Crise política

Ministro da Defesa pode ser convocado à Câmara para explicar declarações

Parlamentares e partidos também querem acionar o Supremo contra as declarações do general do Exército Walter Braga Neto contra a democracia. O militar teria ameaçado o Congresso Nacional afirmando que sem voto impresso não haveria eleições em 2022

Luiz Calcagno
postado em 22/07/2021 11:01 / atualizado em 22/07/2021 11:11
 (crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
(crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Deputados se manifestaram contra as ameaças à democracia feitas pelo o ministro da Defesa, o general do Exército Walter Braga Neto. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o militar fez uma advertência intimidatória ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por meio de um interlocutor, em particular, e afirmou que, sem o voto impresso, não haveria eleições no próximo ano. Há grande possibilidade de que Braga Neto seja convocado à Câmara para se explicar. A declaração está fora do que define a Constituição Federal sobre o papel das Forças Armadas, e a proposta de emenda à Constituição que debate a mudança no sistema eleitoral brasileiro só não perdeu no voto graças a uma manobra de governistas.

O ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (sem partido) cobrou que o alto comando das Forças Armadas venha a público desfazer a crise que provocou, e que acabou vazada em matéria do jornal. O pai de Maia, o político Cesar Maia, está entre os brasileiros que tiveram que fugir do país durante a ditadura militar. “O Brasil espera uma manifestação do ministro da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas sobre a grave reportagem de hoje. Nasci no Chile porque meu pai foi perseguido pela ditadura. Acompanhamos de perto o desenrolar do golpe do Pinochet, em 73. A história é implacável”, afirmou o deputado.

Maia publicou as declarações em suas redes sociais. E fez, ainda, uma segunda postagem. “E ela (a história) insiste em se repetir. Lá (no Chile), um dos epicentros da crise que levou ao golpe foi a mudança no comando do Exército. Por aqui, o presidente tirou um general legalista, Fernando Azevedo, e o substituiu por um general personalista, que faz tudo o que ele deseja”, criticou.

Por meio de nota, o líder da oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), classificou a denúncia das ameaças como “graves”. “É extremamente grave a denúncia de que o Ministro da Defesa teria ameaçado o Congresso Nacional. Não cabe ao Ministro da Defesa querer impor ao Parlamento o que deve aprovar, nem estabelecer condições para que as eleições aconteçam. O papel constitucional das Forças Armadas é garantir os poderes constitucionais, e não subordiná-los. Vou propor que a Câmara convoque o Ministro em Comissão-Geral para esclarecer os fatos”, afirmou.

Além da convocação à Câmara, os partidos de esquerda também estão preparando uma interpelação judicial junto ao Supremo Tribunal Federal, para que o general, que, na manhã desta quinta-feira (22/7), disse não ter feito a ameaça, reafirme a negativa em juízo, sob a pena de perjúrio caso fique comprovado o ataque frontal à democracia por parte do ministro da Defesa do Brasil.

A líder do PSol na Câmara, deputada Taliria Petroni (RJ), disse ao Correio que considerou a ameaça “inadmissível”. “É inadmissível a tentativa das Forças Armadas de incidirem no que será a derrota eleitoral de Bolsonaro em 2022. O povo brasileiro já tem demonstrado insatisfação profunda com o governo. E as urnas demonstrarão essa derrota. Não queremos um novo ciclo, não queremos rememorar 1964, e tem que haver um posicionamento contundente dos que defendem a democracia”, afirmou.

A deputada também destacou a possibilidade de convocação do ministro à Câmara. “Existe uma dimensão política que é partidos do centro, de setores de uma direita de campo democrático, partidos de oposição, de esquerda, têm que fazer um posicionamento. Convocar na Câmara o ministro da Defesa. Essa é uma movimentação possível. Um passo político para além da judicialização”, afirmou. “É um anúncio direto de golpe que, por um lado, tenta já anunciar que não aceitarão a derrota de Bolsonaro em 2022, e para outro, que não se escancare os crimes de corrupção possivelmente cometidos por integrantes e militares (na CPI da Covid)”, completou.

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