SENADO FEDERAL

"CPI terá relação clara de autoria", afirma o senador Alessandro Vieira

De acordo com o parlamentar, comissão já provou que o governo, por ação ou omissão, retardou a compra de vacina e desinformou o cidadão

Sarah Teófilo
postado em 15/06/2021 06:00 / atualizado em 15/06/2021 08:15
 (crédito: Credito:Edilson Rodrigues/Agencia Senado )
(crédito: Credito:Edilson Rodrigues/Agencia Senado )

Apesar de não ser titular da CPI da Covid, o senador Alessandro Vieira (sem partido-SE) tem mostrado atuação marcante na comissão como suplente. Foi dele a ideia de estabelecer um critério para a convocação de governadores: aqueles envolvidos em operações da Polícia Federal no âmbito da pandemia. Também foi o parlamentar que frisou a importância de aprovar quebras de sigilos fiscais, telefônicos e telemáticos. Com a experiência de 17 anos como delegado da Polícia Civil, consegue interrogar e “cercar” aqueles que prestam depoimento na CPI. Para o senador, ao final dos trabalhos, a comissão identificará culpados pelo desastre da pandemia no Brasil. “Tenho certeza de que a CPI vai fazer sua manifestação final com base em fatos graves, devidamente comprovados, e com uma relação clara de autoria”, disse ao Correio. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O que os depoimentos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do ex-secretário-executivo da pasta Elcio Franco acrescentaram à CPI?
Foi possível questionar o ministro sobre a questão da autonomia de gestão e a definição técnica para o combate à pandemia. Ele fez algumas afirmações que se mostraram incoerentes com a realidade. É muito evidente que ele não tem essa autonomia, seja porque a equipe que está abaixo dele não segue o seu comando, mas, sim, o do presidente; seja porque o presidente não acata nenhum tipo de orientação técnica respeitável. O coronel Elcio reforçou a nossa convicção de que existe uma missão de desinformar o cidadão, de não comprar ou protelar a compra de vacinas e de investir nas chamadas teorias de tratamento precoce.


Houve uma série de quebras de sigilo e começam a aparecer nomes de empresas. A CPI toma o caminho de investigar se havia  interesse econômico nas orientações de uso de medicamentos sem eficácia contra covid-19 por parte do presidente e de outras autoridades do governo?
A gente tem de entender esses fatos e esgotar as possibilidades. Pode ter apenas um grupo de pessoas, ‘voluntariosas’, que seguem o caminho errado e que são alucinadamente negacionistas, ou você pode ter alguém que aproveita essa onda para ter um lucro fora do normal com a venda dos seus produtos.

Acredita que existia algum interesse econômico dessas pessoas que ficavam no entorno do presidente incentivando o uso de cloroquina e ivermectina?
É uma possibilidade. A gente não pode fazer afirmações assim neste momento.
E por parte do presidente, por exemplo: a indiferença dele em relação à Pfizer e ao Butantan e o interesse em relação à Bharat


Biotech? O senhor acredita que aponta para algum indício?
Claramente, demonstra a incoerência, no mínimo. A distância oceânica entre as negociações, na forma, nos valores, em tudo. Agora, as razões para que isso aconteça, espero que surjam nas próximas semanas.

Até o momento, o que a CPI conseguiu provar?

De forma muito clara, já provou que o governo federal, por ação ou omissão, retardou a compra de vacina e desinformou o cidadão. Estamos juntando manifestações de cientistas, estudos em cima de modelos matemáticos que colocam — como um estudo do professor Pedro Hallal — o número de centenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. Fora os milhões de pessoas que tiveram a doença, foram internadas e que poderiam ter sido mais bem protegidas. Esses são fatos gravíssimos, e que a gente tem de avançar para deixar bem delineado.

A omissão por parte do presidente está comprovada?
Eu acredito que os indícios dessa omissão e da própria ação deliberada são cada vez mais fortes. É prematuro fazer uma afirmação já de indiciamento, mas os fatos são cada vez mais graves e todos eles apontam para a ação ou omissão do presidente.

A existência do gabinete paralelo está comprovada?
Sem dúvida nenhuma, tem uma estrutura cristalinamente montada para assessorar o presidente, para influenciar a tomada de decisão, para sabotar as orientações dos ministros da Saúde. Isso é um ponto muito importante, porque os ministros (Luiz ) Mandetta, (Nelson) Teich faziam as orientações no sentido técnico correto, assim como o ministro Queiroga faz, mas eles são sabotados, porque, em paralelo, você tem uma estrutura que fica boicotando essas atividades.

Existe suspeita de que pessoas que integram esse gabinete poderiam ter interesse financeiro ao difundir essas questões?
A gente precisa entender antes de fazer acusações açodadas, porque tem um processo decisório absolutamente opaco e equivocado. Então, tem um grupo que participa desse processo decisório e que, daí, influencia diretamente em várias esferas, na saúde, na comunicação. Eles têm a interferência direta que a gente tem de entender como acontece, a motivação. Tudo isso exige ainda alguns passos a mais de investigação.

Os senhores têm falado muito sobre o fato de, na negociação, a vacina da Pfizer ter passado
de US$ 10 para US$ 12. Há suspeita de que alguém embolsou a diferença?
Não temos essa informação, precisamos entender melhor esse processo. Mas, muito claramente, quando você deixa de comprar uma coisa por 10 e compra depois por 12, causa prejuízo nos números de vacinas fornecidas, no prazo de entrega e no custo final. Isso precisa ser muito bem explicado e entendido, como é o caso do programa de testagem de avaliação, em que o governo federal descontinuou a parceria da Universidade Federal de Pelotas, que custava R$ 12 milhões para testar 100 mil pessoas, e partiu para um outro programa, que custa R$ 200 milhões para testar 200 mil pessoas. Uma discrepância muito grande e que, até o momento, ninguém conseguiu explicar a motivação.

Ao final da CPI, teremos culpados pelo descontrole da pandemia?
Teremos indiciamentos com base em fatos consistentes. Tenho convicção de que o relatório final trará o indiciamento de pessoas que tiveram participação central nesse desastre.

A CPI vai ter prova concreta para enquadrar alguém?
Sim, tenho certeza de que sim.

E o presidente pode ser essa pessoa?
É uma possibilidade também, mas que não dá para antecipar hoje. Tenho certeza de que a CPI vai fazer sua manifestação final com base em fatos graves, devidamente comprovados, e com uma relação clara de autoria.

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