A sessão da CPI da Covid, ontem, abriu espaço para o negacionismo. Foram ouvidos os médicos Ricardo Ariel Zimerman e Francisco Eduardo Cardoso Alves, convidados pela base do governo. A dupla é defensora da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19.
A oitiva acabou sendo esvaziada pelo G7, grupo formado por senadores da oposição e independentes. Eles marcaram presença no colegiado para garantir o quórum regimental necessário à abertura dos trabalhos, mas deixaram o plenário assim que o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), iniciou os debates.
O relator, Renan Calheiros (MDB/AL), nem quis fazer perguntas aos convidados. Ele se absteve, conforme explicou, em protesto contra as declarações negacionistas do presidente Jair Bolsonaro, feitas na live de quinta-feira. Na avaliação do parlamentar, foi um erro a oitiva de defensores do chamado tratamento precoce.
Por sua vez, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), destacou que o debate democrático se dá pela diversidade, mas não pelo negacionismo. “Depois do Iluminismo, de três revoluções políticas e sociais e de a humanidade ter evoluído 500 anos, não vou questionar a ciência. Não há razão para participar de um debate contra evidências científicas”, afirmou.
Ele também criticou o convite aos negacionistas. “Não vou condenar Galileu Galilei e Nicolau Copérnico 500 anos depois. Fazer um debate que condena a ciência 500 anos depois... No espaço democrático, qualquer debate é aceito, mas não é aceito atentar contra a saúde das pessoas no meio da pandemia”, criticou. “Eu me recuso a debater a eficácia de medicamentos quando há consenso científico global de que não funcionam. Não vou participar desse debate com um país com 11% de vacinados e vê-los advogar por cloroquina.”
A atitude de Calheiros foi reprovada por senadores governistas. “Desde o início da CPI, o relator está o tempo inteiro fazendo perguntas. Agora, ele abandona a CPI, vai embora, porque realmente parece que não interessa a busca pela verdade, apenas uma parte dela”, disse Eduardo Girão (Podemos-CE), um dos parlamentares mais ativos na defesa do tratamento precoce e do uso de cloroquina. Marcos Rogério (DEM-RO) voltou a frisar que “o relator já tem uma sentença debaixo do braço” e que a atitude em abandonar a sessão é demonstração clara disso. “Se alguém tinha dúvida, hoje (ontem) está evidente. Lamentável”. (LC e BL)
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