O presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, justificou a possível ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil da Presidência e o relacionamento cada vez mais estreito com o Centrão. Em entrevista à Rádio Arapuã, da Paraíba, ele comentou sobre os inquéritos que o parlamentar responde na Justiça.
Ciro é investigado em três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) — em dois, o Ministério Público Federal já ofereceu denúncia, mas ainda não foram aceitas pela Corte. As investigações correm no âmbito da Operação Lava-Jato e o parlamentar é acusado de receber e pagar propina.
Segundo Bolsonaro, se cortasse relações com deputados e senadores que respondem a inquéritos, “perderia metade do parlamento”. E usou um exemplo pessoal para sustentar o argumento.
“Se eu afastar do meu convívio parlamentares que são réus ou têm inquéritos, eu perco quase metade do parlamento. Quem colocou o Ciro aqui? Eu? Eu sou réu no STF, sabia disso? Aquele caso da Maria do Rosário (deputada federal pelo PT-RS). Então, não deveria estar aqui também. Acho que todos nós só somos culpados depois da sentença transitada em julgado. Então, se o Ciro, ou qualquer outro ministro meu for julgado e condenado, obviamente se afasta do governo. Mas, no momento, é o que tenho para trabalhar em Brasília”, disse.
Também durante a entrevista, Bolsonaro explicou que, caso não obtenha o apoio do Centrão, não conseguirá aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pretende enviar ao Congresso para reajuste do Bolsa Família. No último dia 23, em aceno ao próprio eleitorado, o presidente justificou que a aproximação com o bloco é necessária por conta da “governabilidade”. Destacou, ainda, que é “obrigado” a formar a coalizão, pois “com apenas 150 deputados, não iria a lugar nenhum”. Bolsonaro deve se reunir hoje com Ciro para acertar os últimos detalhes.
Sobre as promessas de campanha em 2018, de que não governaria com os partidos de centro, e pela aparente proximidade com a estratégia utilizada durante governos do PT em busca de apoio no Congresso, Bolsonaro disse que há uma “grande diferença”. “Eles, Lula e Dilma, distribuíram estatais para os partidos políticos. A Petrobras, os Correios, o BNDES, a Caixa Econômica, Banco do Brasil. Nada disso está nas mãos de políticos no meu governo. Então, há uma diferença enorme entre o que Lula e Dilma fizeram no passado e o que eu faço agora”.
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Mourão é como "cunhado"
Se havia alguma dúvida de que Jair Bolsonaro enxerga em Hamílton Mourão um problema, ontem ele deixou absolutamente claro o quanto ele o incomoda. À Rádio Arapuan, da Paraíba, o presidente da República comparou seu vice a um “cunhado” e que atrapalha em muitos momentos por conta de uma “independência muito grande”.
“O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado. Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado. Você não pode mandar o cunhado embora. Então, estamos com Mourão”, disse.
Bolsonaro deu a entender que teve de engolir o nome de Mourão na composição para a chapa que concorreu à Presidência, em 2018, devido à necessidade de concluir um acordo político.
“A escolha do meu vice foi muito em cima da hora. Assim como a composição da bancada, especial para deputado federal. O vice é uma pessoa importantíssima para agregar simpatias. Alguns falam que um bom vice ia ser de Minas Gerais, ou de um estado do Nordeste, ou uma mulher ou (alguém) de perfil mais agregador pelo Brasil ”, explicou.
Estremecimento
Desde o começo do ano, a relação entre Bolsonaro e Mourão está estremecida. O contato entre eles vinha se desgastando há algum tempo, mas começou a piorar quando, em janeiro, o vice indicou que o presidente faria uma reforma ministerial e que uma das trocas previstas era no Ministério das Relações Exteriores, com a substituição de Ernesto Araújo. Bolsonaro rebateu que o governo não precisava de “palpiteiros”.
A relação ficou ainda mais desgastada quando Ricardo Roesch Morato Filho, assessor de Mourão, estaria tentando marcar reuniões com lideranças políticas ante a possibilidade de o Congresso começar a analisar um pedido de impeachment contra Bolsonaro — o vice exonerou o auxiliar. E piorou no episódio da punição do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que participou de um ato político organizado pelo presidente.
Na semana passada, mais um desencontro entre os dois: Mourão disse que haverá eleições em 2022 porque o Brasil não é uma “república de bananas”. Bolsonaro tem atacado permanentemente as urnas eletrônicas, afirmando que são vulneráveis e chegou a dizer que sem o voto impresso não haveria o pleito. Porém, jamais apresentou prova de que o sistema eleitoral é violável.
Há alguns dias, rumores dão conta de que Mourão poderia compor uma chapa com o ex-ministro Sergio Moro para a corrida presidencial. (IS)