A CPI da Covid aprovou, ontem, a quebra de sigilo de empresários que lucraram com a venda de medicamentos do chamado “kit covid”, além de Carlos Wizard, apontado como integrante de um gabinete paralelo de assessoramento ao presidente Jair Bolsonaro na pandemia. Remédios como hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina e ivermectina têm uso incentivado pelo chefe do Planalto, mesmo sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. A intenção dos senadores é saber se há alguma relação dos empresários com integrantes do governo.
Ao todo, foram aprovados quatro requerimentos apresentados pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) para quebrar o sigilo fiscal, bancário, telemático e telefônico dos empresários José Alves Filho, da Vitamedic Indústria Farmacêutica; Francisco Emerson Maximiano, da Precisa Medicamentos; Renato Spallicci, presidente da Apsen Farmacêutica; e Renata Farias Spallicci, diretora da empresa entre janeiro de 2020 e maio de 2021.
O documento que pede a quebra de sigilo da Vitamedic e da Precisa aponta que a CPI quer “entender adequadamente” a relação com Bolsonaro e o Ministério da Saúde, “sobretudo no tocante ao aparente patrocínio administrativo de interesses não republicanos”. Já em relação à Apsen, os senadores buscam apurar os contatos entre o Ministério das Relações Exteriores e empresas indianas para desembaraçar pedidos de importação de hidroxicloroquina.
E-mails da diplomacia brasileira em posse da CPI — obtidos pela agência Fiquem Sabendo, especializada em Lei de Acesso à Informação — mostram que o governo Bolsonaro atuou de forma ágil para liberar as importações da Apsen e de outras farmacêuticas (EMS, Purifarma e NC Farma). O esforço pela cloroquina se contrapõe à postura do Executivo em relação às vacinas. No caso da Pfizer, o governo demorou mais de dois meses para responder aos contatos.
Receita
Ao pedir as quebras de sigilos, Randolfe Rodrigues citou dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) que apontaram um salto na receita de empresas brasileiras com cloroquina e hidroxicloroquina, remédios usados contra malária e lúpus. Os dados mostram que o valor arrecadado em 2020 com os medicamentos foi de R$ 91,6 milhões ante R$ 55 milhões no ano anterior. A venda da ivermectina subiu de R$ 44,4 milhões em 2019 para R$ 409 milhões em 2020 — alta de 821%.
A Vitamedic é uma das principais produtoras de ivermectina do país. O medicamento é usado para tratar vermes ou parasitas, mas seu uso contra covid-19 passou a ser incentivado por Bolsonaro. Já a Precisa intermediou a negociação entre o governo brasileiro e a empresa Bharat Biotech para a compra da vacina indiana Covaxin.
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