LGBTQIA+

Após governador assumir ser gay, tema passa a ser desafio para conservadores

A aposta geral é a de que Leite surge como um nome capaz de tirar votos da centro-esquerda, mas não conseguirá adentrar no eleitorado mais conservador

Denise Rothenburg
postado em 05/07/2021 06:00
 (crédito: Josep Lago/AFP)
(crédito: Josep Lago/AFP)

Ao assumir publicamente que é gay, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, no ano que vem, colocou o assunto na campanha eleitoral de 2022 e impôs aos conservadores o desafio de tratar desse tema sem perder votos do segmento LGBTQIA+, que a cada dia se mostra mais influente. Por enquanto, os integrantes da ala do bolsonarismo raiz, como a deputada Bia Kicis (PSL-DF), defendem que, em relação ao governador gaúcho, o tema seja simplesmente deixado de lado. “A postura é: ninguém tem nada a ver com isso. Cada um tem a sua opção”, diz.

A parlamentar, assim como muitos deputados, estranhou o fato de Leite fazer o anúncio num programa de tevê, na maior emissora do país. Colegas dela na Câmara acreditam que, embora o governador negue, houve, sim, um cálculo político. “No Rio Grande do Sul, nunca foi segredo”, comentou o deputado Evair de Melo (PP-ES), ligado ao presidente Jair Bolsonaro.

Cálculo político ou não, o fato é que Leite, conforme o leitor do Correio Braziliense já sabe, se tornou mais conhecido e liderou os tópicos de busca do Google no final da semana passada — sinal de que as pessoas queriam saber quem ele era. A ideia, agora, entre os tucanos é fazer com que essa “curiosidade” leve as pessoas a buscarem informações sobre gestão do governador gaúcho, algo que os aliados de Leite querem usar como cartão de visitas para convencer o próprio PSDB a fazer dele o candidato a presidente da República, nas prévias de novembro.

A aposta geral é a de que Leite surge como um nome capaz de tirar votos da centro-esquerda, mas não conseguirá adentrar no eleitorado mais conservador. Bia Kicis, por exemplo, considera que nem deve haver tática eleitoral para tratar desse tema. “Não tem tática em relação a isso. Os conservadores de hoje não são iguais aos da década de 1960, que abominavam a homossexualidade. Hoje, (os conservadores) não são contra. Porém não queremos que seja estimulado, tratado como um padrão ideal”, diz a parlamentar.

A deputada do PSL praticamente repete o que foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro a apoiadores, na semana passada, ao comentar a entrevista ao programa Conversa com Bial, da Rede Globo, quando o governador gaúcho mencionou sua opção sexual. “Ninguém tem nada a ver com a vida particular de ninguém. Agora, querer impor o seu costume, o seu comportamento para os outros, não”, reagiu. Essa postura de Bolsonaro, porém, foi vista como um avanço rumo ao seu grupo político. Afinal, quando deputado, em 2011, ele se declarava “incapaz de amar um filho homossexual”.

 

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