O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) deu a entender que tem a gravação da conversa com o presidente Jair Bolsonaro, em que ele e o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciam um esquema de superfaturamento na compra da vacina indiana Covaxin. No encontro, o chefe do Planalto teria afirmado aos dois que o responsável pelo “rolo” seria o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e ia acionar a Polícia Federal. O mandatário, porém, nada fez, até o caso ser denunciado à CPI da Covid.
Luis Miranda comentou sobre a suposta gravação duas vezes. A primeira, na sessão de sexta-feira na CPI, quando o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM) o interpelava, pois o depoente se negava a revelar o nome do líder do governo. O senador perguntou se a pessoa citada por Bolsonaro na reunião com os irmãos, continuava na base do governo. “É aquela imagem: você fala o nome, você sabe quem é a pessoa que é ... é da base, né? Mas não me lembro a pessoa, não me lembro mais o nome. São 513 deputados; é complicado lembrar o nome de todos”, esquivou-se. “Mas eu posso lembrar. Eu tinha a mania de gravar algumas conversas, mas eu não gravo conversa com o presidente…”, sustentou.
Aziz volta a insistir e, nesse momento, Miranda responde: “Mas posso tentar procurar na gravação, assim o presidente também não poderia me desmentir, né?” Na tarde de ontem, em entrevista ao site O Antagonista, o deputado fez menção velada à gravação, ao ser questionado sobre o que aconteceria se fosse a palavra dele contra a do presidente. “Aí, ele vai ter uma surpresa mágica. Se fizer isso, vou ter de fazer algo que nunca um parlamentar deve fazer com um presidente. Mas, aí, ele vai ficar constrangido. Muito. Porque eu tenho como provar. Mas na hora certa”, afirmou.
Miranda aconselhou Bolsonaro a não confrontá-lo. “É melhor ele não fazer isso. É desnecessário, uma loucura. Se fizer isso, esquece 2022. Vai ter um Brasil inteiro descobrindo que ele mentiu. Ele não mentiu ainda. Ele já admitiu que a gente foi lá, que quando a gente falou para ele, ele mandou corrigir”, enfatizou, antes de mandar um recado ainda mais direto. “É desnecessário, presidente. Já passou dos limites os filhos dele me atacando, me chamando de 171, dizendo que eu estou mentindo. Se ele fizer isso, vamos ter de provar de um jeito totalmente desfavorável para o resto da carreira dele. Se precisar, a gente prova. Tinha três pessoas na sala. Eu, como parlamentar, não gravaria. Mas, vamos mudar esse assunto, por favor?”, pediu.
“Estranho”
Ao Correio, Miranda pediu para não tocar no tema, pois tem enfrentado ameaças nas redes sociais. Ele afirmou ter estranhado a coerção de que foi vítima, principalmente da parte do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, e de governistas na sessão da CPI. “Eles estão desesperados por algum motivo muito estranho. Gostaria de entender o motivo que está fazendo esse povo ficar tão desesperado. Qual é o sentido de o governo ficar tão na defensiva e atacar tanto as testemunhas? Pode ter interesse do Onyx naquela forma de reagir, interesses até escusos. Tem de ter cuidado”, frisou.
O deputado disse não ser governista, mas vota com o DEM, que tem pautas em comum com o governo. Questionado sobre como seria encontrar Ricardo Barros na Câmara, respondeu que não se incomoda com a possibilidade. “Não fui eu que falei o nome dele. Foi o presidente”, justificou.
O parlamentar comentou o clima da conversa com Bolsonaro. “Ele estava tranquilo, me levou para a biblioteca. Falamos com tranquilidade. Sem estresse. Mostramos as matérias, a offshore, o invoice (nota fiscal). Ele não mexeu em nada. Falou que isso é coisa ‘daquele cara, do Ricardo Barros’”, recordou.
Procurado para comentar o assunto, o Planalto não havia se pronunciado até o fechamento desta edição.
Barros usou as redes sociais, na sexta-feira, para se defender. “Não participei de nenhuma negociação em relação à compra das vacinas Covaxin. Não sou esse parlamentar citado”, garantiu. “A investigação provará isso. Também não é verdade que eu tenha indicado a servidora Regina Célia, como informou o senador Randolfe (Rodrigues, vice-presidente da CPI). Não tenho relação com esse fatos”, postou o parlamentar.
Randolfe Rodrigues afirmou que a nomeação de Regina Célia foi feita por Barros, na época em que ele era ministro da Saúde. De acordo com Luis Ricardo Miranda, a servidora teria “passado por cima” dele, que é chefe do Departamento de Importação do ministério, para autorizar a importação da Covaxin, mesmo com as divergências na documentação. A CPI quer convocar Regina Célia.
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