CPI da Covid

Dominghetti reafirma pedido de propina: "Fui ao Ministério da Saúde três vezes"

Cabo da PM de MG que se apresenta como vendedor de vacinas pela empresa Davati Medical Supply disse que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose. Negociação envolvia 400 milhões de unidades do imunizante AstraZeneca

Sarah Teófilo
postado em 01/07/2021 15:14 / atualizado em 01/07/2021 15:52
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Cabo da Polícia Militar de Minas Gerais que se apresenta como vendedor de vacinas pela empresa Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominghetti Pereira reafirmou em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 nesta quinta-feira (1º/7) que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina contra covid-19 ao tentar vender 400 milhões de doses de imunizantes ao governo federal.

A proposta, segundo ele, partiu do ex-diretor do Departamento de Logística (DLOG), do Ministério da Saúde, Roberto Dias, exonerado na terça-feira (29/6), após reportagem da Folha de S.Paulo com os relatos de Dominghetti. Aos senadores, o militar da ativa disse que atuava para a Davati desde janeiro, em um acordo verbal com o representante da empresa Cristiano Alberto Carvalho, chamado por Dominghetti de "CEO". O CEO da empresa, entretanto, seria Herman Cardenas. Depois, em abril, segundo o militar, a parceria foi oficializada em uma carta, que o referendou como intermediário na negociação com o Ministério da Saúde.

Dominghetti também afirmou que esteve no Ministério da Saúde três vezes, e que esteve com três executivos da pasta: Roberto Dias, o ex-secretário executivo Elcio Franco e com outra pessoa ligada à Vigilância Sanitária. O depoente contou que recebeu uma proposta de propina em reunião no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, na capital federal. Estavam no local, segundo ele, além de Dias, o ex-assessor do DLOG tenente-coronel Marcelo Blanco e um empresário, que ele diz não se lembrar quem seja.

O vendedor afirmou que o primeiro contato que teve no ministério foi por meio de uma organização não-governamental (ONG), e que foi recebido por outra pessoa. Essa pessoa disse que encaminharia uma agenda entre ele e Elcio Franco. Dominghetti relatou ter sido apresentado depois a Blanco por um parceiro comercial das tratativas de insumos e de outras parcerias. Segundo ele, Blanco se mostrou interessado na aquisição, e o apresentou a Roberto Dias. Tudo isso teria ocorrido entre 22 e 26 de fevereiro.

Perguntado se Dias mencionou outras pessoas que integrariam o grupo de atuação nesse pedido de propina para compra de vacina por parte do ministério, o militar disse que ele não citou.

"Complementação de renda"

Dominghetti relatou que é cabo da ativa da PM de Minas, e que começou a atuar no mercado de insumos para complementação de renda. Um e-mail que chegou à CPI após as denúncias mostra que chegou a haver uma negociação formal do ministério.

“Prezados, este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos. Para tanto, gostaríamos de verificar a possibilidade de agendar uma reunião hoje, às 15h, no Departamento de Logística em Saúde. No aguardo, agradecemos antecipadamente”, diz e-mail enviado por Roberto Dias às 10h37, pedindo um encontro menos de cinco horas depois, em resposta à uma proposta da Davati. A referida mensagem foi enviada dia 26 de fevereiro, um dia depois de o suposto encontro relatado por Dominghetti.

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