Jogo eleitoral

Flávio diz que Bolsonaro quer partido com segurança jurídica e sem desavenças

Para o senador, filho do presidente, membros do Patriota, sigla escolhida por Jair Bolsonaro não estão entendendo "o tamanho do jogo que a gente quer jogar"

Ingrid Soares
postado em 14/06/2021 15:10 / atualizado em 14/06/2021 15:10
 (crédito: Pedro França/Agência Senado)
(crédito: Pedro França/Agência Senado)

Após se filiar ao Patriota, o senador Flávio Bolsonaro abre caminho para a chegada do pai, o presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar afirmou nesta segunda-feira (14/6), durante convenção da sigla, que o chefe do Executivo deseja se filiar ao partido, mas que, para isso, precisa de segurança jurídica e que o racha interno da agremiação seja resolvido.

"A percepção que dá é que não estão entendendo qual é o tamanho do jogo que a gente quer jogar. Já convidei outra vez e vou convidar de novo. Eu quero que a gente jogue a série A. Ninguém está vindo aqui para jogar a série B mais não, porque muito mais coisa está em jogo do que uma função ou outra do partido", apontou.

O senador ressaltou que Bolsonaro deseja um partido livre de "preocupações partidárias". "Reafirmo que a preocupação minha e do presidente, que está aguardando os desdobramentos do Patriota internamente, é que nós não queremos preocupações partidárias. O presidente já tem o país para tomar conta e a gente tem que ocupar a cabeça com as questões eleitorais. A nossa preocupação é termos autonomia na hora de tomada de decisão, na hora que formos fechar palanques para estados, governadores, senadores", acrescentou.

O filho "01" do presidente tentou passar uma mensagem apaziguadora, ressaltando que a possível ida de Bolsonaro para a legenda não significa que ele queira tomar espaço, e que compreende oposições à sua chegada.

"Tudo isso só vai ser possível com a questão partidária resolvida. Ninguém quer tomar espaço de ninguém. Eu só quero chamar todos a uma reflexão, que eu compreendo aqueles que não se sentiram confortáveis com a nossa vinda para o Patriota, com a minha vinda, pelo menos, até o momento. Eu entendo isso, é normal. Dentro de um partido nunca haverá 100% de consenso sobre todas as coisas, é mais do que natural que exista alguma reação", emendou.

"Olha o que aconteceu com o PSL, que passou de um deputado para 52 em apenas uma eleição. E por que a gente não pode repetir isso no Patriota? Vamos pensar grande, maior, tem muito mais coisa em jogo que apenas um diretório municipal, estadual. O partido é para dar tranquilidade, o presidente quer vir com esse contexto de tranquilidade, de segurança jurídica obviamente, nossa preocupação é estruturar o partido para que, em 2022, nós possamos jogar a série A", continuou.

Flávio destacou a polarização entre Bolsonaro e Lula para as eleições de 2022. "Acho que já ficou bem claro para todo mundo qual é o cenário de 2022, ou é o lado A ou o lado B." "O outro lado voltando, pode ter certeza que é o fim do nosso país. Basta olhar para os exemplos que temos aqui no entorno do nosso país. Bolsonaro quer, já manifestou a intenção de vir para o Patriota, mas quer vir com segurança jurídica, tranquilidade de que ele não vai precisar se preocupar com a questão partidária."

Por fim, o senador relatou que o mandatário deverá se reunir nesta semana com a bancada do partido para tomar a decisão final, e convidou os membros da sigla a uma aliança. Aos opositores, deixou uma alfinetada: "Convido a todos a participarem e caminharem conosco, e aqueles que não quiserem, também, fiquem à vontade".

Imbróglio

Em vista das eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro tem pressa de escolher a nova sigla para sua filiação. No entanto, um novo imbróglio surgiu. O Cartório do Primeiro Ofício de Notas do Distrito Federal, do Núcleo Bandeirante, emitiu uma nota devolutiva exigindo que o presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso, preste maiores esclarecimentos sobre o quórum qualificado da convenção ocorrida em 31 de maio para que possa registrar o resultado da convenção do partido, a qual aprovou a entrada de Flávio.

Com o objetivo de tentar uma conciliação do partido e evitar o naufrágio das chances de vinda de Bolsonaro, Adilson convocou nova convenção nesta segunda-feira. No entanto, os membros ainda não chegaram a um consenso, e uma parte defende, novamente, que Adilson não teve quórum qualificado para deliberação e decisões na reunião.

O vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, disse em nota que "no desespero, o presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso, promove um verdadeiro festival de fraudes na convenção de hoje. De novo, não houve debate democrático. De novo, não houve transparência, principalmente em relação ao Estatuto. De novo, promove uma votação sem ter quórum qualificado, que é determinação expressa no estatuto do partido, pois a maioria dos votos que conseguiu, mais uma vez, foi de forma irregular. Nosso departamento jurídico está estudando quais serão os caminhos que iremos seguir", declarou.

Apesar de recente, a migração do clã Bolsonaro para a sigla provocou a expulsão de membros como o vereador paulistano e advogado do MBL (Movimento Brasil Livre) Rubinho Nunes, avesso ao filho do chefe do Executivo, assim como Gabriel Azevedo, vereador de Belo Horizonte, opositor ao governo. Há ainda um racha interno entre duas alas.

A primeira é chefiada por Adilson, que defende a ida de Bolsonaro para o partido, com o objetivo de torná-lo “o maior do Brasil”. Do outro lado, está o vice-presidente, Ovasco Resende, que reclamou da falta de diálogo na sigla e atos individuais do presidente do partido sobre a maneira como o convite foi feito.

Resende foi à Justiça (TSE), junto a outros membros, contra Adilson, acusando-o de irregularidades na organização da convenção nacional em que foi anunciada a entrada do filho do presidente. Ele acusa Adilson de alterar a composição do colégio eleitoral no sistema do TSE para garantir maioria na votação que alterou o estatuto e favorecer a entrada dos Bolsonaro. Para tanto, houve a destituição de quatro delegados, além da dissolução de cinco diretórios estaduais, sem consulta interna. Outra acusação é de ter promovido a convenção sem divulgá-la, contrariando estatuto partidário.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, viu “elevada gravidade” nas acusações, mas remeteu o processo ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

No último dia 1º, Bolsonaro se reuniu com Adilson no Palácio do Planalto, quando recebeu convite oficial para migrar para a sigla e ressaltou que deverá dar resposta nesta semana sobre sua decisão.

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