Eleições 2022

Especialistas: com rejeição, Bolsonaro pode ser ultrapassado por candidato de centro

O Presidente da República tem visto sua rejeição crescer junto com o número de mortes da pandemia e o alto índice de desemprego. Para especialistas, isso pode lhe custar a eleição

Israel Medeiros
João Vitor Tavarez*
postado em 28/05/2021 22:27 / atualizado em 28/05/2021 22:31
 (crédito: Evaristo Sa/ AFP )
(crédito: Evaristo Sa/ AFP )

Ainda falta mais de um ano para as eleições de 2022, mas o que se vê é um clima de campanha entre os principais candidatos à presidência da República. Ambos, Jair Bolsonaro (sem partido) e Lula (PT), têm feito movimentos com vistas ao pleito. Apesar de encabeçarem a lista de candidatos, tanto Lula quanto Jair possuem elevado índice de rejeição, o que pode apontar para um aumento da polarização até o período eleitoral.

Uma pesquisa do PoderData, realizada entre os últimos dias 22 e 26 de maio mostra que a rejeição ao governo de Jair Bolsonaro subiu a um recorde de 59%. Segundo o levantamento, trata-se do maior nível desde junho de 2020. A pesquisa ouviu 2,5 mil participantes de todo o país e tem margem de erro de dois pontos percentuais.

O Instituto Datafolha também aponta para um alto nível de rejeição ao presidente Bolsonaro. Em pesquisa com 2 mil participantes, realizada entre 11 e 12 de maio, 54% do eleitorado não votaria no presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Entre os que não votariam em Lula, o percentual é de 36%.

Por outro lado, Lula lidera as intenções de voto em 2022: se as eleições fossem hoje, o petista teria votos, em 1º turno, de 41% dos brasileiros com 16 anos ou mais, diz o Datafolha. Bolsonaro aparece na sequência, com 23% das intenções do eleitorado. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

Atualmente não há, nem nos resultados das pesquisas, nem na boca de especialistas e políticos, um nome de centro, ou seja, uma “terceira via” que seja capaz de rivalizar com Bolsonaro e Lula. É o que explicou Arthur Lira (PP-AL), em entrevista à Rádio Bandeirantes na última semana.

“Eu não acredito em uma terceira via. Acho que os dois candidatos são fortes, está muito cedo, tem muita votação importante que pode mudar significativamente o quadro do Brasil, então acho que os dois (Bolsonaro e Lula) são os mais fortes, eu não acredito numa terceira via. Mas não é de hoje, desde a redemocratização, sempre teve polarização”, disse, referindo-se ao PT e PSDB, que são partidos considerados de esquerda e centro-esquerda.

Para Márcio Coimbra, mestre em ação política e coordenador de pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais do Mackenzie, existe uma parcela de eleitores que não entra nas intenções de votos entre Lula e Bolsonaro. “Ela corresponde a cerca de 20 a 25% do eleitorado. Mas, no momento, ainda não existe um nome promissor que represente esse grupo intermediário. Se não houver uma terceira via que se apresente logo, a tendência é que a eleição seja cada vez mais polarizada. Se isso acontecer, é grande a chance do Lula vencer logo em primeiro turno”, avaliou.

O especialista acredita que o alto índice de rejeição a Bolsonaro pode ser explicado tanto pela situação econômica ruim do país quanto pela falha na adoção de medidas que pudessem, de fato, conter tanto o avanço da pandemia quanto do desemprego. Isso, acredita Coimbra, aliado à repercussão negativa das informações da CPI da Pandemia, no Senado Federal, pode indicar para uma queda ainda maior de popularidade nos próximos meses.

Adriano Oliveira, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, também vê uma tendência de piora da imagem do governo frente ao eleitorado. “A situação é crítica, tem CPI, possibilidade de racionamento de energia, inflação alta, desemprego. Se a rejeição passar dos 60%, acende a luz vermelha para ele”, pontuou.

A busca por um novo partido, comenta Oliveira, pode ser uma jornada difícil para Bolsonaro, uma vez que ele busca um partido onde possa ter poder de influência. O PP, de Arthur Lira, talvez seja um destino possível, na sua avaliação. Mas quanto mais Bolsonaro demora a escolher uma legenda, “mais difícil fica escolher”.

Para o cientista político, com a popularidade em baixa, Bolsonaro poderia ser ultrapassado na corrida eleitoral por um nome de centro, caso um nome de peso se juntasse à disputa. “Se o presidente Bolsonaro continuar perdendo popularidade, um candidato de centro pode ir para o segundo turno com o Lula. Bolsonaro precisa torcer para a pandemia ir embora. Então ele não é um político de construção, sua estratégia sempre foi o enfrentamento”, concluiu.

*Estagiário sob a supervisão de Renato Souza.

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