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Poderoso da República: Ciro manterá controle absoluto sobre o Orçamento

Cacique do Centrão é oficializado ministro-chefe da Casa Civil, o coração do governo, na qual terá autonomia na relação com o Congresso. Ao lado do presidente da Câmara, também líder do bloco parlamentar, ele manterá controle absoluto sobre o Orçamento

Luiz Calcagno
Jorge Vasconcellos
postado em 29/07/2021 06:00
Quarto titular da Casa Civil, Ciro Nogueira participou, ontem, de cerimônia com o presidente Jair Bolsonaro -  (crédito: Marcos Oliveira/Agencia Senado)
Quarto titular da Casa Civil, Ciro Nogueira participou, ontem, de cerimônia com o presidente Jair Bolsonaro - (crédito: Marcos Oliveira/Agencia Senado)

A nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) à chefia da Casa Civil foi formalizada, ontem, com a publicação no Diário Oficial da União (DOU). O ministro — líder do Centrão — vai substituir o general Luiz Eduardo Ramos, que passará ao comando da Secretaria-Geral da Presidência. As mudanças fazem parte de uma minirreforma ministerial que inclui a recriação do Ministério do Trabalho e Previdência. O objetivo é melhorar a articulação com o Congresso, sobretudo no Senado, onde as investigações da CPI da Covid têm causado desgastes ao Palácio do Planalto.

A Casa Civil é um dos ministérios mais importantes da Esplanada, encarregada de auxiliar nas relações com o Parlamento e de atuar na coordenação das ações do governo. O ocupante desse cargo compõe, ao lado do ministro da Economia, a Junta de Execução Orçamentária, responsável por definir questões do Orçamento, tais como créditos suplementares, bloqueios e desbloqueios de verbas.

A escolha de Ciro Nogueira para a função representa a entrega do “coração do governo” ao Centrão, bloco partidário que apoiou todos os presidentes, no período da redemocratização, em troca de cargos federais. Para políticos e analistas, trata-se de flagrante contradição de Bolsonaro, que havia prometido acabar com a “velha política” e já se referiu a esse mesmo grupo como “a nata do que há de pior no Brasil”. Enfrentando baixos índices de popularidade, pressionado pelas investigações da CPI da Covid e alvo de mais de 130 pedidos de impeachment na Câmara, o mandatário hoje depende das mesmas práticas que condenou para sobreviver no cargo.

Ciro Nogueira, que apoiou governos petistas e o do ex-presidente Michel Temer (MDB), aproximou-se de Bolsonaro em meados de 2020. Desde então, passou a fazer parte da comitiva do chefe do Planalto durante viagens ao Nordeste para inauguração de obras e se tornou um dos principais defensores do governo no Congresso.

“Bolsonaro disse que a Casa Civil, entregue a Ciro Nogueira, é a alma do governo. É a confissão de que o presidente está vendendo ambas, alma e governo, ao Centrão para tentar sobreviver. Bolsonaro está de joelhos, humilhado”, disse o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), pelas redes sociais.

Controle

Por sua vez, um deputado que já integrou a base governista criticou a atual prática do toma lá, dá cá e alertou que a destinação de boa parte dos recursos da União estará, a partir de agora, sob o comando dos dois principais líderes do Centrão — Nogueira e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “O Lira tem um controle absurdo do Orçamento e entrega para quem ele quer. Com a ida do Ciro (Nogueira) para o governo, eles viram, juntos, um primeiro-ministro. E o Bolsonaro virou a rainha da Inglaterra. Se jogou na mão deles para ver se consegue uma legenda para tentar a reeleição”, afirmou.

De acordo com a fonte, o chefe do Planalto aceitou a posição de submissão em relação aos dois poderosos aliados. “Ele (Bolsonaro) mesmo se colocou nos braços dos caras. Esse é o último suspiro. Provavelmente, por medo de um impeachment”, criticou. “Para eles, é conveniente. Na prática, Jair Bolsonaro não governa e, talvez, eles arrumem um partido para ele concorrer às eleições. Se ele rompe com Ciro e Lira, ele acaba.”

Nogueira é o quarto chefe da Casa Civil em dois anos e sete meses do atual governo. Porém, diferentemente dos que o antecederam no cargo, o novo ministro deve ter autonomia muito maior nas relações com o Congresso e sua permanência na pasta é vital para o futuro político de Bolsonaro. Uma eventual demissão dele poderia motivar o desembarque de todos os outros representantes do Centrão do governo — a secretária de Governo, Flávia Arruda (PL); o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD); e o titular da pasta da Cidadania, João Roma (Republicanos).

Na minirreforma ministerial de Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos, como novo secretário-geral da Presidência, substitui, no cargo, Onyx Lorenzoni (DEM), que, por sua vez, foi nomeado, também na edição de ontem do DOU, como ministro do Trabalho e Previdência. A recriação da pasta, que havia sido extinta no primeiro dia do atual governo, também foi oficializada ontem.

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