrupta na Terra Indígena, por meio de suas Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes)”, diz a nota.

O pedido foi feito pelo Ministério Público na última quarta-feira, na Ação Civil Pública ajuizada no ano passado, na qual pediu a total desintrusão de garimpeiros na região. Segundo o MPF, o objetivo é zelar pela segurança da população local e defender possíveis novos ataques por parte de garimpeiros. A decisão e os autos do processo estão sob sigilo. Na decisão, expedida na quinta-feira pela Justiça, foi estabelecido prazo de 24 horas para que a União informasse e comprovasse nos autos o envio de tropa para a comunidade, sob pena de multa. Também foi determinada à Fundação Nacional do Índio (Funai) que auxiliasse as forças de segurança no contato com os indígenas e no gerenciamento das relações interculturais.

Histórico

A comunidade Palimiú, localizada no território Yanomami em Roraima, foi alvo de ataque de garimpeiros com armas de fogo na segunda-feira passada. De acordo com informações da Associação Yanomami Hutukara, ao menos cinco pessoas ficaram feridas, sendo quatro garimpeiros e um indígena.

Um relatório assinado por Elayne Rodrigues Maciel, coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kuana da Funai, aponta que os indígenas revidaram o ataque e que “não foi possível colher maiores informações sobre o fato, contudo é possível afirmar que este não foi o primeiro conflito naquela região e os indígenas temem novos ataques”.

A Hutukara denunciou que esse é o terceiro ataque em 2021. Na região de Palimiú, as lideranças indígenas já haviam denunciado em abril outro tiroteio por parte de garimpeiros, após a interceptação pelos indígenas de uma carga de quase 990 litros de combustível. Em fevereiro de 2021, a associação chegou a denunciar um conflito na aldeia Helepi, também na região do Rio Uraricoera, envolvendo grupos de garimpeiros armados.

Policiais federais também foram alvo de disparos no local, na terça-feira, quando estiveram na comunidade para apurar o ataque dos garimpeiros. No momento em que a equipe estava prestes a embarcar de volta a Boa Vista, uma embarcação de garimpeiros passou no Rio Uraricoera efetuando os disparos. A equipe se abrigou e respondeu a agressão. Não houve registro de atingidos de nenhum dos lados.

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