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"Terceira via vai se fortalecer muito nesse processo eleitoral", diz Kassab

Defensor do nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirma que uma possível candidatura de centro gera preocupação, tanto em Lula quanto em Bolsonaro, justamente pela possibilidade de crescimento que ela apresenta

Pedro Ícaro*
postado em 21/07/2021 19:00 / atualizado em 21/07/2021 20:34
 (crédito: Marcelo ferreira)
(crédito: Marcelo ferreira)

A polarização política tomou conta das discussões entre parlamentares e na sociedade como um todo quando se fala das eleições de 2022. Por conta disso, muitos partidos, principalmente os de centro, têm se reunido para planejar um nome para concorrer como uma “terceira via”, fora da dualidade entre o ex-presidente Lula e Bolsonaro. O PSD defende a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). 

Segundo o presidente do PSD, Gilberto Kassab, o Brasil vive uma guerra política há muitos anos, e Rodrigo Pacheco têm uma vocação para a pacificação, possuindo o perfil adequado para que o país supere essa guerra. O partido apontou o nome do senador justamente pela boa imagem do parlamentar e sua boa formação, diz Kassab, que foi o entrevistado, nesta quarta-feira (21/7) do CB.Poder, programa realizado em parceria pelo Correio Braziliense e a TV Brasília. Veja os principais pontos de entrevista, conduzida pela jornalista Denise Rothemburg:

Em entrevista ao Estado de Minas, o senhor disse que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é o Plano A, B, e C para concorrer à Presidência da República. O que leva o senhor a ter tanta certeza que Pacheco será o candidato da terceira via?

Quase 30 anos de vida pública nos dá experiência de que, quando você responde que existe um plano A, é porque existe um plano B e um C. Esta é uma pergunta tradicional quando os jornalistas querem saber quais são as outras intenções e como, na verdade, nós só estamos trabalhando com a hipótese de uma candidatura própria. O PSD se preparou, nos últimos dois anos, estruturando nos estados o partido com candidaturas a governador, com chapas com candidatos a deputado federal, estadual, senadores, era lógico, como resultado desse trabalho, que deveríamos ter um candidato a presidente e, o que tenho dito, é o melhor perfil para o Brasil nesse momento. Os ânimos vivem muitos acirrados, estamos há muitos anos vivendo uma guerra política no Brasil. Quem ganha as eleições quer acabar com seu adversário, quem perde as eleições torce para que o Brasil vá mal, quanto pior melhor. O empossado indo mal, ele pode voltar, e, na verdade, a democracia pressupõe justamente o contrário: ao fim das eleições, temos todos que dar as mãos para torcer e trabalhar por um Brasil melhor. Isso não significa que quem perdeu as eleições vai integrar a base do governo, mas vai fiscalizar, cabe ao perdedor — não é trabalhar contra o Brasil, mas sim fiscalizar quem ganhou, aplaudir os acertos, denunciar os erros, mostrar as diferenças. O Rodrigo Pacheco mostrou que tem essa vocação para pacificação, como bom menino que é, ele tem o perfil adequado para que a gente possa superar esse momento muito triste.

Ele já disse sim à sua proposta?

O Rodrigo é jovem, portanto, pode expressar esse sentimento que todos querem de renovação na política brasileira. Ele é um advogado muito bem sucedido, um dos principais advogados do país. Alguns anos atrás, ele resolveu deixar a advocacia e ingressar na vida pública, saindo candidato a deputado federal por Minas Gerais em uma eleição muito difícil e, na primeira tentativa, se elegeu, chegando à Câmara dos Deputados. Ele ocupou o segundo cargo na Câmara, um cargo dificílimo, que é a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, e foi muito bem. Foi tão bem ao longo dos seus quatro anos de mandato como deputado federal que teve a sua candidatura ao Senado lançada por Minas Gerais e se elegeu bem, ficando em primeiro lugar. Chegando ao Senado, se elege presidente da Casa ,presidente do Congresso Nacional. Portanto, hoje é um chefe de Poder, mostrando que tem talento para a política, tem vocação para vida pública, associada a uma boa imagem, a uma boa formação moral, uma boa conduta ética, boa formação profissional. Então, têm todos os predicados que um candidato deve ter, essa é a razão de o PSD estar abraçando a sua eventual candidatura e o convidando para que seja esse candidato.

Qual o prazo para ele confirmar?

Entendo que ainda é muito cedo para ele se manifestar, porque ele é presidente do Senado e tem compromisso de fazer a gestão do Senado. Essa deve ser a prioridade dele, sim. Existindo algum tempinho neste ano, muito possivelmente, ele terá condições de manifestar a sua posição. Não tenho dúvida nenhuma de que ele vai entender a importância da sua contribuição para o Brasil, emprestando seu nome para a candidatura que tem tudo para ser vitoriosa.

O senhor acha que a gestão da pandemia já tirou o presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, de um segundo turno?

Não vou dizer que é a questão da pandemia em si. Para ser lógico e coerente, se eu acredito que o Rodrigo Pacheco é o melhor candidato que o Brasil pode ter hoje para disputar as eleições, seria um grande presidente por conta do seu perfil de reunir o país, é porque eu acredito que, dos dois, pelo menos um estará fora do segundo turno. Acredito que tenha grandes chances de o presidente Bolsonaro não estar no segundo turno.

Tanto Lula quanto Bolsonaro criticaram a terceira via, o surgimento de um candidato de centro. O presidente Bolsonaro chegou a dizer que “o brasileiro quer algo que seja quente ou frio. Morno não dá”. Ele chegou a dizer que isso seria um candidato “vaselina”, chegou a usar essa expressão, aquele que não está nem do lado nem do outro. Lula disse que não acredita que a polarização já está posta. Como o senhor vê essas críticas?

Hoje, todos nós temos uma rede de comunicação, de relações muito amplas, os famosos grupos de WhatsApp e outras redes que existem. Posso dizer que, ontem, a manifestação tanto do presidente Lula quanto de Bolsonaro encheu a todos nós de muito entusiasmo, porque é evidente que qualquer analista mediano, quando vê esse menosprezo que ambos tiveram pela terceira via, no fundo, a tradução correta é, ao invés de menosprezo, é preocupação. Eles têm muita preocupação com a terceira via, há anos, e acho que eles têm toda a razão de ter preocupação, porque, efetivamente, o Brasil quer uma alternativa, quer fugir desse enfrentamento, dessa guerra política, dessa torcida da parte dos adversários para que o país vá mal e dessa posição de governo que quer amassar, quer enfrentar, quer aniquilar seus adversários. A preocupação deles faz sentido, porque a terceira via vai se fortalecer muito nesse processo eleitoral.

Se saírem muitos candidatos nessa terceira via, o que pode acontecer é que essa terceira via se pulverize tanto que não consiga um espaço para chegar no segundo turno. O senhor não tem essa preocupação?

Lá na frente, haverá uma convergência, mas uma convergência natural. Na política não há datas, mas, com certeza absoluta, vai acontecer essa convergência. A naturalidade na política é o melhor caminho, a candidatura de proveta, nascida em gabinete, nunca deu certo no Brasil. Tenho certeza de que a naturalidade levará todos nós a estarmos juntos.

O senhor vê o Democratas, de ACM Neto, apoiando Rodrigo Pacheco lá na frente?

A questão, posta de uma maneira muito respeitosa, não é em relação a partido. É que o PSD vai ter uma candidatura. Diante dessa certeza de candidatura, o que nos animou a fazer o convite ao Rodrigo foi porque ela cai muito bem na nossa rede de candidaturas locais. O Rodrigo Pacheco está muito integrado ao PSD, seria muito bem vindo, muito bem acolhido, uma candidatura fortíssima. Estas reflexões fazemos com total transparência, com muito respeito, porque a política, antes de mais nada, precisa ser conduzida com esse respeito.

Como o senhor vê a discussão do voto impresso no Congresso?

Sou radicalmente contra. Respeito as pessoas de boa-fé que defendem o voto impresso mas é importante que todos saibam que o voto impresso não é aquela cédula que volta, na verdade é a duplicidade na apuração, ou seja, uma apuração eletrônica e uma apuração humana. Essa apuração humana, quando tiver discordância, vai ser o caos, e a discordância sempre será fruto da apuração humana. Por exemplo, é só perguntar a qualquer caixa de banco se algum dia, ao final do expediente, quando ele foi fechar o caixa, se não deu discrepância entre o apurado manualmente e o eletrônico. Vira e mexe dá, porque é um recurso a mais que o caixa deu para uma pessoa, ou um a menos que ele deixou de receber, há essa discrepância. Acompanhei nesses 25 anos, parte desses anos como ministro da Ciência e Tecnologia, diversas auditorias realizadas pelas mais importantes empresas brasileiras e internacionais, que nunca testaram nenhuma vulnerabilidade. A urna é a prova de fraude, é importante que se diga, porque também existem as pessoas de má fé, que querem a duplicidade para que se crie um cenário de eleições fraudadas, e é muito fácil você promover a discrepância em alguma urna. Fraude tinha no passado, quando a apuração era manual, com cédulas de papel, que passavam de mão em mão, montinho de cédulas sendo trocados, eram fraudes e mais fraudes denunciadas, e todas comprovadas.

O presidente Bolsonaro disse que vai apresentar provas de que houve fraude nas eleições de 2014. Como o senhor vê essa posição do presidente? Ele pode estar planejando alguma coisa diferente mais à frente?

Eu duvido, é blefe do presidente. Qualquer um que aparecer mostrando que há fraude deve ser algum picareta. Eu acompanhei várias auditorias, as urnas são auditáveis e nunca foi comprovado e não será comprovada. Ele falou isso há dois dias, fez a mesma afirmação um mês atrás, há dois meses. Nunca apareceu e nem vai aparecer, porque a apuração é à prova de fraude, nunca foi comprovado, até o momento, e a tendência é que não seja daqui para frente, porque temos uma tecnologia aperfeiçoada, as auditorias estão muito mais bem realizadas, o sistema é admirado no mundo inteiro.

*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

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