Sessão repleta de bate-boca

Governistas tentam intimidar servidor do Ministério da Saúde responsável pela importação de vacinas e protagonizam diversos embates com o deputado Luis Miranda e integrantes da CPI. Depoimentos duraram mais de oito horas no Senado

*Correio Braziliense» RENILDO CALHEIROS Deputado federal por Pernambuco e líder do PCdoB na Câmara»
postado em 26/06/2021 00:59 / atualizado em 26/06/2021 00:59

A sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid que contou com o depoimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e do irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, foi uma das mais importantes desde o início dos trabalhos, mas só pegou no tranco. Os trabalhos começaram mais tarde, às 14h de sexta, e foram marcados por agitação e bate-boca entre governistas e senadores de oposição. Às 22h30, depois de muitos altos e baixos, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) fazia uma defesa de Luis Ricardo e tecia duras críticas ao governo. Ainda havia inscritos na fila. Com ajuda do irmão deputado, o funcionário público confirmou os indícios de corrupção na compra de vacinas não autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).


Desde a véspera, havia muita expectativa sobre o encontro. Por várias vezes, os governistas tentaram intimidar o servidor depoente. O líder do governo no Senado, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), estava rubro e, em alguns momentos, chegou a bater na mesa. Mais tarde, ao interrogar o deputado Luis Miranda, o senador Jorginho Mello (PL-SC) também se exaltou e disparou ofensas contra o parlamentar, chamando-o de estelionatário. A dupla de depoentes, que compareceu ao colegiado como convidados, podia ter deixado a sala a qualquer momento, mas permaneceu até o fim.

Assinatura

Em um dos momentos tumultuados, o presidente da sessão, Omar Aziz (PSD-AM), perguntou ao servidor Luis Ricardo se era ele quem autorizava a importação de vacinas. Ele respondeu que é o departamento dele que “dá continuidade ao processo”. Aziz perguntou então por que outra servidora deu continuidade ao processo. O senador Marcos Rogério insistiu para que Luis Ricardo desse mais detalhes. “Pergunte, Presidente”, pediu o parlamentar governista. Aziz voltou-se para Luis Ricardo. “Vossa excelência tem que assinar esse documento para importação?”, perguntou. “Assinar não, autorizar”, respondeu o depoente. O presidente do colegiado perguntou o que ocorre sem a autorização, e mais uma vez, o senador demista interrompeu.


Foi então que o deputado Luis Miranda partiu em defesa do irmão. “Senador, o senhor está querendo o quê? Constranger a testemunha. Para com isso, Marcos Rogério”, disse. Bezerra não gostou. “Espera aí... Mas o depoente não pode presidir a sessão”, avisou. “Nós não estamos num parquinho, não. Aqui é depoimento, presidente”, reclamou Marcos Rogério. O senador Humberto Costa (PT-PE) reclamou da intromissão. “Eles querem isso.”


A briga continuou até Bezerra afirmar que as informações trazidas por Luis Ricardo não tinham correlação com o cargo que ele ocupa. Randolfe Rodrigues interveio. “Como é que chegou a essa conclusão? Ah, presidente, aí é impossível”, ironizou. Aziz também disparou contra o emedebista. “O senhor é ministro da Saúde?”, questionou. Bezerra insistiu. “Ele não tem competência para autorizar nada.” “Presidente, está tendo uma obstrução…”, queixou-se Randolfe. Aziz concordou fazendo menção a Bezerra. “Vossa excelência, hoje, meu amigo”, mas não concluiu a frase. “Hoje ele está demais”, completou Randolfe.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação