Assista ao vídeo

Pazuello prometeu comprar Coronavac com preço três vezes maior

À CPI, o general justificou o fato de não ter se reunido com a Pfizer afirmando que um ministro jamais deve receber uma empresa. Informações foram divulgadas pela Folha de S. Paulo e confirmadas pelo Correio

Luiz Calcagno
Sarah Teófilo
postado em 16/07/2021 15:02 / atualizado em 16/07/2021 19:53
 (crédito: Reprodução/Vídeo)
(crédito: Reprodução/Vídeo)

O ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello se comprometeu a assinar um contrato para aquisição de 30 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac, do laboratório Sinovac, de intermediadores — e por quase o triplo do valor da mesma vacina ofertada pelo instituto brasileiro Butantan. Este imunizante é o mesmo alvo de tantos questionamentos e críticas por parte do presidente Jair Bolsonaro, que já chegou a afirmar que a “vacina chinesa de João Doria”, governador de São Paulo, não seria adquirida.

A informação veio à tona após reportagem da Folha de S. Paulo, que divulgou vídeo da reunião, no Ministério da Saúde, de Pazuello com empresários que buscavam vender o imunizante. O Correio também obteve o vídeo, e confirmou informações sobre o teor do encontro, que se deu ema 11 de março. A comitiva, encabeçada por um empresário apresentado como John, ofertava o imunizante a US$ 28 por dose, quase três vezes o valor da Coronavac do Butantan (US$ 10). Segundo a Folha, ele representaria uma empresa chamada World Brands, de Santa Catarina.

“Estamos aqui reunidos no Ministério da Saúde recebendo uma comitiva enviada pelo John. Uma comitiva que veio tratar da possibilidade de nós comprarmos 30 milhões de doses, numa compra direta com o governo chinês, e já abre também uma nova possibilidade de termos mais doses. Já saímos daqui, hoje, com o memorando de entendimento assinado, e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, um contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível, para atender a nossa população e conseguirmos controlar a pandemia que está tão grave no nosso país”, disse Pazuello no vídeo.

À CPI, questionado sobre o motivo pelo qual não tomou o protagonismo na negociação com a Pfizer, o militar disse que um ministro "jamais deve receber uma empresa". "O ministro não pode receber as empresas, o ministro não pode fazer negociação com empresa. Eu recebo o presidente da Pfizer socialmente, junto com a administração, mas a negociação é feita no nível da equipe de negociação", disse. A reunião ocorreu no gabinete do ex-secretário-executivo coronel Élcio Franco. O Correio apurou que Pazuello, que foi ministro durante o período mais importante de negociação de vacinas, chegou na reunião com atravessadores “muito motivado”.

O encontro terminou com a assinatura de uma carta de intenção, como anunciado pelo próprio ministro no vídeo. Depois disso, o governo chinês ainda encaminhou um posicionamento oficial de disponibilidade de cronograma, restando ao governo federal dar continuidade à compra. O assunto só não teria ido para a frente porque, com o agravamento da segunda onda de mortes por covid e a crise de falta de oxigênio em Manaus, a presença do general Pazuello à frente da pasta se tornou politicamente insustentável e o presidente da República foi obrigado a demitir o aliado, que, no entanto, segue no governo.

No vídeo, o empresário que se apresenta como porta-voz do grupo agradeceu. “Muito obrigada ministro pela oportunidade de nos receber também. Como empresário, eu acho que sempre nós pensamos no trabalho mas na contribuição social que podemos oferecer hoje. E junto, em parceria com tanta porta aberta que o ministro nos propôs, eu acredito que podemos fazer essa parceria por um longo e duradouro tempo, para vários outros produtos, inclusive, se necessário”, disse.

O governo atrasou a negociação de vacinas com diversos produtores, entre eles o Butantan. Em outubro do ano passado, Pazuello chegou a anunciar a compra de 46 milhões de doses do instituto paulista, mas o ministério recuou depois que o presidente disse que os imunizantes não seriam adquiridos. O governo também ignorou diversas ofertas da Pfizer, e só assinou contrato no dia 8 de março, em meio a muita pressão, inclusive do Congresso.

A CPI já investiga ao menos outros dois casos suspeitos de negociação de vacina. Em um deles, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, o funcionário do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda denunciaram um esquema de superfaturamento na compra da vacina indiana Covaxin, a US$ 15, e também, negociadores revelaram um suposto pedido de propina por um servidor público para a compra da vacina da Astrazeneca, também com atravessadores (dessa vez a empresa Davati), no valor de US$ 1 por dose para 400 milhões de unidades do produto.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação