CPI da Covid

À CPI, especialistas dizem que grandes pesquisadores não querem trabalhar no governo

Ex-presidente da Anvisa, Cláudio Maierovitch afirma que especialistas sustentam que não irão "sujar seus nomes". Microbiologista Natalia Pasternak reforça que eles não se sentem confortáveis a trabalhar em um governo que nega a ciência

Não existe vontade, por parte de bons quadros técnicos no país, de trabalhar no governo do presidente Jair Bolsonaro. A afirmação foi feita em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, pelo médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Cláudio Maierovitch e pela pesquisadora da Universidade de São Paulo e microbiologista Natalia Pasternak. 

“Muitos bons quadros técnicos que eu conheço não se disporiam a trabalhar. O que as pessoas falam é: ‘Eu não vou sujar o meu nome, não vou sujar o meu currículo para trabalhar nesse contexto’”, sustentou Maierovitch, que é ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Eles foram questionados pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), que relembrou o depoimento à CPI da infectologista Luana Araújo na última semana. Segundo ela, existiria uma resistência por parte de especialistas no país para se juntar ao governo. A própria Luana ficou no Ministério da Saúde por 10 dias, mas não teve a sua nomeação aprovada, apesar de currículo exemplar.

Inicialmente, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deu a entender que a nomeação não havia sido aprovada pelo Palácio do Planalto. Depois, em seu segundo depoimento à CPI nesta semana, o chefe da pasta afirmou que ele mesmo foi o responsável pelo veto — apesar de Luana ter sido chamada por ele para ocupar o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à covid-19.

Ambiente negacionista

Segundo Natalia Pasternak, “é complicado trabalhar em meio a um ambiente negacionista, porque é um ambiente que, justamente, não te dá a autonomia necessária como cientista para seguir a ciência”. “Muitos bons cientistas e bons técnicos não se sentem confortáveis para trabalhar num governo onde sabem que eles não vão poder seguir a ciência, porque a ciência está sendo negada, está sendo atacada justamente por esse próprio governo. Então, acho que coloca, realmente, os bons técnicos e bons cientistas numa situação muito difícil”, disse nesta sexta-feira.

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