Queiroga desconfia da vacina; de Bolsonaro, não

Ao contrário daquilo que disse na CPI, ministro faz "ginástica" retórica e concorda com presidente ao dizer que não "se tem ainda todas as evidências científicas" sobre o alcance das vacinas. E se justifica afirmando que é necessário "contestar tudo"

*Correio Braziliense» RENILDO CALHEIROS Deputado federal por Pernambuco e líder do PCdoB na Câmara»
postado em 18/06/2021 23:36
 (crédito: Myke Sena)
(crédito: Myke Sena)

Depois de contradizer Jair Bolsonaro durante depoimento na CPI da Covid, ressaltando ineficácia dos medicamentos do chamado “kit covid” no combate ao novo coronavírus e incentivando a vacinação da população, Marcelo Queiroga defendeu as dúvidas lançadas pelo presidente sobre as evidências científicas de que os imunizantes são a arma mais eficiente contra o novo coronavírus. O ministro da Saúde disse que Bolsonaro tem razão quando fala que “não se tem ainda todas as evidências científicas” dos imunizantes.


“O presidente Jair Bolsonaro fala que não se tem ainda todas as evidências científicas e se interpreta que o presidente está questionando as vacinas. Nós temos que questionar tudo. Ainda não se tem todas as evidências científicas mesmo não”, afirmou Queiroga, durante evento no Rio de Janeiro, que divulgou o novo calendário da vacinação na cidade.


Para exemplificar, Queiroga citou que ainda não se sabe “se podemos vacinar um indivíduo com a vacina de uma marca e dar a segunda dose com outra”. “E como nós vamos saber disso? Fazendo pesquisa. E é por isso que essas pesquisas avançam. As crianças devem ser vacinadas? Como é a vacinação com gestantes? Então, são respostas que precisam ser dadas”, completou.

Contestação

Bolsonaro permanentemente põe em dúvida a credibilidade das vacinas, contestando a segurança e eficácia dos fármacos, já comprovadas por estudos clínicos e, pelo menos no caso da Pfizer, aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — as demais estão autorizadas para aplicação por meio da permissão para uso emergencial. Em janeiro, ao falar com jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que ainda não está comprovado cientificamente que os imunizantes podem prevenir a população de contrair o novo coronavírus.


Na semana passada, o presidente voltou a questionar a eficácia das vacinas ao compará-las com os medicamentos do chamado “tratamento precoce”, que não têm eficácia cientificamente comprovada contra a covid-19. “(Remédios do chamado tratamento precoce) não têm comprovação científica. Eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está (em estado) experimental”, disse.


Apesar de defender os questionamentos e a posição de Bolsonaro em relação à vacina, Queiroga ressaltou que elas são a esperança, já que o momento da pandemia que o país vive ainda inspira cuidados. “Hoje, a média móvel de óbitos está abaixo de 2 mil, ainda é um número alto, que temos que reduzir. E nós temos, hoje, uma esperança, que são as vacinas”, disse.


O ministro reforçou o compromisso de imunizar toda a população brasileira adulta com as duas doses até o fim do ano. “Nós já anunciamos que, até o final do ano, toda a população brasileira acima de 18 anos estará vacinada e podemos anunciar isso por, conta do nosso Programa Nacional de Imunização”, reforçou.


A meta de Queiroga é aplicar pelo menos a primeira dose em todos os adultos até setembro. Assim, a população conseguiria receber a segunda dose até o final de 2021, pois o maior prazo entre a primeira e a segunda doses são 12 semanas.


Queiroga brincou, ainda, sobre a “corrida das vacinas”, que vem sendo disputada por alguns governadores e prefeitos. “O Oswaldo Cruz enfrentou a Revolta da Vacina, (na qual) as pessoas não queriam se vacinar. Hoje, nós vivemos a ‘guerra das vacinas’. Tem a boa guerra e a má guerra”, brincou.

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Sem IFA, produção da CoronaVac vai parar

Após entregar mais 2,2 milhões de doses da CoronaVac, as últimas produzidas a partir do lote de insumos recebido em maio, o Instituto Butantan paralisou a produção do imunizante contra a covid-19 e aguarda da China o recebimento de mais uma remessa do ingrediente farmacêutico ativo (IFA). Como o novo carregamento só deve chegar no dia 26, o imunizante só voltará a ser repassado ao Ministério da Saúde a partir de 15 de julho.


“A chegada do IFA, agora no dia 26, nos permite prever a entrega já dessa nova produção a partir do dia 15 de julho. A partir desta data, pretendemos iniciar a distribuição desse lote (de 10 milhões de doses)”, informou Dimas Covas, diretor do Butantan. Isso porque o instituto precisa de, aproximadamente, 20 dias para produzir a CoronaVac, a partir da chegada dos insumos, que passa pelos processos de envasamento, rotulação e checagem dos lotes.


Covas ressaltou que, durante o tempo de espera pelo IFA que produzirá a CoronaVac, a fábrica do Butantan não ficará totalmente parada. “Duas grandes carretas descarregaram ovos, agora na fábrica, para a produção da Butanvac. Nós não paramos, temos a maior produção de vacinas e soros do Brasil”, ressaltou.


Desde quando começou a produzir a CoronaVac, o Butantan precisou paralisar o processo mais de uma vez devido à falta de insumos, que são importados da China. Covas acusou — inclusive na CPI da Covid — que as questões referentes à relação diplomática entre Brasília e Pequim, incluindo as declarações de autoridades do governo brasileiro, interferem diretamente no cronograma de liberação de novos lotes de IFA.


Ao todo, o instituto entregou 52,2 milhões de doses da CoronaVac. O contrato firmado com o Ministério da Saúde prevê a entrega de 100 milhões de unidades da vacina ao governo federal. A estimativa é de entregar todas as doses até 30 de setembro. (MEC)

OMS vê 3ª onda no país


Às vésperas de o Brasil registrar oficialmente 500 mil mortos pela covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a mandar um alerta ao país. Em coletiva de imprensa realizada ontem, a diretora-geral assistente da Organização, Mariângela Simão, disse que “há grande necessidade de reforçar as medidas preventivas de saúde pública” no país. Com 17.801.462 casos confirmados e 498.499 óbitos registrados pela covid-19 — somente nas últimas 24 horas, foram 2.495 óbitos, de acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde —, o país está na iminência da terceira onda da doença.


“Sei que há, no momento, no país, uma controvérsia sobre o uso de máscaras. Essa continua sendo uma orientação da OMS: máscaras devem ser usadas de forma consistente, sempre que não for possível manter distanciamento físico”, afirmou a diretora-assistente da entidade. Mariângela lamentou a “controvérsia” no Brasil sobre o tema — na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro disse que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estaria preparando um parecer para desobrigar o uso da máscara por quem já foi vacinado contra a covid-19 e por quem se infectou com o novo coronavírus.


Mariângela, porém, reafirmou a necessidade da manutenção das medidas básicas de prevenção — como uso de máscaras, distanciamento social e higiene das mãos —, apesar do progresso da vacinação. “A pandemia não terminou. As Américas, mesmo onde há recuo no número de novos casos, estão com um patamar muito alto de infecções. Há pressão no sistema de saúde e os esforços de vacinação têm que ser acompanhados de um reforço na prevenção. É importante ressaltar que os casos nas Américas, inclusive no Brasil, ainda permanecem em patamares muito altos”, salientou Mariângela.


O médico infectologista Julival Ribeiro também alerta para o alto patamar dos números da covid-19 no país. “Reflete a falta de uma coordenação nacional para lidar com esse grave problema. A OMS está corretíssima em reforçar essas medidas. Infelizmente, não temos vacinas suficientes para a população e estamos vendo um relaxamento das medidas preventivas e um negacionismo em relação às medidas restritivas”, lamentou. (MEC com Gabriela Bernardes, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)

Doria e Paes acirram a corrida das doses

Durante a entrega de mais 2,2 milhões de doses CoronaVac, ontem, ao Ministério da Saúde, o governador de São Paulo, João Doria, voltou a desafiar de forma bem-humorada o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para aquilo que já está sendo chamado de “corrida da vacina”. Isso porque, por causa do anúncio feito pelo carioca sobre a antecipação da vacinação na cidade, o paulista voltou a provocá-lo. Doria disse que essa “é a mais saudável das corridas” e saudou Paes pela aceleração da imunização na capital fluminense. “Quero terminar dizendo: Eduardo Paes, me aguarde”, disse o tucano em tom de brincadeira.


Paes anunciou que a capital do estado do Rio “irá antecipar em um mês e 21 dias” o cronograma de imunização na cidade. Assim, todos os cariocas com mais de 18 anos serão vacinados com a primeira dose contra a covid-19 até 31 de agosto. No mesmo anúncio, o prefeito afirmou que o Rio será a primeira cidade do país a vacinar seus adolescentes.
Logo após o anúncio da antecipação da vacinação, Paes foi às redes sociais provocar o tucano. “Falei para não me desafiar! Bora vacinar!”, afirmando ter “passado” o governador paulista. Utilizando a hashtag #VaiTerCarnaval, o prefeito acrescentou: “Ninguém segura os cariocas”.


No site Painel Rio Covid-19, da prefeitura do Rio, consta que 2.487.413 de pessoas foram vacinadas com a primeira dose. Para a segunda dose, estão computadas 971.748, totalizando 3.459.161 injeções aplicadas, conforme dados atualizados até às 13h15 de 12 de junho.


A coordenadora do Programa Estadual de Imunização (PEI), Regiane de Paula, aproveitou a brincadeira para jogar a possibilidade de um novo anúncio de antecipação do calendário de vacinação paulista. “É importante a gente visualizar todas as coberturas vacinais. Nós teremos novidades na próxima coletiva de imprensa. Quem sabe, governador, poderemos ter boas notícias, mas hoje a gente mantém a nossa expectativa”, disse, afirmando estar mantida a previsão de distribuir doses para toda a população paulista acima dos 18 anos até 15 de setembro.


Na competição pela vacinação estão, também, os governadores Flávio Dino (MA) e Eduardo Leite (RS).

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