CPI da Covid

Maierovitch: 'Governo tentou produzir imunidade de rebanho a custo das vidas'

À CPI, médico da Fiocruz ressaltou que o governo "se manteve na posição de produzir imunidade de rebanho para a nossa população, em vez de adotar as medidas reconhecidas pela ciência para enfrentar esta crise"

Sarah Teófilo
postado em 11/06/2021 13:02 / atualizado em 11/06/2021 13:53
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 nesta sexta-feira (11/6), o médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Cláudio Maierovitch criticou a chamada “imunização de rebanho natural”, que é a ideia de que se deixa as pessoas se contaminarem com a covid-19 a fim de que adquiram uma “imunidade”, sem a necessidade de vacina. A ideia foi defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, quando ele afirmou que o novo coronavírus é como uma “chuva”, que molharia 70% da população.

Cláudio Maierovitch ressaltou que o governo “se manteve na posição de produzir imunidade de rebanho para a nossa população, em vez de adotar as medidas reconhecidas pela ciência para enfrentar esta crise”.

O médico afirmou que faltou no Brasil um plano de coordenação no âmbito da pandemia, e disse que “esta aparência de inexistência do plano talvez revele muito mais”. “(Talvez) Revele a existência de um plano, de um plano que parou em março de 2020, quando alguns, felizmente poucos, líderes internacionais acreditaram que o melhor caminho para vencer a crise era que a doença se espalhasse rapidamente, e que quem tivesse que morrer, morreria, e quem sobrevivesse continuaria tocando a economia, como se diz. Morreriam provavelmente os mais frágeis, desonerando a previdência, desonerando serviços de saúde, ou seja, do ponto de vista econométrico, poderia ter-se até um acontecimento positivo”, disse.

Aquilo, segundo ele, foi chamado “de produção de imunidade de rebanho”. “Nós não somos rebanho, e não existe nenhum coletivo da palavra ‘pessoa’ ou ‘gente’ que seja traduzido como rebanho. Nós temos diversos: temos multidão, povo, temos muitos coletivos nos nossos dicionários, e rebanho não é um deles. Rebanho se aplica a animais, e fomos tratados dessa forma. Acredito que a população brasileira tem sido tratada dessa forma ao se tentar produzir imunidade de rebanho às custas de vidas humanas”, disse.

Vacina

A microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Natalia Pasternak, que também está depondo à CPI, afirmou que a humanidade “nunca erradicou ou controlou uma doença no mundo com imunidade de rebanho”. “A gente controlou com vacinas”, disse, citando como exemplos a varíola e a pólio, “que também não têm remédio, têm vacina”.
“E a gente conseguiu controlar com vacina, mas ainda não conseguimos erradicar. E o motivo pelo qual a gente não conseguiu ainda erradicar a pólio é justamente a atuação de alguns grupos contrários, por diversos motivos, mas que acabam prejudicando a adesão à campanha de vacinação, principalmente em alguns países específicos. Tradicionalmente, doenças virais se controlam com vacinas”, afirmou.

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