Membro permanente da CPI da Covid no Senado, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE) pretende destrinchar o envolvimento da médica Nise Yamaguch com o “gabinete paralelo” instalado no Palácio do Planalto para enfrentar a doença. “Queremos saber se esse trabalho incluiu essa tentativa de elaborar um decreto presidencial ou uma medida provisória que incluísse a cloroquina como um medicamento que tivesse na sua bula a recomendação do seu uso para a Covid-19”, detalhou o senador, que deu entrevista ao CB.Poder desta segunda-feira (31/5), uma realização do Correio Braziliense e a TV Brasília.
Temos um mês de CPI, qual avaliação o senhor faz do trabalho até aqui? Já deu para saber quem tem responsabilidade nessa situação?
Estamos convencidos daquela hipótese levantada pelo Conectas, pelos pesquisadores da Universidade de São Paulo, de que o governo federal adotou como estratégia para o enfrentamento a covid-19 a chamada tese da imunidade de rebanho. Essa hipótese é, na minha opinião, flagrantemente criminosa, porque assim o presidente teria assumido o risco de provocar um grande dano a população, como realmente provocou. Acredito que, pelas manifestações que aconteceram dos depoentes até agora, essa tese está em vias de ser comprovada.
O presidente tem relação direta? Haverá uma responsabilização ou está na linha de comando do Ministério da Saúde, leia-se Eduardo Pazuello?
Está na linha direta do presidente. Pazuello era apenas um ministro de direito, o ministro de fato era o presidente da república. Pazuello era um preposto de Bolsonaro e tudo que ele fez, fez a mando, sob orientação e em concordância com o presidente da República. Tanto que eu disse, naquele dia que o Pazuello estava na CPI, que quem devia estar sentado ali era Bolsonaro. O Pazuello passou 10 meses como ministro, o mais longevo dos ministros da saúde do governo Bolsonaro, porque seguiu à risca todos os desejos, todos os caprichos, as vontades e as orientações de Bolsonaro. O grande causador dessa tragédia que o Brasil vive hoje chama-se Jair Bolsonaro.
Hoje será ouvida a doutora Nise Yamaguchi, que defende a hidroxicloroquina. Qual a expectativa do senhor?
A doutora Nise Yamaguchi vai cumprir, na minha avaliação, três papéis importantes: o primeiro deles, ela deve responder às nossas indagações quanto à participação dela no chamado "gabinete de crise" para o enfrentamento da pandemia da covid, que foi criado pelo presidente Bolsonaro, do qual ela fazia parte nesse gabinete. O grupo foi criado com objetivo de promover e divulgar estudos sobre a utilização da hidroxicloroquina e da cloroquina no tratamento da covid-19.
O que vocês vão perguntar?
Nós queremos saber, por exemplo, se esse trabalho incluiu essa tentativa de elaborar um decreto presidencial ou uma medida provisória que incluísse a cloroquina como um medicamento que tivesse na sua bula a recomendação do seu uso para a covid-19. Se fala desse gabinete paralelo, de um gabinete das sombras, que segundo se conta, ela também faria parte e esse gabinete seria o grande orientador do presidente à pratica do seu enfrentamento a covid 19.
Tivemos manifestações no último sábado, com aglomerações. Como o senhor avalia?
Não participei das mobilizações pelas razões pelas quais você mesmo elencou. Entendo perfeitamente o sentimento que uma grande parte da população brasileira está vivendo hoje. O presidente da República permanentemente debocha da situação que nós estamos vivendo; tenta vender a ideia de que tem amplo apoio popular, e acho que isso fez com que as pessoas organizassem essa manifestação quase que como um desabafo. Politicamente, foi muito forte. É inegável que algumas das mobilizações tiveram repercussão gigantesca, como a de São Paulo.
Houve muita violência no Recife. O que aconteceu?
É bom dizer que não houve uma guerra entre manifestantes e policiais. Houve uma iniciativa da polícia em atacar os manifestantes. O processo todo, eu estava acompanhando pelas redes sociais, estava se dando de uma maneira pacífica. Inclusive foi um dos atos onde mais as medidas de afastamento social estavam sendo cumpridas. Houve distribuição de máscaras. No final, quando ia acontecer a dispersão, a polícia atacou os manifestantes. Duas pessoas que não tinham nada a ver com a manifestação, estavam passando pelo local, foram atingidas por balas de borracha.
Houve mais vítimas.
Uma vereadora do PT (Liana Cirne) de Recife, que se identificou, inclusive, aos policiais para pedir a eles tranquilidade naquele momento, foi vítima de um ataque com gás de pimenta diretamente nos seus olhos. A todo momento, ficamos cobrando ao governador e ao governo uma atitude para que isso cessasse. Finalmente, o governo e o governador se manifestaram condenando a violência, dizendo que em nenhum momento isso partiu de ordens do governo do estado. Afastaram o comandante da operação, os policiais e se comprometeram a fazer uma investigação que possa responsabilizar as pessoas que usaram dessa pratica.
Como qualifica a atuação da Polícia Militar?
Não quero fazer nenhum julgamento prévio, mas, ao que tudo indica, esses policiais agiram politicamente. Há informações de que seriam identificados com ideias bolsonaristas e agiram para atacar aqueles que estavam fazendo uma manifestação contra Bolsonaro. Em Recife, aconteceram ao longo do tempo muitas manifestações de bolsonaristas e nunca a polícia agiu com a violência a qual agiu nessa semana. Não se pode generalizar para a Polícia Militar como um todo, mas esses policiais, sim, precisam ser investigados e responsabilizados.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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