COMPARAÇÃO

"Deputados do Centrão recebem até 15 vezes mais que um deputado comum", diz Valente

A oposição tentou, mas não conseguiu derrubar as emendas do relator na votação do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022, ocorrida em julho

Luiz Calcagno
Jorge Vasconcellos
postado em 28/07/2021 06:00
Integrante do Centrão, Lira controla distribuição de recursos a deputados -  (crédito: pablo valadares)
Integrante do Centrão, Lira controla distribuição de recursos a deputados - (crédito: pablo valadares)

A chegada do senador Ciro Nogueira (PP-PI) ao comando da Casa Civil aumentou as preocupações dos oposicionistas com o suposto uso político dos recursos do Orçamento da União. Mais precisamente, as atenções estão voltadas para as chamadas “emendas do relator”, usadas desde o ano passado para turbinar indicações individuais de deputados e senadores.

Para 2021, os parlamentares têm direito a um valor fixo de R$ 16 milhões em emendas individuais no Orçamento. Com as emendas do relator, também chamadas de RP9, governistas conseguiram indicar o destino de mais de R$ 100 milhões.

Essa modalidade diferenciada de destinação de recursos orçamentários foi aprovada pelos congressistas em 2020. Nela, não há transparência sobre as indicações das verbas, e os acordos são firmados entre a cúpula do Congresso e o governo federal, privilegiando alguns parlamentares. Dessa forma, fica mais difícil fiscalizar se o dinheiro está sendo bem aplicado ou se houve barganha em troca de votos, por exemplo.

O senador Marcio Bittar (MDB-AC) é o relator do Orçamento de 2021, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem o controle dos recursos a serem distribuídos entre os deputados — R$ 11 bilhões em emendas RP9. Já os R$ 5,8 bilhões do Senado serão controlados por Ciro Nogueira.

A oposição tentou, mas não conseguiu derrubar as emendas do relator na votação do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022, ocorrida em julho. Em outra frente, o PSol deu entrada com uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o que chama de “orçamento secreto” do governo.

O deputado Ivan Valente (PSol-SP) teme que, com Ciro Nogueira na Casa Civil e Arthur Lira na presidência da Câmara, o Centrão, bloco partidário liderado pelos dois parlamentares, vai intensificar o uso político das verbas da União. “Isso é compra de votos, chama-se corrupção. Esse é o orçamento do Centrão. Se for ver, os deputados do Centrão recebem 10, 12, 15 vezes mais do que um deputado comum. É um escárnio, uma vergonha, porque não é constitucional, é ilegal”, disse o deputado, acrescentando que a ministra Rosa Weber, do STF, está prestes a se pronunciar sobre a ADPF apresentada pelo partido.

Já o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), que já foi vice-líder do governo, considera que Bolsonaro, na tentativa de salvar o mandato, entregou o Orçamento ao Centrão. “Eu acho que o Ciro vai comandar tudo isso. E o Centrão já tem esse controle há algum tempo. Bolsonaro está cometendo o mesmo erro que governos anteriores. Talvez, para evitar o impeachment. Mas eu acho que ele perdeu a grande oportunidade de fazer as reformas antes disso”, analisou.

Por sua vez, o economista Gil Castello Branco, fundador da Associação Contas Abertas, frisou que quanto mais Bolsonaro estiver fragilizado politicamente maior será o preço cobrado pelo Centrão. “O Centrão, como sempre, está se apossando da caneta e da chave do cofre. Está enfiando a faca e rodando. As emendas de relator, no Orçamento de 2021, somam R$ 16,9 bilhões. O valor é equivalente a três vezes o proposto pelos parlamentares para o Fundo Eleitoral, um outro absurdo”, disse o economista, referindo-se à decisão do Congresso que triplicou, para R$ 5,7 bilhões, os recursos do fundo que financia as eleições.

 

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