CASO COVAXIN

Miranda: delegado sabia das pressões

Correio Braziliense
postado em 28/07/2021 00:02
 (crédito: Pedro França)
(crédito: Pedro França)

O deputado Luis Miranda (DEM-DF) prestou depoimento, ontem, à Polícia Federal, em Brasília. O parlamentar foi ouvido no âmbito de um inquérito que investiga se o presidente Jair Bolsonaro cometeu o crime de prevaricação. A oitiva durou mais de quatro horas, e o congressista disse ter informado que um delegado da corporação é testemunha das pressões que o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, sofreu para aprovar a entrada da vacina indiana Covaxin no território nacional. Ele frisou não ter gravação do momento em que o chefe do Executivo foi informado do caso, mas não descarta que o material exista.

Durante o depoimento, Luis Miranda apresentou arquivos de conversas trocadas entre ele e o irmão, além de diálogos com outras pessoas. Bolsonaro teria sido informado da suposta fraude no contrato de aquisição da Covaxin em 20 de março deste ano, mas não teria levado a denúncia à frente e informado a Polícia Federal, para que fosse feita a investigação. Os irmãos Miranda dizem ter informado ao chefe do Planalto que existia pressões para aprovar a importação do imunizante.

Umas das ilegalidades seria a cobrança de propina, que teria envolvido empresários, políticos e militares. A CPI da Covid revelou novos fatos, como visitas de representantes da Precisa Medicamentos, que tentou vender a Covaxin ao governo, e de ofertas supostamente superfaturadas pelo imunizante, além de documentos com informações suspeitas. “Temos um delegado da Polícia Federal como testemunha de que meu irmão estava passando por isso. É uma testemunha importantíssima”, contou. “No dia 20, ele falou com esse delegado que estava sendo pressionado e precisava de ajuda. Inclusive, provavelmente, foi ele quem encaminhou ao Ministério Público, e a procuradora o chamou no dia 24 de março”, emendou, numa referência a Luciana Loureiro, da Procuradoria da República no Distrito Federal, primeira a quem Luis Ricardo relatou as suspeitas sobre o contrato.

O parlamentar ressaltou que foi ouvido na condição de testemunha e que pretende que o caso seja esclarecido. “Hoje (ontem), entreguei todos os documentos, todos os prints. Eu nunca deletei nenhum arquivo desde o momento que denunciamos este caso… Não é só um caso que levamos ao presidente exclusivamente. Existe a Polícia Federal envolvida no depoimento da CPI”, destacou.

Miranda detalhou sobre como Bolsonaro foi informado da suposta fraude. “Nós levamos ao presidente, dia 20 de março, todas as informações. Entregamos matérias, inclusive uma que tinha a foto do Ricardo Barros (deputado do PP-PR, líder do governo na Câmara)… Eu fiz uma timeline histórica sobre o caso. Inclusive, em um grupo com várias testemunhas, em que ele questiona o que está acontecendo”, relatou. “Meu irmão me mandou mensagens no privado, e eu pedi para ele conversar com um delegado da Polícia Federal. Ele disse que já tinha recebido ligação do dono da empresa, do diretor para resolver aquilo naquele dia.”

De acordo com o congressista, o delegado da PF deve ter levado o caso ao Ministério Público, pois, dias depois, uma procuradora chamou Luis Ricardo Miranda para depor. Ele negou que tenha em seu poder um áudio gravado no dia da reunião com Bolsonaro. “Eu jamais gravaria um presidente. Acho imoral no meio político gravar colega. Mas jamais vou dizer que não existe gravação. Até mesmo porque já vi algumas pessoas dizendo que a gravação tem tantos minutos. Agora, eu não tenho nenhum arquivo do tipo”, ressaltou. (RS)

PF vai investigar suspeita de propina
A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar a suspeita de pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina, que teria sido solicitado pelo então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. A denúncia foi feita pelo cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti. Ele disse à CPI da Covid que Dias cobrou a propina quando ele tentou vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, em 25 de fevereiro. O diretor foi exonerado assim que a denúncia foi feita. Também ontem, Dias entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender os efeitos da prisão em flagrante determinada pelo presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), em 7 de julho, quando o ex-servidor prestou depoimento à comissão. A defesa chamou a detenção de arbitrária e que se deu “sob alegação genérica de falso testemunho”, e que o habeas corpus obtido por Dias tem como objetivo “cessar os efeitos decorrentes da ilegal determinação de prisão em flagrante”.


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação