Democracia

Ex-ministro da Defesa Celso Amorim critica politização de militares

Titular da pasta durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) repudia, em entrevista ao Correio, nota em que o atual ministro da Defesa, general Braga Netto, defende discussão sobre o voto impresso

Jorge Vasconcellos
postado em 22/07/2021 22:05
 (crédito: Janine Moraes/CB/D.A Press - 14/7/14)
(crédito: Janine Moraes/CB/D.A Press - 14/7/14)

O ex-ministro da Defesa Celso Amorim criticou o avanço da politização das Forças Armadas. Em entrevista ao Correio, ele disse que seria "um absurdo" a confirmação de que o atual titular da pasta, general Braga Netto, enviou um recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), condicionando a realização das eleições de 2022 à aprovação do voto impresso pelo Congresso.

Segundo reportagem de O Estado de S. Paulo, Braga Netto enviou, em 8 de julho, um "duro recado" ao presidente da Câmara. Na ocasião, relata o jornal, o ministro estava acompanhado dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e pediu a um interlocutor "para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável". O nome do interlocutor não foi revelado.

Ao chegar hoje pela manhã ao Ministério da Defesa, Braga Netto foi indagado sobre a reportagem. Ele chamou de "mentira, invenção". Momentos depois, ainda no ministério, para a solenidade de lançamento da Antena Multi Satelital, com a presença de Bolsonaro. O general leu o texto de uma nota oficial que viria a ser publicada pela pasta na sequência.

No comunicado, Braga Netto defende a discussão sobre o voto impresso no Congresso, afirmando que "todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade" nas eleições. Ele também classifica a reportagem como "mais uma desinformação" e nega que utilize interlocutores para se comunicar com os presidentes dos Poderes. O Estado de S.Paulo mantém as informações publicadas.  

Celso Amorim considerou o episódio grave. "Isso (suposta ameaça às eleições) seria um absurdo, mas, aparentemente, ele desmentiu que isso tenha ocorrido. Claro que, mesmo assim, seria importante, digamos, apurar, alguém falar perante o Congresso Nacional sobre o que aconteceu realmente para que o povo brasileiro saiba claramente onde nós estamos. Mas, como ele desmentiu, eu prefiro ficar como desmentido dele", disse Celso Amorim, titular da Defesa durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Transparência

O diplomata também criticou a nota oficial em que Braga Netto contesta a reportagem do jornal paulista. No texto, o ministro da Defesa defende a discussão do voto impresso, em curso no Congresso, e diz que "todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade" nas eleições.

"Mesmo com o desmentido, ele fez uma referência positiva, de qualquer maneira, ao voto impresso, o que não é cabível. Ele é ministro da Defesa, não tem que cuidar disso, muito menos um general. Se fosse um político que estivesse no Ministério da Defesa, nós poderíamos até relevar um pouco. Mas ele é um general e fala em nome das Forças", afirmou Celso Amorim.

Questionado se o avanço da politização na cúpula militar tem relação com a possibilidade de vitória do ex-presidente Lula (PT) nas próximas eleições, o ex-ministro disse que não cabe às Forças Armadas cuidar da política, mas sim de proteger o país contra ameaças.

"Não é para você dar bola à posição das Forças Armadas. Eles não têm que ter opinião sobre isso (eleições). Quem tem que decidir é o povo brasileiro. Eles (militares) têm que obedecer à lei e à Constituição, e está acabado", afirmou Amorim.

O ex-ministro acrescentou que os militares têm papel fundamental na proteção e no desenvolvimento do país. "As Forças Armadas são importantíssimas. Os militares têm uma missão fundamental na defesa do país. Indiretamente eles também ajudam no desenvolvimento, sobretudo quando dirigem as aquisições para a indústria brasileira, ou para aquisições com transferência de tecnologia. É isso o que a gente quer. O resto não é com eles. O resto é defesa da Constituição, e não defesa de golpe", concluiu.

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