O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar sobre a possibilidade de fraude nas eleições do próximo ano e colocou em dúvida, mais uma vez, a realização do pleito. O mandatário defendeu a aprovação do voto impresso, afirmando que, caso a medida não seja instituída em 2022, não haverá votação. “As eleições no ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disparou, a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.
Na quarta-feira, Bolsonaro disse, sem apresentar provas, que Aécio Neves ganhou a disputa à Presidência da República contra Dilma Rousseff, em 2014. Afirmou, ainda, que algum lado pode não aceitar o resultado das urnas em 2022. “Eles vão arranjar problemas para o ano que vem. Se este método continuar aí, sem, inclusive, a contagem pública, eles vão ter problemas, porque algum lado pode não aceitar o resultado. Esse algum lado, obviamente, é o nosso lado, pode não aceitar o resultado”, destacou, na ocasião.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais, há uma semana, Bolsonaro disse que, se for derrotado nas eleições de 2022, só entregará a faixa presidencial se o seu adversário tiver vencido de “forma limpa”. Dias depois, acusou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de fazer articulações no Congresso contra a aprovação da emenda que permite o voto impresso — chamado por ele de “voto auditável”. “Não podem botar em votação (agora) porque vão perder, por causa da interferência do ministro Barroso. Um péssimo ministro”, criticou.
“A democracia está ameaçada por alguns de toga, que perderam a noção de até onde vão seus direitos, seus deveres”, disse o presidente, em entrevista à Rádio Guaíba. A Secretaria de Comunicação do TSE informou que Barroso está em um compromisso acadêmico fora do Brasil “e pediu para não ser incomodado com mentiras e miudezas”.
Bolsonaro tem dito, também, que, se o voto impresso não for aprovado, pode haver uma “convulsão social” no Brasil porque “no tapetão não vão levar”. Na prática, ele criou um discurso preventivo para justificar uma eventual derrota nas urnas.
A escalada de críticas e acusações de Bolsonaro à urna eletrônica, sem apresentar provas, ocorre num momento de queda de popularidade e desgaste do governo diante das denúncias de corrupção na CPI da Covid. Além disso, manifestações de rua estão mais frequentes. No sábado passado, houve protestos em todas as capitais e novos atos estão sendo convocados. O MBL e o Vem Pra Rua, dois dos grupos que lideraram as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, marcaram protesto para 12 de setembro.
Além disso, dois institutos diferentes apontaram, ontem, que o índice de reprovação de Bolsonaro é o maior desde a posse, além da diminuição de sua aprovação. Pesquisa XP/Ipesp também indicou que 52% dos entrevistados consideram a administração como ruim ou péssima. Em outubro, eram 31%. Os que classificam o governo como bom ou ótimo caíram de 39% a 25%.
Segundo o DataFolha, 51% avaliam o governo como ruim ou péssimo, seis pontos porcentuais a mais do que o último levantamento, em maio. Aqueles que veem a gestão como regular somam 24% da população, seis pontos a menos do que há dois meses. Já os que avaliam como bom ou ótimo são 24%, índice estável desde o levantamento passado. (Com Agência Estado)
Aécio Neves refuta suspeita de fraude
O deputado Aécio Neves (PSDB-MG) discordou da afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que teria havido fraudes nas urnas eletrônicas nas eleições de 2014 e que o tucano teria derrotado a petista Dilma Rousseff. No entanto, o parlamentar afirmou que defende uma atualização no modelo de apuração. “Não acredito que tenha havido fraudes nas urnas em 2014, tampouco acredito que nós estejamos fadados a viver eternamente com as urnas eletrônicas de primeira geração. O mundo inteiro que utiliza urnas eletrônicas avançou para algum tipo de auditagem”, destacou. Após a eleição de 2014, Aécio e o PSDB contestaram o resultado da eleição em recurso junto ao TSE. Um ano depois do pleito, a Corte disse que o partido não encontrou indícios de fraude na disputa.
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Presidente dispara contra argentino
O presidente Jair Bolsonaro criticou o comando argentino do Mercosul no último semestre e cobrou maior flexibilização econômica. As declarações foram feitas durante a 58ª cúpula de chefes de Estado do bloco, realizada por videoconferência. O Brasil assumiu a presidência semestral pró-tempore do Mercosul, e a passagem do comando foi feita pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández.
Ontem, o Uruguai anunciou a decisão de iniciar negociações de acordos comerciais com países de fora do bloco. O Brasil também é a favor da medida. “O semestre que se encerrou deixou de corresponder às expectativas e necessidades do Mercosul. Devíamos ter apresentado resultados concretos nos dois temas que mais mobilizam nossos esforços recentes: a revisão da tarifa externa comum e a adoção de flexibilidades de negociações comerciais com parceiros exteriores”, lamentou Bolsonaro.
Ele destacou que o bloco não pode continuar sendo visto como ineficaz. “Não podemos deixar que o Mercosul continue a ser visto como sinônimo de ineficiência, desperdício de oportunidades e restrições comerciais. De modo a superarmos essa imagem negativa, o foco do Brasil tem privilegiado a modernização da agenda econômica do Mercosul”, enfatizou.
De acordo com Bolsonaro, “o Brasil tem pressa”. “Os ministros e negociadores do Mercosul já estão cientes de nossa sede por resultados. Precisamos lançar novas negociações e concluirmos os acordos comerciais pendentes, ao mesmo tempo em que trabalhamos para reduzir tarifas e eliminar outros entraves ao fluxo comercial entre nós e com o mundo em geral”, frisou. “Queremos e conseguiremos uma economia mais arejada e integrada ao mundo, empresas mais competitivas, trabalhadores mais produtivos e consumidores mais satisfeitos.”
Para o presidente, “a persistência de impasses, o uso da regra do consenso como instrumento do veto e o apego a visões arcaicas e viés defensivo terão o único efeito de gerar ceticismo quanto ao Mercosul”. “O Brasil não vai parar nos esforços para modernizar sua economia e sociedade. Queremos que nossos sócios sejam nossos companheiros.”
Fernández, por sua vez, destacou que o “consenso é a coluna vertebral do Mercosul”. “A Argentina, como presidência pró-tempore do Mercosul, tem liderado os debates sobre a revisão da Tarifa Externa Comum e sobre a política de relações externas do bloco. Em ambos os casos, nosso compromisso foi buscar o consenso, que é a espinha dorsal constitutiva do Mercosul”, ressaltou. “Consenso é respeitar a lei do nosso bloco, seu DNA fundador, sua razão de ser.”
Após as críticas, Bolsonaro amenizou o discurso. Disse que a única rivalidade entre os dois países está no futebol. Ele mencionou a final da Copa América, prevista para sábado, entre as seleções das duas nações. O mandatário ainda chutou o resultado. “Vou adiantar o placar: 5 x 0. Fora isso, prezado Fernández, o Brasil só estará bem se a nossa querida Argentina, nosso querido Uruguai, o nosso Paraguai do meu irmão paraquedista Marito e demais países que nos circundam também estiverem bem”, disse. (IS)