Um dos integrantes da linha de frente de defesa do governo na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) acredita que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello não deve ficar calado durante depoimento na próxima quarta-feira (19). O general obteve o direito ao silêncio em habeas corpus (HC) impetrado pela Advocacia-Geral da União (AGU) no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Eu acho que a tendência é que ele fale abertamente e enfrente todos os pontos, não vejo porque ele não falar. Não acho que tenha nenhuma acusação contra ele ou contra a gestão dele que represente algum impedimento para ele falar. A verdade é a melhor defesa", disse. O depoimento do Pazuello é visto como um dos mais importantes da CPI e um dos mais temidos pelo governo.
Confira trechos da entrevista:
A possibilidade de o ex-ministro Pazuello se silenciar vai trazer prejuízos à CPI?
Eu não ouvi, por parte do governo, nada em relação a isso, e por parte dele, também não. Até agora, não vi nenhuma declaração dele dizendo que vai ter isso. A questão do habeas corpus acabou sendo uma busca necessária em razão da maneira que o relator (Renan Calheiros) vem conduzindo a tomada de depoimento. O HC protege contra excessos e abusos. Mas não significa um impeditivo ao depoimento.
Eu acho que o ministro vai ter a liberdade para falar sobre todos os fatos relacionados à sua gestão. Resta saber se o depoimento vai ser como testemunha ou como investigado. Se o depoimento vai numa linha dele como investigado, claro que aí ele pode dizer que não vai falar, que vai falar só no processo. Como testemunha ele tem que falar, aí é falar sobre os fatos, sobre a versão dele sobre os fatos.
Eu acho que a tendência é que ele fale abertamente e enfrente todos os pontos, não vejo porque ele não falar. Não acho que tenha nenhuma acusação contra ele ou contra a gestão dele que represente algum impedimento para ele falar. A verdade é a melhor defesa.
O senhor acho que ele não vai ficar calado em nenhuma resposta?
Eu acho que não. A não ser que não tenha nada a ver com a gestão dele. Eu acho que para perguntas impertinentes e que não tenha conexão com a atuação dele como ministro, aí é opção dele falar ou não. Ele não é obrigado a se manifestar sobre aquilo que não é objeto da atuação dele.
A questão do oxigênio em Manaus foi um dos momentos mais críticos da gestão dele. Como o senhor e a base pretende lidar com isso no depoimento do Pazuello?
Olha, essa pergunta aí é uma pergunta que eu acho que ela tem duas linhas de resposta. Uma que vai vir do Pazuello e outra que que virá do secretário de Saúde de Manaus e do ex-secretário-executivo. Porque ali tem que apurar a responsabilidade. Foi responsabilidade do governo federal ou do governo do estado? O governo do estado agiu para proteger a população ou agiu no sentido de expor a população ao risco e ao dano irreparável, que foi a perda de vidas? Isso tudo vai ter que estar na mesa.
Mas o Pazuello estava lá no momento da iminência de falta de oxigênio. O senhor acha que isso pode gerar uma pressão a mais?
O fato de o ministro estar em algum lugar não determina que ele seja responsável por aquilo. A responsabilidade sobre essa situação era do ministério ou era do estado? O que cabia ao ministério e o que cabia ao estado? Isso aí que tem que ser apurado e cada um responder dentro da sua possibilidade.
E os 23 pontos levantados pela Casa Civil? Não preocupam?
Não. Isso aí… Aquilo lá foi fruto da percepção do que eram os temas que eles vinham batendo. Não era deles isso ali. Acho que o governo não tem que estar preocupado com narrativa de oposição, tem que estar preocupado em mostrar o que fez, como fez e o que fez. Até agora, o que estou vendo é narrativa. Não conseguiram encontrar nenhum crime contra o presidente até o momento. Se quiserem imputar alguma coisa, vão ter que criar crime. Porque até agora não encontraram.
Quarta-feira é o dia mais importante e temeroso ao governo?
Eu acho que é o depoimento mais importante, porque é o ministro que esteve mais tempo à frente do ministério. Mas não que tenha mais preocupação por isso ou por aquilo. Não acho que o governo tem que ter preocupação com alguém que esteve à frente do ministério naquele momento e que fez o que era possível fazer. Pode ter cometido erro? Pode até ter cometido erro. Agora, todo gestor no meio da pandemia pode cometer erro, porque você esta diante de uma situação inusitada. Mas crime, não vejo nada que aponte para essa direção.
O senhor acha que o depoimento do Pazuello não vai complicar o governo?
Acho que não.
Há algum receio que ele diga algo que prejudique o presidente?
Acho que não. Não tenho essa preocupação, não. A partir das informações que eu tenho, não tenho essa preocupação.
A CPI já desgastou o governo?
Acho que a gente tem que fazer a leitura assim: o povo estava quieto. Quando começa a ampliar eco de CPI, o povo começa a ir para a rua, manifestar. Será que é desgaste ou despertar de uma parcela da sociedade que estava tranquila, vê essa situação orquestrada e começa a se mexer, a se movimentar? Depende da leitura de quem faz. Se você ouvir alguém da oposição, vai dizer que a rejeição (do presidente) aumentou. Se você falar com alguém do governo, está vendo é o povo se manifestando a favor dele (do presidente).
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.