Eleições

Com respaldo do MDB, Tebet mostra potencial como terceira via em 2022

Com atuação consistente na CPI da Covid e apoio de integrantes do partido, senadora figura como um dos nomes para romper a polarização entre Bolsonaro e Lula. Parlamentar não é tão conhecida como os candidatos de extremo — tampouco enfrenta a mesma rejeição

Luiz Calcagno
postado em 20/07/2021 23:59 / atualizado em 21/07/2021 09:48

Sem cometer excessos na polarização predominante no cenário político, a senadora mato-grossense Simone Tebet firma o seu nome no MDB para as disputas presidenciais de 2022, com respaldo da legenda. Políticos e especialistas apontam que muita coisa pode mudar, e não há certeza de que Tebet venha a ser a cabeça da chapa na composição com partidos como DEM, PSDB ou PSL, por exemplo. Mas, os ventos sopram a favor da parlamentar de centro, que tem atuado de forma consistente na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid.

O MDB tem se revelado uma oposição de centro ao governo, posicionamento que agrada a muitos integrantes do meio político que procuram um o candidato de terceira via. Para membros da legenda, é seguro dizer, anda, que figuras como o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (TO), não incomodam. Isso porque, apesar do destaque no parlamento e da adesão a Jair Bolsonaro, a dupla não tem controle regional da sigla.

O afastamento do MDB do governo começou ainda no fim de 2019, com a candidatura do presidente do partido, Baleia Rossi (SP) à presidência da Câmara, contra o candidato do governo, Arthur Lira (PP-AL). No Senado, Tebet foi a primeira mulher a concorrer à presidência da Casa. Mediu forças com Rodrigo Pacheco (DEM-MG), mas ficou sozinha na disputa e não teve apoio do partido. Após o pleito, que ocorreu em 1º de fevereiro, as lideranças emedebistas mantiveram a tônica de independência, recusando-se a fazer coligação com o Centrão.

Na corrida para 2022, a senadora aparece como um nome para a terceira via, à frente de partidos como PSDB e DEM, que ainda enfrentam cabos de guerra internos em torno da definição dos próprios candidatos. E, embora não seja tão conhecida como Lula, Bolsonaro ou Ciro Gomes (o pedetista também se apresenta como terceira via), não tem a rejeição dos dois primeiros e pode agradar diferentes setores da sociedade, por ser mulher, progressista, mas conservadora na economia.

Crise sanitária

A senadora tem deixado a articulação nas mãos de Baleia Rossi e declara que é cedo para debater as eleições. Em entrevista exclusiva ao Correio, no entanto, disse que o nome está à disposição. “Estamos diante da pior crise sanitária da história do Brasil. Graças às vacinas, o número de mortes tem caído. Estamos em meio a uma CPI que pode ter um desfecho demolidor na política nacional. Temos de resolver a gravíssima crise econômica, com índices assustadores de desemprego e de fome. Não é hora de falar de 2022”, destacou.

Tebet também ressaltou que a terceira via teria que ser consistente, e não fragmentada. “O Brasil não merece a repetição de uma disputa entre os extremos. Em relação ao meu partido, tenho dito que meu nome está à disposição, mas não escondo a minha preferência por concorrer à reeleição ao Senado. Mas, em política, tudo muda muito rapidamente. Então, o momento é de serenidade para aguardar a hora certa para decidir”, amenizou. Na posição em que se encontra, a parlamentar é um nome importante na busca pela convergência de partidos que apostam em uma terceira via.

Chapa única

O vice-líder do MDB na Câmara, deputado Hildo Rocha (MA), faz um retrato da posição da senadora no partido. “Eu vejo que ela é uma candidata com grande potencial de crescimento e de voto daqueles que não querem nem Lula nem Jair Bolsonaro. E acredito que essa seja a maioria do povo brasileiro em um presente momento. Ela tem se destacado bastante como senadora, e o trabalho que ela vem realizando tem divulgado o nome dela”, afirmou. O deputado assegura que o nome da senadora agrada a maioria da bancada da Câmara. Por outro lado, acredita que a senadora ainda tem um caminho até se firmar como terceira via de fato.

“Acredito que quem tiver melhores chances de vencer as eleições deva ser o candidato (da terceira via). Tebet é candidata a presidente pelo MDB. A gente quer que ela seja candidata a presidente. Mas, se outra pessoa tiver mais chances, podemos rumar nesse apoio. Tem de ser uma chapa só. É preciso somar todos os candidatos de centro. Se você pulverizar, favorecerá Bolsonaro e Lula”, opinou.

O deputado Gustavo Fruet (PDT-PR) defende Ciro Gomes como o candidato da terceira via. Sob essa ótica, ele conversou com o Correio sobre como vê o crescimento da emedebista. “O que a gente vê, primeiro, é a queda de popularidade de Bolsonaro. Isso provoca um desgaste do governo e um ganho do Lula, que está quieto. Mas Bolsonaro cresce com Lula e Lula cresce com Bolsonaro. O Ciro tem trabalhado em um plano de governo e vários setores começam a ver viabilidade. Vários partidos vão se posicionar agora", acredita o parlamentar.

"No MDB, muita gente do partido está vendo que, com Bolsonaro, não há garantia de espaço. A Tebet não teve apoio do MDB para praticamente nada, mas tem muitas qualidades e na CPI posicionou isso, passou a ser um nome nacional. Ela é uma das senadoras que conseguiu isso, com excelente formação, postura e história. Esse movimento do MDB pode ser para valer, mas pode ser uma possível composição. Todos estão avaliando várias possibilidades”, avaliou.

Baixa rejeição

Para o analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis, o cenário político, ao menos por enquanto, aponta candidaturas fragmentadas no que diz respeito aos candidatos que se intitulam como terceira-via. “Hoje, o que temos são tentativas de construção de terceiras vias. Eu avalio que nesse momento, tem na disputa, além de Bolsonaro e Lula, pelo menos três vias dessa terceira unidade. Uma discussão de partidos com PSDB, MDB, DEM e PSL, Ciro Gomes, e o Pacheco, que vem com a força do PSD e a experiência do (Gilberto) Kassab. E muita gente vai botar mais recursos em um projeto de bancada que de presidência”, analisou.

De acordo com Melillo, falta, entre esses personagens, a apresentação de um projeto de Brasil, ponto em que Ciro sai na frente. Mas Tebet tem potencial. “Porque além de nome, tem que ganhar o eleitor. E aí você precisa de uma palavra de esperança e pessoas que transmitem essa esperança. Eu considero Simone Tebet como uma dessas personagens. Ela impressiona vendo-a na CPI e na bancada feminina. E a maior parte do eleitorado brasileiro é de mulheres. Há o problema ter o nome pouco conhecido. Se compararmos com Ciro, Lula e Bolsonaro, ela não tem essa dimensão. Mas também não tem tanta rejeição. É nessa quadra que ela se coloca como um dos caminhos”, apontou.

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