ANÁLISE

Análise: mesmo politizando saúde, opinião pública sobre Bolsonaro não deve mudar

Em uma publicação inflamada nas redes sociais, o chefe do Palácio do Planalto vinculou o problema que sofreu no intestino, na madrugada de ontem, ao ataque do qual foi vítima em 2018

Augusto Fernandes
postado em 15/07/2021 06:00
Bolsonaro em foto de 2018, após levar facada em Juiz de Fora (MG), durante a campanha presidencial -  (crédito: @FlavioBolsonaro/CB/D.A Press)
Bolsonaro em foto de 2018, após levar facada em Juiz de Fora (MG), durante a campanha presidencial - (crédito: @FlavioBolsonaro/CB/D.A Press)

Diante da crescente reprovação ao governo, revelada por pesquisas de opinião — sobretudo por conta de denúncias feitas na CPI da Covid de supostos casos de corrupção cometidos por integrantes do Executivo em meio à pandemia —, o presidente Jair Bolsonaro transformou o seu quadro de saúde em uma ferramenta política para tentar melhorar a imagem com a população.

Em uma publicação inflamada nas redes sociais, o chefe do Palácio do Planalto vinculou o problema que sofreu no intestino, na madrugada de ontem, ao ataque do qual foi vítima em 2018, quando levou uma facada na barriga às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial. Ele culpou a oposição por tudo o que aconteceu.

“Mais um desafio, consequência da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSol, braço esquerdo do PT, para impedir a vitória de milhões de brasileiros que queriam mudanças para o Brasil. Um atentado cruel não só contra mim, mas contra a nossa democracia”, diz um trecho da mensagem de Bolsonaro.

O presidente voltou a falar que a sua vida foi poupada para que ele pudesse alterar a realidade do país e, a despeito das críticas contra a sua gestão pela forma como conduziu a pandemia da covid-19, afirmou que está fazendo um bom trabalho. Além disso, recorreu ao discurso que o elegeu presidente há três anos para pedir o apoio da população.

“Por Deus foi-nos dada uma nova oportunidade, para, enfim, colocarmos o Brasil no caminho da prosperidade. E mesmo com todas as adversidades, inclusive uma pandemia que levou muito de nossos irmãos no Brasil e no mundo, continuamos seguindo por esse caminho”, publicou. “Agradeço a todos pelo apoio e pelas orações. É isso que nos motiva a seguir em frente e enfrentar tudo que for preciso para tirar o país de vez das garras da corrupção, da inversão de valores, do crime organizado, e para garantir e proteger a liberdade do nosso povo.”

O mandatário acrescentou: “Peço a cada um que está lendo essa mensagem que jamais desista das nossas cores, dos nossos valores! Temos riquezas e um povo maravilhoso que nenhum país no mundo tem. Com honestidade, com honra e com Deus no coração é possível mudar a realidade do nosso Brasil. Assim seguirei!”.

O presidente nacional do PSol, Juliano Medeiros, rebateu o chefe do Planalto. “Cada vez mais isolado, com sua aprovação despencando, incapaz de esconder seus escândalos na CPI da Covid, Bolsonaro volta a mobilizar sua tropa contra o PSol nas redes sociais. Mais uma tentativa inútil de desviar o foco da crise. O acerto de contas com a história está marcado”, enfatizou.

Equívoco

Essa não foi a primeira vez que o presidente precisou ser hospitalizado desde o atentado de 2018, mas ele nunca tinha se portado de uma maneira tão emocional ao falar sobre como o episódio ainda causa problemas à sua saúde. A avaliação de analistas é de que Bolsonaro quis apelar ao senso de humanidade da população para tirar algum proveito.

Apesar disso, ao contrário do que aconteceu três anos atrás, a percepção da sociedade sobre ele não deve mudar. O cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais, ponderou que a internação do presidente não é impactante o suficiente para blindá-lo de críticas.

“Esse episódio é muito pequeno perto de várias coisas que estão surgindo. Casos de corrupção que colocam o governo na corda, baixa popularidade, a CPI que a cada dia começa a chegar mais perto dele e de pessoas próximas. Há um desgaste muito grande da imagem de Bolsonaro. Se em 2018 ele tinha o discurso, que pegou muito forte entre a população, agora ele tem a ação, que está sendo criticada”, observou.

Vera Chemin, mestre em direito público pela Fundação Getulio Vargas (FGV), acrescentou que Bolsonaro pode até arrefecer o ambiente contrário ao seu governo, mas só momentaneamente. “Penso que apenas uma pequena parcela deve se sensibilizar com o presidente, visto que Bolsonaro continuará lidando com os problemas que envolvem a pandemia. Houve muita negligência e descaso por parte dele”, ressaltou.

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